Avenida Paraná: Reencontro com o Doutor Sorriso
Uma das passagens mais bonitas das Confissões é aquela em que Santo Agostinho descreve o “palácio de memória”, onde moram incalculáveis tesouros do ser humano. Em abril de 2017, passeando pela casa das recordações familiares, tive a alegria de resgatar uma figura que marcou minha infância: o Dr. Massaru Shikishima, dentista de nossa família. Lembrei-me do seu consultório na Rua Augusta, em São Paulo; das pescarias que fazíamos em saudosos finais de semana; e, principalmente, do seu permanente sorriso, que irradiava simpatia e generosidade.
Tentei fazer contato com Dr. Massaru na época, mas não consegui. Mas eis que recebo, por intermédio do jornal, uma carta enviada pelo querido amigo, por quem tenho o respeito que se deve a um parente mais velho.
Por um desses acasos do destino, que de acaso nada têm, uma cliente e amiga do Dr. Massaru, Maria Lúcia José, residente na Vila Carrão, em São Paulo, leu há alguns meses a crônica “Doutor Sorriso” (publicada pela Folha em 11 de abril de 2017) e enviou-a ao veterano e conceituado dentista.
Reproduzo aqui algumas palavras do Dr. Massaru, as quais li com grande emoção:
“Meu caro amigo e profissional
Paulo Briguet Lourenço,
Saudoso e muito emocionado com suas lembranças carinhosas, de todo coração as agradeço muito.
Lembro-me bem da nossa convivência daquela época, inclusive da relação de trabalho com seu pai e de nossas pescarias. Bons tempos aqueles.
Continuo trabalhando às segundas, terças e quartas-feiras, no período da tarde, por duas ou três horas, pois me pesa a idade avançada. Não tenho nada para parar: seis meses, um ano ou mais, como disse o ilustre cirurgião plástico Dr. Ivo Pitanguy, quando um jornalista o entrevistou, já bastante idoso.
Deus tem sido generoso comigo e, sempre que possível, continuo sorrindo. Lembro-me de uma das mensagens que enviava aos meus clientes no Natal, em que dizia para deixar melhor cada lugar que encontramos, seja com uma flor ou mesmo com um sorriso.
O que nos alegra sempre, a mim e a toda a família, é a netinha Gabriela, filha do Milton e da Regina Tié, de 8 aninhos.
Recomenda-me a seus queridos pais e diz da nossa saudade. A você, mais uma vez, muito grato pela carinhosa lembrança e amizade.
Raramente vou até Cornélio Procópio para visitar as irmãs da minha esposa Luzia, mas quando for procurarei encontrá-lo para um afetuoso abraço.
Sem o esforço da alegria é impossível a alegria do encontro.
Abraços com muito carinho, Massaru Shikishima.”
Lá do Céu, Dr. Sorriso, meu pai e minha mãe devem estar chorando de alegria...
A alegria de receber a carta de um velho amigo e herói da minha infância: Dr. Massaru Shikishima