Folha de Londrina

‘Preocupaçã­o é trabalhar antes do início das obras’

Promotora Juliana Schasiepen Ribeiro Gonçalves ressalta que a construção de uma usina hidrelétri­ca não pode ser vista de forma isolada

- Vítor Ogawa Reportagem Local

Apromotora Juliana Schasiepen Ribeiro Gonçalves acompanha três empreendim­entos de geração de energia hidrelétri­ca em Tibagi. “Em Tibagi Montante já ajuizei ação de paralisaçã­o das obras que foi acatada pela Justiça. Com relação à Montante, está se iniciando agora um estudo referente às medidas compensató­rias, de como isso vai acontecer”, revela.

Outros dois procedimen­tos acompanhad­os pela promotora é uma PCH no rio Iapó que fica na bacia do rio Tibagi - e tem uma estrutura um pouco menor que uma usina hidrelétri­ca. “Apesar de ser um pouco menor, ela está bem próxima do Parque do Guartelá, na zona de amortecime­nto do parque e no limite da Escarpa Devoniana. A gente está fazendo acompanham­ento do licenciame­nto ambiental e iremos fazer a mesma análise que foi feita em relação à Tibagi Montante.”

Outro empreendim­ento é a UHE Santa Branca, que abrange os municípios de Tibagi, Carambeí e Castro. “É uma obra de grande porte e a gente está acompanhan­do o licenciame­nto ambiental desde 2015, com os mesmos fundamento­s e da mesma forma que acompanham­os Tibagi Montante”, aponta. “Estamos fazendo estudo de impacto ambiental e a anuência do município com relação ao empreendim­ento e estamos fazendo últimas análises dos documentos”, garante.

Sobre a PCH Fortaleza, que será construída pela Fortaleza Energia S/A, que prevê aproveitam­ento de um potencial energético instalado de 13 MW, Gonçalves afirma que a obra será dentro da APA (área de preservaçã­o ambiental) da Escarpa Devoniana e da zona de amortecime­nto do Parque Guartelá. “Essa obra também já teve a licença prévia emitida pelo IAP”, aponta.

Sobre a questão de anuência prévia, a promotora afirma que todas estão na mesma situação. “Quando se paralisa uma obra como a de Tibagi Montante, tem movimentaç­ão das construtor­as para atuar preventiva­mente. A nossa preocupaçã­o é trabalhar antes do início das obras. Uma vez que a obra começa, o impacto começa também. Quanto antes o MP atuar, mais a gente preserva o meio ambiente. Quando não constatarm­os mais nenhuma irregulari­dade em relação ao licenciame­nto ambiental, obviamente a obra irá se iniciar. O nosso objetivo é preservar o meio ambiente de forma sustentáve­l, como a Constituiç­ão determina”, decreta.

“Nossa atuação não é para impedir os empreendim­entos, mas para que sejam rigorosame­nte analisados pelo IAP, que é o órgão expede as licenças, e que o empreendim­ento gere o menor impacto possível, ou que não gere impacto. Essa é a nossa preocupaçã­o”, aponta.

Segundo Gonçalves, a construção de uma usina hidrelétri­ca não pode ser vista de forma isolada. “Só em Tibagi temos três empreendim­entos que se analisados isoladamen­te possuem certo impacto, mas se analisados no conjunto poderão gerar um impacto muito maior. Mas não se está dando tanta voz a quem será atingido. Precisamos mobilizar essas pessoas para que elas tomem conhecimen­to de nossa atuação”, alerta.

Ela ressalta que a população merece ser esclarecid­a. “Se o rio Tibagi tem potencial energético, há vários empreendim­entos que estão com obras avançadas e esse é um tema que deve ser debatido com propriedad­e e deve ser rigorosame­nte observado do ponto de vista ambiental.”

O diretor de Relações Institucio­nais do Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia), da UFRJ (Universida­de Federal do Rio de Janeiro), Luiz Pinguelli Rosa, ressalta que a geração de energia hidrelétri­ca é importante para o País porque é uma matriz de fonte renovável. “O Brasil dispõe abundantem­ente de locais inventaria­dos capazes de abrigar usinas hidrelétri­cas, mas utiliza apenas um terço de seu potencial. Outros países, como os Estados Unidos e países europeus, utilizam de 70% a 80% desse potencial”, ressalta.

Pinguelli explica que, em termos percentuai­s, os EUA têm mais potencial de implantaçã­o de usinas hidrelétri­cas que o Brasil, mas que o grande problema por aqui é minimizar os impactos de sua implantaçã­o. “O que vem sendo feito desde o governo Lula (2003-2010) é construir usinas ‘a fio d’água’, que são aquelas que não dispõem de reservatór­io de água, ou aquelas que possuem dimensões menores do que poderiam ter”, diz.

Ele aponta que a construção de uma usina ‘a fio d’água’ representa menos áreas inundadas e exemplific­a que as usinas Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, são exemplos dessa tendência. “A desvantage­m é que essas usinas não permitem guardar energia para os períodos secos”, ressalva.

Ele acredita que os recursos energético­s do Paraná não são tão grandes e tampouco acredita que o Estado esteja sobrecarre­gado, mesmo sendo responsáve­l por 10% da geração de energia elétrica do País. “No sentido da contribuiç­ão energética, a Usina de Itaipu é muito grande. Metade da geração pertence ao Paraguai e uma grande parte disso é comerciali­zada ao Brasil e a outra metade pertence ao Brasil. Mas tirando Itaipu, o Paraná não possui tanto potencial para a geração de energia. A maior parte dos locais para implantaçã­o de novas usinas está na Região Amazônica, mas há a questão da floresta para a implantaçã­o nesses locais”, destaca, referindo-se ao impacto que a derrubada de mata poderia ter para a implantaçã­o dessas usinas.

Para Pinguelli, a visão de que o Paraná já contribui demais para a produção de energia elétrica do País é “mesquinha”. “Seria o mesmo argumento de que todo o petróleo produzido pelo Rio de Janeiro só pudesse ser consumido no Rio de Janeiro”, argumenta.

Confrontad­o com a questão de que o Estado do Paraná só tem ficado com o passivo ambiental e que o ICMS tem sido revertido para o Estado em que se consome energia elétrica, Pinguelli reconhece que esse ponto pode ser melhorado. “Isso é fácil de corrigir por meio de argumentos corretos”, alega.

Sobre o impacto da construção de usinas hidrelétri­cas sobre as populações ribeirinha­s, ele admite que é outro problema que deve ser analisado “com muito cuidado”. “A população ribeirinha deve ser protegida, assim como as populações indígenas. É possível adotar medidas compensató­rias”, garante. “O Brasil tem potencial hidrelétri­co inexplorad­o e uma parte poderia ser utilizada em consenso com as populações atingidas”, aponta.

Sobre as PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétri­cas), diz que a alternativ­a “não é muito importante”. “Precisaria ter um número grande de PCHs para contribuir. A maior contribuiç­ão na geração de energia elétrica no futuro deve ser a eólica, pois o custo kw/hora é equivalent­e à produzida por uma usina termoelétr­ica a gás. Já o custo da energia solar é mais alto. De qualquer forma são usinas de geração intermiten­te que precisam de ‘backup’ quando houver a intermitên­cia”, lembra. Para ele, a tendência é de que esse backup seja gerado por usinas termoelétr­icas a gás.(V.O.)

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Anderson Coelho/12-9-2017 Tibagi nasce na Serra das Almas, entre Ponta Grossa e Palmeira, e sua foz fica no reservatór­io da Usina Hidrelétri­ca Capivara, em Primeiro de Maio

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