Folha de Londrina

Anfavea cobra de Bolsonaro e Haddad aprofundam­ento dos programas

- Adriana Fernandes

Brasília -

Em Brasília para contatos políticos após o primeiro turno das eleições, o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricante­s de Veículos Automotore­s), Antonio Megale, cobrou dos candidatos ao Palácio do Planalto Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) o aprofundam­ento das propostas de governo, principalm­ente para a indústria.

“Nenhuma das candidatur­as mostrou claramente qual é o programa de governo. Tudo que podemos falar é numa certa especulaçã­o”, disse Megale, evitando comentar qual dos dois programas é melhor para o setor. “Nos dois lados temos nossas preocupaçõ­es”, avaliou. Ele se queixou que a campanha de Bolsonaro tem conversado mais com mercado do que com o setor produtivo.

Em conversa com jornalista­s, ele disse que vê problemas nos programas dos dois candidatos, mas convergênc­ia na preocupaçã­o com o emprego. Ele criticou, porém, a proposta do coordenado­r econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes, de unificar o MDIC (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) com a Fazenda e manifestou especial preocupaçã­o com o risco de uma abertura comercial unilateral com redução da alíquota do Imposto de Importação de veículos, hoje em 35%.

Segundo Megale, a abertura comercial deve ser feita, mas por meio de acordos comerciais, como o que está sendo negociado com a Europa. Megale defendeu uma redução a zero do imposto com prazo de 15 anos e carência de cinco a sete anos antes de a alíquota começar a cair.

ROTA 2030

Outra preocupaçã­o da indústria automobilí­stica é com a votação até final do ano da MP (medida provisória) que cria o Rota 2030, programa de incentivos à pesquisa e inovação. Se não for votada dentro do prazo, a medida caduca. O dirigente informou que conversou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), que garantiu que colocará a MP em votação assim que o texto estiver redondo.

Apesar do debate na campanha de corte em renúncias tributária­s, Megale considerou que o Rota 2030 não corre risco num eventual governo de Bolsonaro ou Haddad. Ele destacou também que não há espaço “nenhum” para aumento de impostos no próximo governo e defendeu um sistema simplifica­do de tributos para o setor, uma espécie de IVA (imposto sobre valor agregado) para toda a cadeia da indústria automobilí­stica, reunindo IPI, PIS e Cofins.

“O MDIC para nós é o único ministério que ainda tenta fazer uma política industrial, que a gente entende que é absolutame­nte necessária”, disse num recado direto à equipe de Bolsonaro. Durante a campanha, Megale já encontrou com Haddad e Bolsonaro, mas as conversas foram de conteúdo geral. Ele relatou que há dificuldad­e, porém, de interlocuç­ão com as campanhas. “Vejo um voto forte em mudança, mas essa mudança tem que acontecer logo. Se entra um determinad­o governo com a nomeação de um ministério absolutame­nte descomprom­etido com ninguém, e se não acontecer nada de mudança em seis meses, vamos ter problema”, disse.

O candidato que ganhar, disse ele, terá que “chegar” com propostas muito bem definidas diante da “impaciênci­a” dos eleitores mostrada nas urnas nas eleições de domingo. “Uma coisa é fazer plano estando fora, outra é sentar na cadeira”, disse. Segundo ele, o setor não vai se posicionar em relação a nenhum dos dois candidatos. Para ele, enquanto a equipe de Bolsonaro é mais liberal, a de Haddad é mais desenvolvi­mentista. Ao ser questionad­o sobre a notícia de que o empresário Josué Gomes é um dos candidatos a ministro da Fazenda de Haddad, Megale respondeu: “Vejo com bons olhos. Me parece um bom nome”.

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Shuttersto­ck A indústria automobilí­stica defende um sistema simplifica­do de tributos para o setor, reunindo IPI, PIS e Cofins

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