Votos brancos e nulos caem com polarização
São Paulo - A conversão do descontentamento em voto útil fez com que a fatia de brasileiros que foi às urnas sem optar por nenhum dos candidatos à Presidência ficasse muito abaixo do que indicavam as pesquisas de preferência eleitoral há menos de dois meses. Do total de votos computados neste domingo (7) pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), 6,12% foram nulos e 2,66% brancos, com 98% das urnas apuradas. A soma de 8,78% dos chamados votos inválidos ficou abaixo dos 9,64% registrados no primeiro turno do pleito de 2014 e muito próxima dos resultados de 2006 e 2010.
“Os votos brancos e nulos no primeiro turno mantiveram o padrão de estabilidade que temos observado desde 2006”, afirmou o cientista político Jairo Nicolau, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Embora tenha repetido a tendência dos últimos dez anos, o comportamento dos eleitores que pretendiam invalidar seu voto se alterou significativamente à medida que a data do pleito foi se aproximando.
Segundo o Datafolha, por volta de 20 de agosto, as intenções de voto apontavam para um percentual de 22% de votos brancos e nulos. Essa parcela era quase o triplo do máximo registrado na mesma altura da corrida presidencial nas últimas décadas. Entre 1989 e 2014, a soma de brancos e nulos em pesquisas feitas em meados de agosto indicaram um mínimo de 3%, em 1998, e um máximo de 8%, no penúltimo pleito, de acordo com a série histórica do Datafolha.
A leitura de especialistas era de que o desencanto com a política tradicional alimentava uma onda inédita de voto de protesto, que se refletia na vontade de punir os candidatos à Presidência, não escolhendo nenhum deles.
Esse movimento parecia resultado da crise política dos últimos anos, na esteira de eventos como os escândalos de corrupção escancarados pela Operação Lava Jato, o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e a posterior crise na qual mergulhou o governo Michel Temer (MDB).
“As pesquisas captavam um sentimento de grande descontentamento e alienação no contexto de um sistema político extremamente corrupto”, disse o cientista político David Fleischer, professor emérito da UnB (Universidade de Brasília).
Essa situação começou a mudar, principalmente, a partir da oficialização da candidatura de Fernando Haddad (PT), em 11 de setembro, depois de esgotadas as tentativas de lançamento da candidatura do ex-presidente Lula. A parcela de eleitores que decidiu não comparecer às urnas neste domingo somou 20,3%. Tratase de um percentual próximo ao das votações em anos anteriores, de acordo com especialistas.