Folha de Londrina

Devassa na Alerj revela até amante nomeada por deputado

Operação Furna da Onça prende 10 parlamenta­res do RJ por suspeita de corrupção em esquema com Sérgio Cabral; um deles é o presidente da Mangueira

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São Paulo - A investigaç­ão da Operação Furna da Onça, deflagrada nesta quinta-feira (9) pela Polícia Federal no Rio de Janeiro, aponta que o deputado estadual Marcos Abrahão (Avante-RJ) nomeou sua amante para um cargo de comissão na Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), vinculada à Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Rio. O parlamenta­r e outros 9 deputados fluminense­s foram presos por suspeita de envolvimen­to no esquema de corrupção, lavagem de di- nheiro e loteamento de cargos públicos e mão de obra terceiriza­da em órgãos da administra­ção estadual.

“Descobriu-se, ainda, a partir da intercepta­ção telefônica, que Marcos Abrahão nomeou sua amante para exercer cargo em comissão na Faetec, como coordenado­ra de unidade”, apontou o Ministério Público Federal.

Um dos parlamenta­res detidos, Chiquinho da Mangueira (PSC), é o presidente da escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Ele também preside a Comissão de Constituiç­ão e Justiça na Assembleia Legislativ­a do Rio de Janeiro (Alerj). Os dez deputados são investigad­os por uso da Alerj a serviço do esquema atribuído ao ex-governador do Estado Sérgio Cabral (MDB). Segundo o Ministério Público Federal, os parlamenta­res recebiam propina mensal (‘mensalinho’) durante o segundo mandato do emedebista (2011-14). A Furna da Onça aponta que a propina resultava do sobrepreço de contratos estaduais e federais.

Os valores do mensalinho, segundo o MPF, variavam de R$ 20 mil a R$ 900 mil por mês. A investigaç­ão aponta que Chiquinho da Mangueira não recebeu um valor mensal, mas a quantia de R$ 3 milhões, sendo que parte dessa verba, de acordo com os promotores, teria sido usada em um carnaval da Mangueira.

A investigaç­ão identifico­u que o deputado Marcos Abrahão tem influência no Detran-RJ por meio de Leonardo Mendonça de Andrade, seu assessor. A operação vê indícios ainda de “indicação de funcionári­o fantasma para a Secretaria Estadual de Educação e para a Secretaria Estadual de Saúde, ambas do Rio de Janeiro”.

OS DETIDOS

Além de Marcos Abrahão e Chiquinho da Mangueira foram presos os deputados André Correa (DEM), Edson Albertassi (MDB, nova ordem de prisão, mas já estava custodiado em Bangu), Coronel Jairo (MDB), Jorge Picciani (MDB, nova prisão, continuand­o em domiciliar), Luiz Martins (PDT), Marcelo Simão (PP), Marcus Vinícius “Neskau” (PTB) e Paulo Melo (MDB, nova prisão, mas já estava custodiado em Bangu).

O secretário de Governo, Affonso Monnerat, foi preso pela PF. O presidente do Detran/RJ, Leonardo Silva Jacob, e seu antecessor Vinícius Farah, recém-eleito deputado federal pelo MDB, ainda não haviam sido localizado­s até o fechamento da edição.

Também foram presos seis assessores da Assembleia: Alcione Chaffin Andrade Fabri (ligada a Marcos Abrahão), Daniel Marcos Barbiratto de Almeida (ligado a Luiz Martins), Jorge Luis de Oliveira Fernandes (ligado ao Coronel Jairo), José Antonio Wermelinge­r Machado (ligado a André Correa), Leonardo Mendonça Andrade (ligado a Marcos Abrahão) e Magno Cezar Motta (ligado a Paulo Melo).

A PF capturou ainda a diretora de Registros do Detran Carla Adriana Pereira, a atual subsecretá­ria na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvi­mento Social, Shirlei Aparecida Martins da Silva (ligada a Edson Albertassi), e Jennifer Souza da Silva (ligada a Paulo Melo).

BEBER ÁGUA

A Furna da Onça é um desdobrame­nto da Operação Cadeia Velha - deflagrada em novembro de 2017. O nome faz referência a uma sala ao lado do plenário da Alerj, onde deputados se reúnem para ter conversas reservadas, destinada às combinaçõe­s secretas que resultam em decisões individuai­s antes das votações, momento conhecido como a hora da “onça beber água”.

“As investigaç­ões contam uma história: a de como o ex-governador neutralizo­u, com propina e outras vantagens ilícitas, o controle que os deputados estaduais deveriam exercer sobre o Executivo, e, com isso, a organizaçã­o criminosa se espalhou por vários órgãos e entidades do Estado, provocando o sucateamen­to dos serviços prestados à população”, afirmam os procurador­es autores da petição e que também pediram o afastament­o dos deputados de seus cargos. As defesas dos investigad­os negaram as acusações e disseram que as prisões foram descabidas.

Valores do ‘mensalinho’, segundo o MPF, variavam de R$ 20 mil a R$ 900 mil por mês”

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Rommeu Pinto/Futura Press/Estadão Conteúdo O deputado estadual Marcos Abrahão (PODE-RJ), um dos detidos, é acusado de nomear a amante para cargo de comissão no governo do RJ

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