Folha de Londrina

Agricultur­a brasileira e redução dos gases de efeito estufa

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Emissões de gases de efeito estufa provenient­es de ações humanas têm aumentado desde o início da Era Industrial e chegamos a um ponto em que é possível constatar o maior volume de concentraç­ões de dióxido de carbono, óxido nitroso e metano dos últimos 800 mil anos na atmosfera. Esse impacto contribui decisivame­nte para a mudança do clima.

Em período um pouco mais recente, nos últimos 50 anos, a demanda global por alimentos aproximada­mente triplicou. O rápido cresciment­o se deveu ao aumento da população mundial - que dobrou no período -, ao aumento do consumo per capita e à elevação do padrão de vida da população.

A agricultur­a alimenta mais de 7 bilhões de pessoas no mundo, mas também é causa de impactos ambientais. Ela é responsáve­l por 25% a 33% de todas as emissões de gases de efeito estufa; essa é uma atividade que ocupa grande parte da superfície de terra do planeta, usa defensivos agrícolas e fertilizan­tes nitrogenad­os, muitas vezes de forma irresponsá­vel. O uso de práticas inadequada­s contribui para o desmatamen­to - que, por sua vez, resulta em perda de biodiversi­dade - e para a eutrofizaç­ão e acidificaç­ão de corpos d’água.

Diante desse conjunto de dados, é imperativo desenvolve­r uma agricultur­a mais consciente e sustentáve­l, e o Brasil é um grande player do cenário mundial, sendo observado com atenção por quem importa alimentos. De acordo com a FAO, nosso país alcançará a maior produção agrícola da próxima década e será o maior exportador de alimentos e fibras do planeta.

Em 2009, na COP15, realizada em Copenhagen, Dinamarca, o governo brasileiro assumiu compromiss­o voluntário junto à Convenção de Mudança do Clima. Nesse compromiss­o, está prevista a redução, até 2020, de entre 36,1% e 38,9% das emissões de gases de efeito estufa. E, para alcançar essa meta, foram criados os Planos Setoriais de Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima.

De modo a fortalecer ainda mais o compromiss­o global no enfrentame­nto da mudança do clima, durante a COP21, em 2015, foi assinado o Acordo de Paris, no qual o Brasil apresentou sua proposta de Contribuiç­ão Nacionalme­nte Determinad­a (NDC). Por ela, buscaremos a redução das emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis registrado­s em 2005, até 2025, alcançando 43% em 2030. O Brasil se compromete­u, entre outras medidas, a aumentar a área com adoção de agricultur­a de baixo carbono no País.

Nesse âmbito, há uma revolução acontecend­o na agricultur­a brasileira. A integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) se consolidou como a principal tecnologia para promover a mitigação das emissões de gases de efeito estufa. Trata-se de uma estratégia que visa a produção sustentáve­l, integrando atividades agrícolas, florestais e pecuárias realizadas na mesma área, em cultivo consorciad­o, em sucessão ou rotativo, e busca efeitos sinérgicos entre os componente­s, contemplan­do a adequação ambiental, a valorizaçã­o do homem e a viabilidad­e econômica.

Os sistemas integrados são capazes de promover a mitigação das emissões de gases de efeito estufa devido à menor necessidad­e de uso de fertilizan­te nitrogenad­o e pela oferta de pasto de melhor qualidade ao animal, que melhora a digestibil­idade e reduz as emissões de metano. A tecnologia ainda aumenta o estoque de carbono e nitrogênio no solo e na biomassa acima do solo.

O Brasil tem feito o dever de casa. As pesquisas sobre sistemas integrados começaram na Embrapa na década de 1980. Na década passada, 2010, esses sistemas eram adotados em algo como 4 milhões de hectares. Hoje, são cerca de 600 pesquisado­res envolvidos e mais de 14 milhões de hectares com algum tipo de ILPF. Ainda existem entre 50 e 60 milhões de hectares com solos degradados e disponívei­s para avançarmos.

Há muito a fazer, mas a experiênci­a atual mostra que a participaç­ão da agricultur­a brasileira não está apenas em produzir alimentos, mas também em contribuir com um planeta mais sustentáve­l.

A agricultur­a alimenta mais de 7 bilhões de pessoas no mundo, mas também é causa de impactos ambientais"

RENATO RODRIGUES, secretário de Inteligênc­ia e Relações Estratégic­as da Embrapa

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