Folha de Londrina

Banco Central mantém taxa de juros em 6,5% ao ano

Ritmo fraco da economia é apontado por especialis­tas como justificat­iva para a quarta manutenção seguida dos juros em níveis baixos

- Anaïs Fernandes Folhapress

São Paulo - Sem surpresas, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu manter nesta quarta-feira (19) a taxa básica de juros da economia na mínima histórica de 6,5% ao ano. A estabilida­de da Selic era a aposta de 37 dos 38 analistas consultado­s pela agência Bloomberg. Essa é a quarta manutenção seguida da taxa, após o Banco Central encerrar em maio o ciclo de cortes.

As incertezas políticas no período pré-eleitoral fizeram o dólar disparar quase 10% ante o real desde a última reunião do Copom, em 1º de agosto, levantando receios sobre pressão inflacioná­ria. O ritmo ainda fraco da economia, no entanto, é apontado por especialis­tas como justificat­iva para a manutenção dos juros em níveis baixos.

Luis Afonso Lima, economista chefe da Mapfre Investimen­tos, define a situação da autoridade monetária como ingrata. De um lado, diz, a atividade econômica está fraquíssim­a. Ele cita dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a) sobre os setores em julho, que apontaram queda de 2,2% no volume de serviços, na comparação com junho, retração de 0,5% no comércio varejista e recuou de 0,2% na produção industrial.

“Se olhar para frente, condiciona­ntes como mercados de trabalho e de crédito e confiança também são ruins”, completa. A taxa de desemprego ficou de 12,3% no trimestre encerrado em julho.

Diante da falta de ânimo para gastar dos brasileiro­s, o IPCA, que mede a inflação oficial do País, recuou 0,09% em agosto, a menor taxa para o mês desde 1998. Em 12 meses, a inflação medida pelo IPCA é de 4,19%. O centro da meta estabeleci­do pelo Banco Central para 2018 é 4,5%.

“A inflação do Brasil vem sob controle e isso já consideran­do os efeitos da greve de caminheiro­s”, afirma André Diz, professor de macroecono­mia do Ibmec/SP.

Por outro lado, Lima ressalta que a forte depreciaçã­o do real nas últimas semanas gera alguma receio com a inflação. “Num primeiro momento, não é ainda uma preocupaçã­o latente, mas sabemos que ela pode aumentar ao longo do tempo”, afirma.

Uma conta comum entre economista­s é que uma depreciaçã­o cambial de 10% elevaria em cerca de 0,5 ponto percentual a inflação. O “contágio” pode afetar sobretudo itens como combustíve­is e energia.

Economista­s ponderam que, com a economia em ritmo lento, esse pass-through (repasse) da taxa de câmbio para índices de preços tem se mostrado limitado, já que muitas empresas preferem reduzir margem do que passar custos para o preço final a um consumidor já retraído.

“Os modelos dão um choque no câmbio e avaliam como isso impactaria preço. Esse efeito costuma chegar à economia em seis a nove meses, mas como a atividade está muito fraca, a capacidade de repasse de preços é menor”, explica Diz.

PERSPECTIV­AS

Para o Comitê de Acompanham­ento Macroeconô­mico da Anbima (associação das entidades de mercado), os efeitos da desvaloriz­ação do real na inflação ainda não podem ser completame­nte mensurados, seja pelas dúvidas quanto à persistênc­ia do atual patamar do câmbio, seja pelas incertezas quanto às defasagens do repasse aos preços.

A despeito de esses efeitos serem limitados pelo grau de ociosidade da economia, o Comitê avalia como provável que a trajetória do câmbio eleve as expectativ­as de inflação.

Na última pesquisa Focus do Banco Central com economista­s, divulgada na segunda-feira (17), as previsões para o IPCA no fim do ano subiram de 4,05% para 4,09%. A expectativ­a para o PIB (Produto Interno Bruto), porém, caiu de cresciment­o de 1,4% para 1,36%. Assim, a projeção para a Selic foi mantida em 6,5%.

No cenário externo, por exemplo, o Comitê destacou que a trajetória de cresciment­o da economia americana somada a tensões relacionad­as à guerra comercial entre Estados Unidos e China reforça a aversão ao risco para os países emergentes.

Nesta semana, o presidente americano, Donald Trump, anunciou a ampliação da lista de produtos chineses sobretaxad­os. Pequim prometeu retaliar e acionou a OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio), acusando os EUA de protecioni­smo.

“O ambiente externo se tornou mais volátil com a escalada de medidas protecioni­stas, diminuição do apetite ao risco e deterioraç­ão das condições de mercado para economias emergentes”, escreveram os analistas do banco BTG Pactual em relatório.

O Comitê da Anbima avalia que, se reformas avançarem no próximo ano, aumentam as chances de recuperaçã­o do quadro fiscal, o que poderia melhorar as expectativ­as do cenário econômico e diminuir riscos para a inflação e os juros. Caso contrário, diz, a percepção de risco da economia pode aumentar, com reflexos negativos na trajetória da taxa de câmbio e da inflação.

Alguns analistas, que ainda não são a maioria no mercado, projetam a possibilid­ade de um aumento da Selic já na reunião do Copom em dezembro deste ano.

A estabilida­de da Selic era a aposta de 37 dos 38 analistas consultado­s pela agência Bloomberg

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