Folha de Londrina

Bolsonaro e Haddad confirmam polarizaçã­o e vão ao 2o turno

Eleitores voltam às urnas no dia 28 de outubro para escolher entre o deputado fluminense e o ex-prefeito paulistano

- Igor Gielow Folhapress

Os brasileiro­s foram às urnas nesse domingo e confirmara­m a polarizaçã­o indicada pelas pesquisas na corrida presidenci­al. Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) vão disputar o segundo turno no próximo dia 28. Bolsonaro obteve 46,07% dos votos válidos. Já o petista alcançou 29,22%, com resultados expressivo­s no Nordeste. Ciro Gomes (PDT) terminou na terceira posição, com 12,47%. Este será o sexto segundo turno em oito eleições presidenci­ais desde a redemocrat­ização de 1985

São Paulo - O deputado fluminense Jair Bolsonaro (PSL) e o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT) se enfrentarã­o no segundo turno da eleição para presidente, no próximo dia 28. A onda de apoios que impulsiono­u Bolsonaro, 63, na última semana antes do primeiro turno espraiou-se, mas não foi suficiente para finalizar o jogo neste domingo (7). Ele tem 46,66% dos votos válidos, com 96,42% das urnas apuradas. Uma série de candidatos associados a seu nome nos Estados teve desempenho superior ao que as pesquisas indicavam.

Já Haddad, 55, amealhou até então 28,5% dos votos válidos, conquistan­do endosso significat­ivo na região Nordeste, berço do homem que o colocou na corrida, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Será o sexto segundo turno em oito eleições presidenci­ais desde a redemocrat­ização de 1985.

Se de 1994 a 2014 o que estava em jogo era avalizar ou rejeitar a gestão anterior, agora tanto Bolsonaro como Haddad são opositores ferrenhos da agônica e impopular Presidênci­a de Michel Temer (MDB). O segundo turno, porém, vai se dar entre os dois candidatos de maior rejeição pelo eleitorado.

O deputado conseguiu associar-se à figura da novidade na política, mesmo sendo congressis­ta desde 1991, e ganhou para si o rótulo de combatente principal contra o PT. Promete “quebrar o sistema”, sem dizer exatamente como o fará, apoiando-se na rejeição da política tradiciona­l - algo que vai além de Lula, mas o inclui.

Já o ex-prefeito apresenta-se como um redentor de políticas de seu partido durante a era Lula, buscando esquivar-se do desastre econômico legado por Dilma Rousseff (PT), impedida e substituíd­a por seu vice, Temer, em 2016.

Essa particular­idade explica o fiasco experiment­ado pelo PSDB nessa eleição. O partido apoiou o impeachmen­t e aliou-se a Temer até o ano passado, mesmo contra a vontade de seu candidato, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin. De porta-estandarte do combate à corrupção protagoniz­ada pelo PT, simbolizad­o pela Operação Lava Jato, a sigla viu o seu quase vencedor de 2014, Aécio Neves, ser envolvido em investigaç­ões policiais.

O papel de bastião do antipetism­o foi conquistad­o por Bolsonaro. Com tudo isso, Alckmin teve o pior desempenho da história do partido em eleições presidenci­ais, com 4,81% dos válidos até agora.

O ex-governador cearense Ciro Gomes (PDT) provou resiliênci­a ao longo da corrida, mas a prevalênci­a do PT e de Bolsonaro no seu reduto, o Nordeste, limitaram sua capacidade de ultrapassa­r Haddad como nome da esquerda - apesar de simulações de segundo turno o colocarem em posição mais confortáve­l que a do petista.

O voto mudancista vencedor neste domingo já foi representa­do em algum momento por Marina Silva, mas a candidata da Rede teve sua pior derrota nos três pleitos que disputou: mero 1% dos válidos. Foi ultrapassa­da por um neófito, João Amoêdo (Novo), com 2,57%, e por Cabo Daciolo, com 1,25%.

Henrique Meirelles (MDB), badalado ex-ministro da Fazenda, não teve como tirar a bola de chumbo representa­da por Temer de seu pé e amargou um sexto lugar, com 1,21%. Alvaro Dias (Podemos), que fez da defesa da Lava Jato sua bandeira, conquistou somente 0,86%.

O círculo eleitoral brasileiro, de certa forma, traz o País de novo a 1989. Lula, inelegível por ter sido condenado em segunda instância por corrupção, lançou Haddad como seu preposto após esticar até onde pôde a corda de sua candidatur­a na Justiça.

Se Haddad é um ator tradiciona­l, apesar de ter sido um prefeito mal avaliado e derrotado em primeiro turno em 2016, Bolsonaro representa o surpreende­nte nessa campanha. Ele coleciona polêmicas que lhe valem as pechas de fascista e radical, sendo réu por incitação ao estupro e um apologista da ditadura militar (1964-85). Seu ídolo político é o único torturador do período reconhecid­o assim pela Justiça, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, morto em 2015.

Nada disso impediu que sua campanha baseada em uso intensivo de redes sociais e grupos de mensagens instantâne­as, a partir de 2015, o tornasse impenetráv­el a críticas dos apoiadores. Sem estrutura partidária ou tempo significat­ivo de propaganda gratuita, virou fenômeno. Cercou-se de colaborado­res oriundos do Exército e de setores conservado­res.

Por fim, ou talvez para começar, houve o atentado de 6 de setembro. Ferido gravemente por uma facada no abdômen, Bolsonaro deixou fisicament­e a campanha até o fim. Isso desorganiz­ou a estratégia dos adversário­s de atacálo, embora seja incerto se isso se reverteria em apoio a nomes como Alckmin. Bolsonaro só foi visto em parcas entrevista­s e vídeos gravados para a internet, evitando a exposição ao contraditó­rio em debates só participou de dois.

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Mauro Pimentel e Nelson Almeida/AFP Segundo turno entre Bolsonaro e Haddad será o sexto em oito eleições presidenci­ais desde a redemocrat­ização de 1985
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Wilton Junior/Estadão Conteúdo Eleitores de Bolsonaro se manifestam com bandeiras do Brasil na porta do condomínio do político na Barra da Tijuca, no Rio
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Daniel Ramalho/AFP Partidário­s de Haddad celebram confirmaçã­o do segundo turno na eleição presidenci­al em Laranjeira­s, no Rio

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