INTERROGATÓRIO -
Em seu primeiro interrogatório desde a prisão, ex-presidente nega à juíza substituta de Moro ter participado das reformas do sítio em Atibaia
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou depoimento nessa quarta-feira (14) à Justiça Federal em Curitiba. Interrogado pela juíza Gabriela Hardt, Lula negou participação em reformas do sítio em Atibaia (SP) e afirmou que prisão dele era “um prêmio” na Lava Jato.
Curitiba - Após quase três horas, com intervalo, terminou pouco antes das 18h desta quarta-feira (14) o interrogatório do ex-presidente Lula na Justiça Federal do Paraná - o primeiro depois de sua prisão e o primeiro à juíza substituta de Sergio Moro, Gabriela Hardt. Durante o interrogatório, Lula afirmou que sua prisão era “um prêmio” na Operação Lava Jato. “Só não sei para quem”, declarou.
O ex-presidente não chegou a falar da indicação de Moro ao ministério da Justiça, nem do resultado das eleições.
Mas fez críticas ao PowerPoint do procurador Deltan Dallagnol, utilizado na apresentação da primeira denúncia contra ele, e ao processo judicial durante suas considerações finais, no que foi brevemente repreendido pela juíza Hardt. Ela pediu ao petista que ele não estimulasse esse tipo de postura, de crítica ao Judiciário e ao processo legal.
Sobre as acusações, Lula declarou que não participou das reformas no sítio, nem conversou com empreiteiros sobre o tema. “Ele mentiu”, disse, sobre Leo Pinheiro. O ex-presidente ainda afirmou que acha improvável que sua mulher, Marisa Letícia, tivesse pedido as obras aos proprietários do sítio ou aos empreiteiros. Antes dele, depôs também o pecuarista José Carlos Bumlai. Os dois são réus na ação sobre as reformas no sítio de Atibaia (SP), que era frequentado pelo ex-presidente - e que, segundo o Ministério Público Federal, pertencia de fato ao petista.
TENSÃO
No começo da audiência, ao dizer que não sabia do que era acusado, Lula foi advertido pela juíza federal Gabriela Hardt para mudar o tom. No início da audiência, Lula disse não saber do que era acusado, ao ser perguntado pela juíza se ele sabia do que estava sendo acusado. “Eu gostaria de pedir se a senhora pudesse explicar qual é a acusação.” A juíza, que já atua como substituta de Moro nos processos da Lava Jato desde 2014, advertiu Lula depois dele falar que queria entender se ele era “o dono do sítio ou não?”.
“É o senhor que tem que responder.”
Hardt disse então: “senhor ex-presidente, esse é um interrogatório e se o senhor começar nesse tom comigo a gente vai ter problema. Então vamos começar de novo, eu sou a juíza do caso e eu vou fazer as perguntas que eu preciso para que o caso seja esclarecido para que eu possa sentenciá-lo ou algum colega possa sentenciá-lo. Então em um primeiro momento eu quero dizer que o senhor tem todo direito de ficar em silêncio, mas nesse momento eu conduzo o ato.”
Lula pediu desculpas aos representantes do Ministério Público Federal no final da audiência, “não é pessoal”. Mas disse ficar muito irritado com “as mentiras do power point”, em referência à apresentação feita pela força-tarefa da denúncia contra o ex-presidente, em 2016. O ex-presidente disse que “era o troféu que a Lava Jato precisava entregar”. E disse que aos 73 anos não sabe se viverá até quando conseguir comprovar sua inocência.
Na ação do sítio, Lula e outros 12 réus são acusados de ocultarem propinas de contratos da Petrobras em reformas e compra de equipamentos para o imóvel. A Lava Jato entende que a propriedade é do ex-presidente, mas em nome de “laranjas”, mas o caso ainda está sob investigação e pode virar outra denúncia.
O ex-presidente, segundo a força-tarefa da Lava Jato, teria sido contemplado com propina de R$ 1,02 milhão. O dinheiro seria de José Carlos Bumlai, relacionados a empréstimo fraudulento com o Grupo Schahin ao PT e ne- gócios da empresa com a Petrobras, e da Odebrecht e da OAS, também decorrentes de contratos com a estatal.
O ex-presidente é acusado de 10 atos de corrupção e 44 atos de lavagem de dinheiro nesse processo. As reformas teria ocorrido entre os anos de 2010 e 2011 e depois entre 2013 e 2014 houve a compra e reforma da cozinha do imóvel. Tanto os delatores da Odebrecht como o expresidente da OAS José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, confirmaram em juízo que executaram os serviços em benefício do petista.