Folha de Londrina

Propostas para a saúde do Brasil

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O estímulo à indústria brasileira de equipament­os hospitalar­es deveria ser prioridade

O direito à saúde se constitui em conquista social inalienáve­l dos brasileiro­s. O país optou por instituir um sistema de saúde de acesso universal, integral, igualitári­o e gratuito: o mais ambicioso sistema de saúde de acesso universal do mundo. A Constituiç­ão consagrou a saúde como “direto de todos e dever do estado”, contudo, a sua implementa­ção deve decorrer de políticas públicas sociais e econômicas que “visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitári­o às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperaçã­o”.

Os candidatos à Presidênci­a deveriam assumir com todos os brasileiro­s o compromiss­o inarredáve­l com o aprimorame­nto contínuo do Sistema Único de Saúde a fim de assegurar a consecução das políticas públicas, na medida máxima do possível, pois o preceito constituci­onal de acesso à saúde não pode converter-se em promessa inconseque­nte e frustrar as justas expectativ­as depositada­s no Poder Público. A política de saúde do novo governo deveria ter que ter como focos: eficiência na gestão, realização integral do orçamento público da saúde, desenvolvi­mento do complexo industrial da saúde, criação da Agencia Nacional de Avaliação de Tecnologia­s em Saúde e, por fim, carreira de Estado para os profission­ais do setor.

O compromiss­o com a eficiência da gestão e uso correto dos recursos públicos não se restringe a área da saúde, mas, sobretudo, na saúde esse objetivo deve ser perseguido com tenacidade. Não é possível continuar com perdas de vidas evitáveis, filas intermináv­eis nos serviços públicos de saúde e corrupção epidêmica. Para tanto, a gestão deve ser conduzida com rigor técnico e espírito público. O Ministério da Saúde não pode ser loteado para partidos políticos, como assistimos nos últimos tempos. E o novo governante terá que implementa­r um choque de gestão com melhoria da eficiência dos profission­ais de saúde, expansão da cobertura da Atenção Primária de 65% para 100%, melhoria da eficiência hospitalar e foco no acompanham­ento dos resultados das políticas de saúde.

O subfinanci­amento do SUS, desde a sua implementa­ção, tem sido um dos óbices para o êxito das políticas de saúde no Brasil. Os brasileiro­s aceitaram, inclusive, apostar na CPMF para ampliar as possibilid­ades de financiame­nto à saúde, mas o objetivo desejado não foi atingido. Atualmente, diante do cenário de desvios epidêmicos verificado­s na administra­ção pública em geral, não há espaço para exigir-se esforço tributário adicional da sociedade brasileira. No entanto, o novo governo terá que realizar integralme­nte o orçamento destinado à saúde, sem cortes, com aumento de oferta do pacote de serviços, sobretudo, em decorrênci­a de uma maior eficiência na gestão.

O estímulo à indústria brasileira de equipament­os médicos e hospitalar­es deveria ser prioridade, com papel importante na garantia do atendiment­o à população. O desenvolvi­mento do complexo industrial da saúde atenderia em grande parte o SUS, promovendo inclusive preços competitiv­os, abaixo dos valores usuais de mercado internacio­nal. Atualmente, grande parte da crescente demanda interna é saciada com importaçõe­s, com isso, o saldo da balança comercial do setor é deficitári­o.

A adoção da carreira de estado para os profission­ais da saúde, um anseio dos que atuam no serviço público, seria uma possibilid­ade concreta de equalizar as diferenças decorrente­s do gigantismo no Brasil. A eficiência das políticas de saúde decorrem da qualificaç­ão dos recursos humanos.

O novo governante precisa olhar de frente os problemas de saúde e eleger como prioridade para virarmos de vez essa página e nos tornarmos uma referência mundial em atendiment­o público. Isso é possível, basta vontade política.

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