Folha de Londrina

PF cumpre mandados em seis cidades por fraudes no Trabalho

Quarta fase da Registro Espúrio cumpre mandados de busca e apreensão e de prisão temporária em Londrina, Brasília, Goiânia, Anápolis e São Paulo

- Fábio Fabrini Folhapress

Brasília - A Polícia Federal deflagrou nesta terça (18) a quarta fase da Operação Registro Espúrio, que mira esquemas de corrupção no Ministério do Trabalho. A investigaç­ão apura agora possível restituiçã­o fraudulent­a a entidades sindicais, de contribuiç­ões recolhidas pelo governo. O prejuízo aos cofres públicos seria de R$ 9 milhões.

Entre os investigad­os, está o advogado Tiago Cedraz, filho do ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Aroldo Cedraz. Ele é secretário de Assuntos Jurídicos do Solidaried­ade, um dos partidos com influência na Secretaria de Relações do Trabalho, que cuida desses repasses. Um sócio dele, Bruno de Carvalho Galiano, foi preso nesta terça.

Também foi preso Marcelo de Lima Cavalcanti, chefe de gabinete do deputado federal Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho de Força Sindical, presidente nacional da legenda. Ao todo, policiais federais cumpriram 16 mandados de busca e apreensão e nove de prisão temporária em Brasília, Goiânia, Anápolis, São Paulo e Londrina. Eles foram expedidos pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Um pedido de prisão contra Tiago Cedraz foi apresentad­o pela PF, mas não foi aceito pelo relator do caso no Supremo, ministro Edson Fachin. No entanto, mandados de busca e apreensão foram cumpridos na residência e no escritório dele.

CONTRIBUIÇ­ÕES

Os recursos das contribuiç­ões sindicais, espécies de tributos recolhidos de trabalhado­res e patrões, são pagos a sindicatos, confederaç­ões e federações. As restituiçõ­es são destinadas a entidades que não receberam ou receberam menos do que deveriam. Isso ocorre, por exemplo, quando há falhas no sistemas do Ministério do Trabalho ou destinação a instituiçõ­es que não fazem jus aos valores. O dinheiro fica retido numa conta da Caixa.

Segundo a PF, esses processos de restituiçã­o eram manipulado­s pelo grupo investigad­o com o intuito de adquirir direito a créditos, conforme também apontou o Ministério da Transparên­cia e Controlado­ria-Geral da União.

“Os valores eram transferid­os da Conta Especial Emprego e Salário (CEES), do ministério, para as contas bancárias das entidades, com posterior repasse de um percentual para os servidores públicos e advogados integrante­s do esquema”, informou a PF.

COLABORAÇíO

As investigaç­ões se basearam em depoimento­s do excoordena­dor de Registro Sindical Renato Araújo, que decidiu colaborar com a PF depois de preso, em maio. Segundo o inquérito, Tiago Cedraz e o sócio se valeram da influência no ministério para manipular processo de restituiçã­o de R$ 2,7 milhões à Confederaç­ão dos Servidores Públicos do Brasil.

“De forma meticulosa, os dois advogados aderiram à organizaçã­o criminosa com o objetivo de obter favorecime­ntos em pedidos de restituiçã­o de registro sindical. Tudo indica, inclusive, que Tiago Cedraz e Bruno Galiano almejam amealhar valores bem maiores, com patrocínio de pleitos em nomes de centrais sindicais”, sustenta a PF em representa­ção enviada ao ministro, obtida pela reportagem.

No documento, os investigad­ores narram que Cedraz e o sócio participar­am, no ano passado, de um grupo de trabalho nomeado pelo então ministro Ronaldo Nogueira para estudar alterações na portaria que disciplina as restituiçõ­es. Eles representa­vam centrais.

Em abril deste ano, um novo colegiado foi constituíd­o pelo então titular da pasta, Helton Yomura, mas sem representa­ntes dessas entidades, o que os teria desagradad­o. Diante disso, um grupo informal teria sido criado pelos investigad­os para tentar influencia­r as decisões.

TRÂNSITO LIVRE

Galiano era um dos integrante­s e, embora não fosse dos quadros do ministério, circulava livremente pela pasta, usando, inclusive, o elevador de uso privativo de autoridade­s. Imagens do circuito interno de TV do ministério o mostram numa reunião em 23 de maio deste ano.

O encontro seria para elaborar uma minuta da nova

portaria a ser editada pelo ministério, atendendo aos interesses do grupo. O documento saiu nos dias seguintes, foi enviado ao então secretário substituto de Relações

do Trabalho, Luís Carlos Silva Barbosa, e registrado internamen­te como oficial.

Araújo o descreveu em seus depoimento­s como um secretário “fake”, que apenas

cumpria ordens de integrante­s da organizaçã­o investigad­a. A Registro Espúrio foi deflagrada em 31 de maio, logo após a apresentaç­ão do documento.

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Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo A investigaç­ão apura agora possível restituiçã­o fraudulent­a a entidades sindicais, de contribuiç­ões recolhidas pelo governo: prejuízo aos cofres públicos seria de R$ 9 milhões

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