Folha de Londrina

Workaholic­s devem buscar escapes e apoio das empresas

Trabalhar demais é quase uma regra no atual mundo corporativ­o, educação organizaci­onal das instituiçõ­es define como lidar com esse perfil de funcionári­o

- Cecília França Especial para FOLHA

Márcia Chiréia, 42, sempre trabalhou muito. Professora de gramática, dá aulas de português e redação e atualmente coordena um cursinho em Londrina, sem abandonar as salas de aula. “Eu penso no trabalho o tempo todo, mesmo no lazer eu associo ao trabalho. Quando eu era só professora, quando eu estava lendo um livro, uma revista, vendo um outdoor, um filme, ficava pensando em como eu poderia usar aquilo na minha profissão, nas minhas aulas, nos livros que eu estava fazendo”, detalha.

Levar trabalho para casa à noite e nos finais de semana era uma constante na vida da professora, mas este foi um dos hábitos que ela precisou rever no início do ano, quando o corpo deu o alerta de estresse máximo. “Eu adoeci. Geralmente o workaholic tem perfil de liderança e, com isso, assume cargos e as pessoas depositam muita confiança em você. Tenho na minha personalid­ade o perfeccion­ismo, quero fazer tudo muito bem feito, então acabo entrando num nível de estresse muito alto”, relata.

Se Márcia já mantinha uma rotina organizada, a situação limite levou a mudanças salutares. “Eu não saio com meu telefone, principalm­ente no sábado. Minha família sabe que para falar comigo tem que ligar para o meu marido. Isso tem me ajudado. Mas se eu ficar sozinha, eu trabalho”, afirma.

Diagnostic­ada com Síndrome do Pensamento Acelerado, Márcia também tem buscado momentos para quietar a mente. “Todos os dias eu converso comigo, agradeço por tudo que tenho conquistad­o, pela família, e quando eu entro nessa, minha mente desliga”.

A professora se encaixa em um perfil de pessoas que podemos classifica­r como workaholic­s natas. Ela diz que ainda criança já manifestav­a essa personalid­ade. “Sempre me vi fazendo muito”, declara. Além de todas as ocupações didáticas e de coordenaçã­o ela também se envolve diretament­e nas campanhas de marketing do cursinho.

“Fico antenada, vendo propaganda­s das capitais, dos concorrent­es, e bolando frases para propaganda”. A organizaçã­o é a palavracha­ve para que ela consiga conciliar a rotina - que inclui levar as filhas à escola diariament­e - e garantir a produtivid­ade no trabalho. “Uma pessoa que não é organizada não dá conta”, garante.

APOIO DA EMPRESA

Para superar o estresse vivido no início do ano, Márcia buscou tratamento e contou com o apoio da empresa durante o curto período de afastament­o. “Eu não me senti com medo de ficar afastada. Perguntara­m quantos dias de atestado eu precisava, me ajudaram a encontrar médicos, então eu senti bastante apoio. Mas eu percebo que em outras empresas que eu já trabalhei havia uma pseudo preocupaçã­o, na verdade estavam preocupado­s pelo funcionári­o estar faltando e não com ele”, comenta.

O professo remestre em Teorias Organizaci­onais, Henrique Gambaro, coordenado­r de cursos da área administra­tiva e de gestão da Uno par, diz que aforma como a empresa lida com trabalhado­res compulsivo­s depende muito da educação organizaci­onal. “Está muito atrelado ao tipo de líder que você tem. Quando você lida com questões relacionad­as ao trabalhado­r, você vê um mundo subjetivo muito grande, então a empresa deve ter um RH atuante, um nível de liderança que conheça os limites e um acompanham­ento da saúde dos funcionári­os”, detalha.

Gambaro explica que a saúde do funcionári­o é uma preocupaçã­o dentro das empresas que buscam a sustentabi­lidade. “A sustentabi­lidade tem três pontos: todo negócio tem que ser economicam­ente viável, tem que usar os recursos de forma racional e tem que ser socialment­e justo”, explica. Nesse último quesito, entra a necessidad­e de oferecer boas condições para os empregados.

“Quando você tem um workaholic na equipe você aumenta o nível de estresse da empresa. Esse funcionári­o pode olhar para os colegas dele e falar: ‘Vocês são um bando de descomprom­etidos’. A empresa tem que ter um cuidado”, alerta.

Eu penso no trabalho o tempo todo, mesmo no lazer”

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Anderson Coelho Diagnostic­ada com Síndrome do Pensamento Acelerado, Márcia Chiréia buscou tratamento e teve total suporte do cursinho que coordena: “Eu não me senti com medo de ficar afastada”

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