‘Problema é falta de estrutura para atendimento’
Segundo a Sage (Sala de Apoio à Gestão Estratégica do Ministério da Saúde), o Paraná tem 924 profissionais ligados ao programa Mais Médicos atualmente em atividade. Em Londrina, são 28. Para o presidente da AMP (Associação Médica do Paraná), Nerlan Carvalho, a iniciativa é uma “aberração” e teve “viés ideológico”. Para Carvalho, a maneira como a parceria foi criada, por meio da Organização Pan-Americana da Saúde, e a participação de profissionais de Cuba, foi errada por não exigir a realização do Revalida, exame que reconhece os diplomas de médicos que se formaram no exterior e querem atuar no Brasil. “Esses médicos vêm para trabalhar aqui recebendo uma bolsa, com a maior parte ficando para Cuba, no caso dos cubanos, e com um registro provisório emitido pelo MEC (Ministério da Educação) e não pelo conselho federal, pois este se recusou a emitir registro do CRM (Conselho Regional de Medicina)”, justificou.
Carvalho declarou que nos últimos cinco anos muitas cidades dispensaram médicos brasileiros em detrimento de estrangeiros, com o objetivo de reduzir gastos com saúde, uma vez que o profissional do Mais Médicos tem ganhos menores. “Quando o governo federal criou o programa alegou a falta de médicos, porém não se voltou para o verdadeiro problema, que é a falta de estrutura para atendimento”, pontuou. Ele acredita que com a decisão de Cuba de deixar o programa, os médicos brasileiros serão beneficiados, pois deverão ocupar as vagas.
O presidente da AMP também defendeu que seja estabelecida uma carreira para o médico, a exemplo dos juízes. Esta seria uma maneira de levar profissionais brasileiros para localidades remotas. Hoje, as vagas nos locais menos atrativos são preenchidas por profissionais do Mais Médicos, que em sua maioria são estrangeiros, principalmente cubanos. “Com isso os médicos teriam que ser realocados com estrutura, isto inclui enfermagem e laboratório, para que ele fique instalado com dedicação exclusiva naquela cidade, carga de oito horas diárias. Na medida que progride pode ir migrando para municípios maiores”, reforçou.
A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 454 seria uma maneira de promover a carreira do médico. Ela estabelece diretrizes para a organização da atividade única de médico de Estado. A proposta está parada no Congresso Nacional. Nerlan Carvalho ainda creditou à criação do Mais Médicos ao aumento dos cursos de medicina no Brasil. De 2003 a 2018 foram criados mais de 178 novos cursos, com o número de vagas saltando de 19 mil para 31 mil.