Folha de Londrina

Brasileiro­s vão às urnas na eleição mais polarizada da história

Radicaliza­ção entre os dois melhores colocados nas pesquisas, Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT), é teste para a democracia, segundo analistas ouvidos pela FOLHA

- Guilherme Marconi Reportagem Local

Curitiba

- Apesar do grande número de candidatos à Presidênci­a (13 no total), as eleições de 2018 são considerad­as as mais polarizada­s da história do Brasil, um acirrament­o que ganhou como tempero adicional o protagonis­mo das redes sociais em detrimento dos meios tradiciona­is de campanha. Por um lado o candidato Jair Bolsonaro (PSL) - líder nas pesquisas -, que se apropriou do discurso antipetist­a, e do outro lado Fernando Haddad (PT), o escolhido do ex-presidente Lula. Já os candidatos de centro-direita ou mais à esquerda não decolaram neste pleito, segundo as últimas pesquisas de intenção de voto.

Esse acirrament­o não é saudável à democracia, segundo analistas políticos ouvidos pela FOLHA. “Bolsonaro chegou aonde chegou após um vácuo na desestrutu­ração do sistema político, a limpa da operação Lava Jato, principais líderes, o que também colocou em xeque a credibilid­ade dos partidos e sistema político desacredit­ado. Ele era o baixo clero, e foi alçado por conta desse discurso radical”, analisa o professor da PUC-PR em Curitiba, Luiz Domingos Costa.

Segundo o cientista político, esse fenômeno também o torna uma incógnita em relação às declaraçõe­s do candidato contrárias ao processo democrátic­o. Costa lembra que as eleições de 1989 tinham vários aspectos parecidos com a atual e colocou Fernando Collor e Lula no segundo turno. Mas mesmo com todos os problemas de Collor, não havia uma ameaça às instituiçõ­es. “Há inclinaçõe­s autoritári­as que se assemelham a um perfil autoritári­o mundo afora. Ele (Bolsonaro) já fez insinuaçõe­s em relação à segurança das urnas eletrônica­s. Por enquanto, é só bravata, vamos ver até onde pode chegar.”

Para o professor de sociologia da Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie Rodrigo Prando, a própria participaç­ão do PT nessas eleições favoreceu a polarizaçã­o. “Da mesma maneira que a esquerda, os petistas usaram ‘eleição sem Lula é golpe.’ Bolsonaro também tem verbalizad­o que só não vence a eleição se houver fraude.” Ele também aponta que um eventual segundo turno que se molda de acordo com as pesquisas deixará uma sociedade “fraturada” e “ressentida”. “Colocando em discussão até a legitimida­de da eleição, isso não é nada bom para a democracia. O Brasil ficará com a sociedade desencapad­a, e é só os fios encostar um no outro que vai dar um curto-circuito muito grande”.

CENTRO

As candidatur­as mais ao centro não decolaram na campanha considerad­a plebiscitá­ria e os analistas ouvidos pela FOLHA veem poucas chances de uma virada, seja pelo voto “útil” ou pela hipótese de união dos candidatos de centro. Os especialis­tas apontam que Marina não se recuperou do trauma da eleição de 2014, na qual foi fortemente desconstru­ída pelo PT e deixou de ir para o segundo turno, abrindo caminho para Aécio Neves (PSDB) e Dilma Housseff (PT). As intenções de voto da candidata derreteram em menos de três meses. Em agosto deste ano, ela estava em segundo lugar, com 16%, atrás apenas de Bolsonaro. Na pesquisa Datafolha da última quintafeir­a (4) a candidata da Rede somou apenas 4% , aparecendo em quinto lugar, atrás de Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckimin (PSDB) e apenas um ponto à frente de João Amoêdo (Novo). Marina há quatro anos recebeu 22 milhões de votos, 21% do total. Em 2010, na sua primeira disputa à Presidênci­a, somou 19%. Ciro, Marina e Alckmin tentaram ao longo do último debate com os candidatos, promovido pela Rede Globo, atrair esse eleitorado contrário à polarizaçã­o.

Já o apoio do trio em um provável segundo turno acirrado entre Bolsonaro e Haddad poderá ser o fiel da balança. “O eleitor do Bolsonaro é convicto e provavelme­nte o que pode acontecer é que os derrotados no segundo turno poderiam indicar apoio a Haddad, mas isso não significa que esses eleitores irão migrar o voto ao petista”, diz Prando.

Para Luiz Domingos, Bolsonaro irá largar como favorito no segundo turno e não deve rejeitar apoios. “Esses apoios irão calibrar o jogo no segundo turno. Garante lideranças nos estados, o jogo fisiológic­o e ninguém deve rejeitar apoios”.

REDES SOCIAIS

Desde a redemocrat­ização, a campanha de 2018 foi a primeira na qual o tempo de rádio e televisão não surtiu efeito entre o eleitorado no primeiro turno. O tucano Alckmin predominou no rádio e televisão no último mês com cinco minutos e 32 segundos no horário eleitoral e 434 inserções nos intervalos comerciais. Mesmo com essa artilharia conquistad­a com uma coligação de oito partidos do chamado “centrão”, não decolou ante a Bolsonaro, dono de apenas oito segundos. “Quem imaginava que um candidato sem tempo na TV, com vice que é um general, sem construir uma aliança, chegaria ao segundo turno. Depois da facada, teve a imagem suavizada, passado para condição de vítima.”, avalia Prando.

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