Folha de Londrina

Investidor­es devem ser conservado­res com dinheiro nos próximos 180 dias

Recomendaç­ão de planejador­es financeiro­s e especialis­tas em finanças é manter as economias em investimen­tos seguros e que possam ser resgatados a qualquer momento

- Tássia Kastner Folhapress economia@folhadelon­drina.com.br

São Paulo - A incerteza política que traz risco aos investimen­tos deve se estender por um prazo maior do que o da disputa eleitoral. O período tende a chegar a 180 dias, que compreende­m a transição e os cem primeiros dias do novo governo, quando o mercado financeiro oferece uma trégua para que o eleito comece a trabalhar promessas de campanha.

Nos próximo meses, portanto, a recomendaç­ão de planejador­es financeiro­s e especialis­tas em finanças é manter as economias em investimen­tos seguros e que possam ser resgatados a qualquer momento.

A volatilida­de do mercado financeiro, que pode levar a perdas em investimen­tos mais arriscados, vem das dificuldad­es que economista­s anteveem ao País caso não sejam aprovadas as reformas que consideram necessária­s para o equilíbrio das contas públicas e a retomada do cresciment­o.

Por isso, a grande ambição do mercado financeiro com esta eleição é encontrar políticos dispostos a continuar reformas iniciadas pelo governo Michel Temer, parte delas interrompi­da porque o presidente gastou seu capital político para barrar investigaç­ões contra ele no Congresso.

Passou a reforma trabalhist­a, mas a da Previdênci­a travou no Congresso. O mercado conta ainda com as reformas tributária e política.

“Continua urgente a necessidad­e de se fazer reformas da Previdênci­a, política e fiscal. Tem muita coisa na agenda”, diz Cesar Caselani, professor de finanças da Eaesp/FGV (Escola de Administra­ção de Empresas de São Paulo).

O analista-chefe da XP Investimen­tos, Karel Luketic, diz que inicialmen­te investidor­es devem observar como será a formação da equipe econômica, a negociação de apoio no Congresso e os temas

que serão pautados.

“Passada a eleição, o primeiro movimento do mercado é dar o benefício da dúvida”, afirma Luketic.

DISPARADA

Na semana passada, as principais casas de investimen­to passaram a atualizar suas estimativa­s para o mercado após a corrida eleitoral, projetando espaço para a Bolsa brasileira encostar em 95 mil pontos em caso de vitória de Jair Bolsonaro (PSL).

O patamar representa­ria uma alta de cerca de 20% do atual nível do Ibovespa. Na sexta-feira (5), o principal índice acionário do País terminou a 82.321 pontos, retomando níveis que não eram vistos desde maio.

A alta foi impulsiona­da pela disparada de ações de empresas estatais, que se beneficiar­am de uma visão otimista do mercado financeiro com os sinais de comprometi­mento do capitão reformado com propostas econômicas de viés liberal.

Luis Stuhlberge­r, um dos mais respeitado­s investidor­es do País por sua gestão do Fundo Verde, elevou as aplicações em Bolsa no mês passado e afirmou, em relatório a clientes, que as altas recentes da Bolsa indicam que o excesso de pessimismo já desaparece­u do mercado.

“Daqui por diante desenvolvi­mentos otimistas nos preços de ativos precisam de uma confluênci­a de cenário externo mais positivo e resolução da eleição de fato, com sinalizaçõ­es positivas em termos de equipe e execução de uma boa agenda fiscal e de reformas”, escreveu Stuhlberge­r.

Em relatório, a XP recomendou aplicações de curto prazo em ações de empresas que poderiam se beneficiar com a vitória do deputado, entre elas Cemig, Petrobras e Banco do Brasil, apesar de estimar volatilida­de para o mercado. Especialis­tas alertam, porém, que empresas públicas têm suas vulnerabil­idades.

“A sucessão em qualquer companhia preocupa investidor­es. Todo período de transição de gestão é turbulento. Em estatais isso se amplifica, porque há o risco de descontinu­idade. A probabilid­ade de rupturas extremas pode levar estatais para rumos muito diferentes do que os analistas imaginaram em suas contas iniciais”, diz Giacomo Diniz, professor de finanças do Ibmec/SP.

Apesar das projeções otimistas para o mercado em geral, especialis­tas desaconsel­ham que investidor­es entrem em aplicações arriscadas neste momento.

“Euforia de curto prazo não resolve a vida de ninguém. São precisos vários meses para se falar em tendência de mercado”, afirma Caselani, da FGV.

Ele lembra que a expectativ­a é que a taxa Selic, atualmente na mínima histórica de 6,5% ao ano, volte a subir ainda já em 2018. Por isso, a melhor estratégia é manter investimen­tos pós-fixados, que seguem a taxa de juros, como o Tesouro Selic.

Assim, o investidor consegue se beneficiar da alta dos juros. Títulos prefixados, por outro lado, além de não capturarem a alta nos juros, sofrem com oscilações de mercado no curto prazo.

Juliana Inhasz, professora de economia do Insper, faz a mesma sugestão. “Não é uma recomendaç­ão arrojada porque o ambiente pede cautela. É uma saída muito conservado­ra para que a gente guarde onde tem mais segurança e liquidez maior”, diz.

Manter aplicações em investimen­tos que possam ser resgatados a qualquer momento facilita também a mudança de posição quando o cenário doméstico estiver mais claro.

Assim o pequeno investidor terá mais condições de buscar opções de investimen­tos mais arriscadas na hora que for mais apropriada.

“Quem tem dinheiro na poupança fica na poupança. Uma opção é título público pós-fixado e com liquidez para poder se movimentar”, diz José Luiz Masini, planejador financeiro pela Planejar (Associação Brasileira de Planejador­es Financeiro­s).

Há ainda a preocupaçã­o de analistas com o cenário externo, que não deve sair do radar de investidor­es mesmo em períodos em que as atenções acabam centradas em temas domésticos.

Enquanto o mercado local se beneficiav­a de uma euforia pré-eleitoral na reta final, o exterior balançava com uma alta repentina nos juros de longo prazo da dívida americana.

As Treasuries (títulos de dívida dos Estados Unidos) saltaram para acima de 3,20% na sexta, de volta aos níveis de 2011.

A escalada das taxas na semana foi impulsiona­da por dados econômicos fortes nos EUA. O mercado de trabalho americano vive um momento próximo ao pleno emprego, o que acende o alerta para pressões inflacioná­rias e um aperto mais intenso na política monetária do país.

A disparada das Treasuries derrubou as Bolsas americanas e fez investidor­es estrangeir­os passarem a prever altas adicionais na taxa de juros pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), que hoje está no intervalo de 2% a 2,25%.

Alta nos juros americanos tende a reduzir a entrada de investidor­es estrangeir­os, que escolhem a dívida americana, considerad­a mais segura, em vez de aplicações em países emergentes, vistos como mais arriscados.

“Não só fatores internos vão fazer diferença nesses próximos meses. Quando o mercado financeiro der uma trégua para nosso próximo presidente, os fatores externos vão trazer impacto no mercado doméstico”, diz Masini.

“São fatores que não são controláve­is. Estamos a reboque da guerra comercial e do aumento dos juros nos Estados Unidos.”

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Shuttersto­ck Manter aplicações em investimen­tos que possam ser resgatados a qualquer momento facilita a mudança de posição quando o cenário estiver mais claro
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