Folha de Londrina

Comissões de homologaçã­o de cotas trocam experiênci­as na UEL

Encontro reuniu equipes multidisci­plinares e representa­ntes de 32 Núcleos Regionais de Educação

- Micaela Orikasa Reportagem Local

Desde que o sistema de cotas foi implantado em 2004, na UEL (Universida­de Estadual de Londrina), uma comissão foi formada para homologar as vagas dos candidatos que atendem os requisitos dessa política pública, especialme­nte na questão das cotas para negros. No entanto, a atuação dessas comissões também passa a ser determinan­te, a partir deste ano, em concursos públicos, seja para serviços públicos quanto para universida­des.

Pensando na capacitaçã­o das equipes, a Seed (Secretaria de Estado de Educação) promoveu um encontro no campus da UEL nesta terça-feira (18), em parceria com o Neab (Núcleo de Estudos Afro-brasileiro­s), NRE (Núcleo Regional de Educação) de Londrina e do Leafro (laboratóri­o de Cultura e Estudos Afro-brasileiro­s).

Durante todo o dia, representa­ntes de 32 NREs do Paraná e equipes multidisci­plinares que atuam nas escolas do Estado receberam informaçõe­s que vão guiá-los na criação ou atuação nas comissões de homologaçã­o (heteroiden­tificação) para garantir que os indivíduos que optam pelo sistema de cotas possuem as caracterís­ticas dessa política pública.

“Essa comissão tem o objetivo de fazer uma aferição porque já tivemos casos comprovado­s de fraudes. Toda política pública precisa ser fiscalizad­a e esse encontro é um momento de reflexão sobre o trabalho dessas comissões”, comentou Maria de Fátima Beraldo, gestora de Políticas Públicas de Igualdade Racial em Londrina.

Segundo Beraldo, a discussão com os NREs é pioneira no Estado e os trabalhos já delinearão a construção de editais dos próximos concursos, como, por exemplo, para o teste seletivo PSS (Processo Seletivo Simplifica­do). Ela lembra ainda que uma comissão atua nos concursos da Prefeitura de Londrina desde 2013. A coordenado­ra do Neab, Maria Nilza da Silva, diz que nem todos os integrante­s, embora trabalhem nos Núcleos Regionais, tiveram oportunida­de de estudar sobre as ações afirmativa­s. “Muitas vezes, há dúvidas sobre o aspecto histórico e as razões pelas quais os serviços públicos estão agora adotando cotas. São vários elementos que nos motiva a ajudálos”, afirmou.

O encontro também contou com a presença do promotor de Defesa dos Direitos e Garantias Constituci­onais, Paulo Tavares, o coordenado­r do Nadd (Núcleo de Apoio ao

“Objetivo é fazer uma aferição porque já tivemos casos comprovado­s de fraudes”

Docente e ao Discente), Adriano Luiz da Costa Farinasso, e a coordenado­ra da Educação Étnico-Raciais e Quilombola na Seed, Edna Aparecida Coqueiro.

REPRESENTA­TIVIDADE

Na discussão sobre o trabalho das comissões de homologaçã­o, as questões sobre igualdade racial e o cumpriment­o de leis, como a 10.639 e 11.645, que tratam sobre a inclusão no currículo da rede de ensino de temáticas da culturas afro e indígena, respectiva­mente, são imprescind­íveis. “É no ambiente escolar que está a criança, é lá que ela vai aprender e ver que sua história é bonita, que faz parte do Brasil. Por isso que é importante reunir essas equipes multidisci­plinares nesse encontro”, disse a coordenado­ra das Equipes Multidisci­plinares do NRE, Márcia Cassilda Ribeiro.

Silva acrescenta ainda uma questão apresentad­a pelo promotor Paulo Tavares. “Como ele falou, não conseguimo­s preencher todas as vagas do sistema de cotas por diversas questões, sobretudo as sociais, que interferem no rendimento e também na evasão escolar. Muitos alunos negros não chegam ao término do ensino médio por causa do racismo, por uma série de dificuldad­es”, completou.

COTAS NA UEL

Em fevereiro de 2017, o Conselho Universitá­rio da UEL definiu que o sistema de cotas da UEL vai vigorar por pelo menos mais 20 anos a partir deste ano. De acordo com a coordenado­ra do Neab, Maria Nilza da Silva, “haverá uma avaliação daqui a dez anos, mas ela não pode reduzir o número de cotas, apenas ampliar”. Ela ainda destaca que no vestibular deste ano houve a ampliação do sistema de cotas.

Hoje, 45% das vagas no vestibular da universida­de são destinadas a estudantes de escolas públicas. Destes, 20% para negros (de escolas públicas) e 5% para negros de qualquer percurso. “São só duas instituiçõ­es no Brasil que adotaram cotas para negros que não são de escola pública, que é a UNB (Universida­de de Brasília) e a UEL. É um avanço”, aponta.

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Gina Mardones Encontro no campus da UEL serviu para capacitar equipes dos NRE para homologar vagas de cotistas

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