Comédia veloz e furiosa
‘A Festa’, em cartaz em Londrina, é uma sátira impiedosa sobre as democracias liberais
Uma festa. Curta e muito grossa, apesar de britânica em sua essência. Impossível ficar indiferente diante de apenas hora e dez minutos de filme - sim, porque entre outras qualidades, “A Festa” tem ainda a de ser uma obra invulgarmente curta, rodada em tempo real e em magnífico preto e branco pelos olhos do fotógrafo russo Alexei Rodionov. Quem assina esta pérola que está a partir desta quinta-feira (20) no Cine Com-Tour/UEL é a inglesa Sally Potter. É ela, diretora da ótima adaptação de “Orlando” (1992), quem traz agora esta feroz e abusada e muito negra comédia sobre (entre outras coisas) a elite inglesa progressista e bem-pensante.
Reunir um punhado de personagens em um único espaço físico e introduzir o conflito mediante revelações e confissões sempre foi premissa muito utilizada pelo cinema como ferramenta de dramaturgia, neste caso como herança direta do teatro. Aqui, a coisa funciona mais e melhor porque limitação espacial e duelos verbais são organicamente viscerais sob uma direção precisa que sabe ainda como orquestrar cortes e elipses exigidos pela linguagem cinematográfica. Em “A Festa”, aquilo que era para ser a alegre celebração, por um pequeno número de pessoas, da conquista política de uma delas - a nomeação de Janet/Kristin ScottThomas como ministra da saúde - transforma-se em guerra civil entre sete amigos, num pandemônio de revelações chocantes, numa micro hecatombe que entrega segredos, revela hipocrisias e não deixa pedra sobre pedra nas relações íntimas, nos laços de amizade e afetos antigos e recentes.
Em exatos 71 minutos, sem