Brasileiros vão às urnas na eleição mais polarizada da história
Radicalização entre os dois melhores colocados nas pesquisas, Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT), é teste para a democracia, segundo analistas ouvidos pela FOLHA
Curitiba
- Apesar do grande número de candidatos à Presidência (13 no total), as eleições de 2018 são consideradas as mais polarizadas da história do Brasil, um acirramento que ganhou como tempero adicional o protagonismo das redes sociais em detrimento dos meios tradicionais de campanha. Por um lado o candidato Jair Bolsonaro (PSL) - líder nas pesquisas -, que se apropriou do discurso antipetista, e do outro lado Fernando Haddad (PT), o escolhido do ex-presidente Lula. Já os candidatos de centro-direita ou mais à esquerda não decolaram neste pleito, segundo as últimas pesquisas de intenção de voto.
Esse acirramento não é saudável à democracia, segundo analistas políticos ouvidos pela FOLHA. “Bolsonaro chegou aonde chegou após um vácuo na desestruturação do sistema político, a limpa da operação Lava Jato, principais líderes, o que também colocou em xeque a credibilidade dos partidos e sistema político desacreditado. Ele era o baixo clero, e foi alçado por conta desse discurso radical”, analisa o professor da PUC-PR em Curitiba, Luiz Domingos Costa.
Segundo o cientista político, esse fenômeno também o torna uma incógnita em relação às declarações do candidato contrárias ao processo democrático. Costa lembra que as eleições de 1989 tinham vários aspectos parecidos com a atual e colocou Fernando Collor e Lula no segundo turno. Mas mesmo com todos os problemas de Collor, não havia uma ameaça às instituições. “Há inclinações autoritárias que se assemelham a um perfil autoritário mundo afora. Ele (Bolsonaro) já fez insinuações em relação à segurança das urnas eletrônicas. Por enquanto, é só bravata, vamos ver até onde pode chegar.”
Para o professor de sociologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando, a própria participação do PT nessas eleições favoreceu a polarização. “Da mesma maneira que a esquerda, os petistas usaram ‘eleição sem Lula é golpe.’ Bolsonaro também tem verbalizado que só não vence a eleição se houver fraude.” Ele também aponta que um eventual segundo turno que se molda de acordo com as pesquisas deixará uma sociedade “fraturada” e “ressentida”. “Colocando em discussão até a legitimidade da eleição, isso não é nada bom para a democracia. O Brasil ficará com a sociedade desencapada, e é só os fios encostar um no outro que vai dar um curto-circuito muito grande”.
CENTRO
As candidaturas mais ao centro não decolaram na campanha considerada plebiscitária e os analistas ouvidos pela FOLHA veem poucas chances de uma virada, seja pelo voto “útil” ou pela hipótese de união dos candidatos de centro. Os especialistas apontam que Marina não se recuperou do trauma da eleição de 2014, na qual foi fortemente desconstruída pelo PT e deixou de ir para o segundo turno, abrindo caminho para Aécio Neves (PSDB) e Dilma Housseff (PT). As intenções de voto da candidata derreteram em menos de três meses. Em agosto deste ano, ela estava em segundo lugar, com 16%, atrás apenas de Bolsonaro. Na pesquisa Datafolha da última quintafeira (4) a candidata da Rede somou apenas 4% , aparecendo em quinto lugar, atrás de Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckimin (PSDB) e apenas um ponto à frente de João Amoêdo (Novo). Marina há quatro anos recebeu 22 milhões de votos, 21% do total. Em 2010, na sua primeira disputa à Presidência, somou 19%. Ciro, Marina e Alckmin tentaram ao longo do último debate com os candidatos, promovido pela Rede Globo, atrair esse eleitorado contrário à polarização.
Já o apoio do trio em um provável segundo turno acirrado entre Bolsonaro e Haddad poderá ser o fiel da balança. “O eleitor do Bolsonaro é convicto e provavelmente o que pode acontecer é que os derrotados no segundo turno poderiam indicar apoio a Haddad, mas isso não significa que esses eleitores irão migrar o voto ao petista”, diz Prando.
Para Luiz Domingos, Bolsonaro irá largar como favorito no segundo turno e não deve rejeitar apoios. “Esses apoios irão calibrar o jogo no segundo turno. Garante lideranças nos estados, o jogo fisiológico e ninguém deve rejeitar apoios”.
REDES SOCIAIS
Desde a redemocratização, a campanha de 2018 foi a primeira na qual o tempo de rádio e televisão não surtiu efeito entre o eleitorado no primeiro turno. O tucano Alckmin predominou no rádio e televisão no último mês com cinco minutos e 32 segundos no horário eleitoral e 434 inserções nos intervalos comerciais. Mesmo com essa artilharia conquistada com uma coligação de oito partidos do chamado “centrão”, não decolou ante a Bolsonaro, dono de apenas oito segundos. “Quem imaginava que um candidato sem tempo na TV, com vice que é um general, sem construir uma aliança, chegaria ao segundo turno. Depois da facada, teve a imagem suavizada, passado para condição de vítima.”, avalia Prando.