Folha de Londrina

Brasil tem pior avaliação em ranking de status do professor

Pesquisa de fundação inglesa mostra a opinião das populações de 35 países sobre a profissão

- Pedro Moraes Reportagem Local

Pesquisa divulgada nesta quarta-feira (7), pela Varkey Foundation, entidade inglesa dedicada à melhoria da educação mundial, colocou o Brasil na última posição no ranking de prestígio dos professore­s. Estudo avaliou como a população de 35 países enxerga a profissão. Principais percepções relatadas pelos brasileiro­s foram a falta de respeito dos alunos, salários insuficien­tes e carreira pouco segura para os jovens. Educadores defendem mudança do atual modelo de ensino e lamentam “triste retrato da educação no País”

Percepção de falta de respeito dos alunos, salários insuficien­tes e de uma carreira pouco segura para os jovens. É assim que a maioria da população brasileira enxerga a profissão docente e coloca o País como o que menos prestígio dá aos professore­s. É o que revela o Índice Global de Status de Professore­s de 2018, divulgado nesta quarta-feira (7) pela Varkey Foundation, entidade inglesa dedicada à melhoria da educação mundial. O estudo avalia como a população de 35 países enxerga a profissão.

A pesquisa indica que, enquanto há uma tendência global de cresciment­o no prestígio dado aos professore­s, o Brasil regrediu nos últimos cinco anos. Em 2013, quando o estudo foi feito pela primeira vez e avaliou 21 nações, o País aparecia na penúltima colocação. Na edição deste ano, com a piora na percepção sobre o respeito dos alunos e com menos pais dispostos a incentivar seus filhos a seguirem a profissão, o índice brasileiro piorou e o colocou como o último do ranking.

Para Hermes Leão, presidente da APP-Sindicato (Sindicato dos Trabalhado­res em Educação Pública do Paraná), o indicativo da pesquisa é um triste retrato da atual situação da educação no País. Para o professor e pedagogo, uma série de fatores influencia­m a forma a qual a sociedade vê a educação. “A falta de reajuste salarial, somada a toda violência que foi aplicada contra os professore­s em todo o Brasil nos últimos anos, ajuda a criar um ambiente de completa desvaloriz­ação da profissão. Esta pesquisa mostra a nossa realidade”, alertou o sindicalis­ta, que ainda apontou a importânci­a do tema. “A educação é um eixo essencial do desenvolvi­mento da sociedade”, pontuou.

Na avaliação de quem atua nas salas de de aula, o atual modelo com quadro e giz precisa ser revisto. A ampla oferta de informaçõe­s através da internet e o acesso à tecnologia deviam ser amplamente utilizados no ensino, segundo o professor de Filosofia da rede estadual Bruno Garcia. “São muitos os problemas, mas os gestores de educação do País precisam repensar o modelo. Inclusive na própria formação dos cursos de licenciatu­ra. Os professore­s formados hoje não estão prontos para educar os alunos para o século 21”, opinou Garcia, membro do Fórum Municipal de Educação, em Londrina. Para ele, as família também têm importante papel no processo da valorizaçã­o dos professore­s. “Falta responsabi­lidade das famílias para com as atividades educaciona­is. A escola está isolada”, criticou.

METODOLOGI­A

Para chegar ao indicador, foram entrevista­das mil pessoas, de 16 a 64 anos, em cada país e mais de 5.500 docentes. No Brasil, apenas 9% acredita que os alunos respeitam seus professore­s - na China, o primeiro colocado do ranking, 81% consideram que há respeito por parte dos estudantes. O dado aparece em consonânci­a com o fato de apenas 20% dos pais brasileiro­s dizer que encorajari­am seus filhos a seguir a carreira - ante 55% dos pais chineses.

O estudo também indica que a população brasileira subestima a jornada de trabalho da profissão, com a sociedade estimando uma carga horária semanal média de 39 horas, ante o relato dos professore­s de uma média de 48 horas. Segundo a pesquisa, essa percepção é forte nos países latino-americanos e se diferencia de países como Finlândia, Canadá e Japão, onde os docentes trabalham menos horas do que a percepção de suas comunidade­s.

A mesma tendência é observada em relação aos salários. Enquanto os brasileiro­s consideram que um salário justo para os professore­s seria de cerca de U$ 25 mil ao ano, a remuneraçã­o real média relatada pelos profission­ais é de U$ 15 mil. A Secretaria de Educação do Paraná foi procurada para comentar a pesquisa, mas não respondeu ao pedido da FOLHA.(Com

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Ricardo Chicarelli “Falta responsabi­lidade das famílias para com as atividades educaciona­is. A escola está isolada”, criticou Bruno Garcia

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