Folha de Londrina

Brasil pode ser líder em desenvolvi­mento sustentáve­l

Para pesquisado­res, País tem capital humano e capacidade instalada para encabeçar acordos globais

- Akemi Nitahara Agência Brasil

Rio - País com a maior biodiversi­dade do planeta, o Brasil tem a legislação necessária, o capital humano e a capacidade instalada para ser líder mundial nos acordos globais para o desenvolvi­mento sustentáve­l, porém precisa corrigir rumos e adotar políticas mais adequadas. É o que aponta o Sumário para Tomadores de Decisão do Primeiro Diagnóstic­o Brasileiro de Biodiversi­dade e de Serviços Ecossistêm­icos, lançado nesta quinta-feira (8) pela Plataforma Brasileira de Biodiversi­dade e de Serviços Ecossistêm­icos (BPBES, da sigla em inglês), em evento no Museu do Amanhã, na zona portuária do Rio de Janeiro.

Criada em 2015, a plataforma reúne cerca de 120 pesquisado­res, com apoio financeiro do governo federal e do governo de São Paulo, e foi inspirada na IPBES (Plataforma Intergover­namental de Biodiversi­dade e Serviços Ecossistêm­icos), das Nações Unidas, datada de 2012.

Para o professor de ecologia da UFRJ (Universida­de Federal do Rio de Janeiro) Fabio Scarano, um dos coordenado­res do trabalho, a cada ano, os dados científico­s trazem novas informaçõe­s e evidências sobre a urgência de se cuidar do planeta. Ele destaca que apesar de ainda ter muitas questões para resolver, o Brasil já obteve grandes avanços.

“O País tem uma legislação boa para lidar com sistemas naturais, tem capacidade instalada, formação de recursos humanos. Estamos formando mais do que um doutor por dia no setor de biodiversi­dade. Há muitos ganhos. O País tem histórico de liderança nos acordos globais, tanto na diversidad­e biológica como no clima, no combate à desertific­ação e nos Objetivos do Desenvolvi­mento Sustentáve­l.”

Por outro lado, Scarano aponta que o País tem ações contraditó­rias. “Temos várias leis que não são cumpridas, cerca de 80% do desmatamen­to no País é ilegal. Temos também a necessidad­e de se mudar de uma prática mais marrom para uma prática mais verde . E a iniciativa não

deve vir só do governo, mas também do setor privado, para a gente criar um ambiente mais favorável que se dê essa mudança.”

Já o coordenado­r da plataforma

da academia, já está envolvendo outros atores. Agora, com essas conclusões, nós vamos tentar ver de que forma isso pode ser implementa­do. Se você senta com o produtor

ele vai entender que tem a ganhar com isso.”

SUMÁRIO

Ao apresentar o trabalho, a professora da UnB (Universida­de de Brasília) Mercedes Bustamante afirma que o protagonis­mo do Brasil na questão do desenvolvi­mento sustentáve­l se dá pela biodiversi­dade que tem, uma vez que possui 42 mil espécies vegetais e 9.000 espécies de animais vertebrado­s, além de 129 mil espécies de invertebra­dos conhecidos, embora a lista de ameaças tenha 1.173 animais e 2.118 plantas.

Além disso, tem uma diversidad­e cultural importante, com 5 milhões de brasileiro­s que pertencem a comunidade­s tradiciona­is, como indígenas, quilombola­s, caiçaras e ribeirinho­s, que dependem da natureza no seu modo de vida e trazem um rico conhecimen­to de práticas agroecológ­icas e medicinais. Essa população ocupa um quarto do território nacional.

Na questão econômica, o levantamen­to destaca que a biodiversi­dade do Brasil permite a exportação de 350 produtos agrícolas. E relembra que 70% do consumo de alimentos pela população brasileira vêm da agricultur­a familiar e dois terços da energia elétrica consumidas no País são produzidas em usinas hidrelétri­cas que dependem da integridad­e do ecossistem­a. O Brasil é o terceiro maior exportador de produtos da silvicultu­ra, com 3,64% da produção mundial. “Vivemos uma crise sistêmica global, expressa por vários atores, como a pressão demográfic­a, a escassez de recursos, as mudanças nos padrões de consumo, o que é chamado de tempestade perfeita de crises simultânea­s”, afirmou.

Para a professora, há urgência nas escolhas para garantir um futuro sustentáve­l. “Para isso, é preciso incorporar a biodiversi­dade e serviços ecossistêm­icos às políticas de desenvolvi­mento do País, promover o cumpriment­o das leis, inovar no desenho de políticas que integrem componente­s sociais, econômicos e ambientais e reconhecer o papel da ciência como elemento-chave na tomada de decisão.”

Temos várias leis que não são cumpridas, cerca de 80% do desmatamen­to no País é ilegal”

brasileira, Carlos Joly, defende que a principal mudança é dar escala global para soluções locais. “Não é uma construção exclusivam­ente

agrícola e explica que manter áreas de vegetação nativa, com a presença dos polinizado­res, isso vai aumentar a produtivid­ade em 20% na soja,

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Ascom/Ideflor Protagonis­mo do Brasil no desenvolvi­mento sustentáve­l se dá pela biodiversi­dade, uma vez que possui 42 mil espécies vegetais

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