Folha de Londrina

AMP defende investimen­to maior em saúde

- Pedro Marconi Reportagem Local

A AMP (Associação Médica do Paraná) defende um maior investimen­to do governo federal na saúde. Levantamen­to do CFM (Conselho Federal de Medicina), divulgado na terça-feira (13) e que foi tema de reportagem na FOLHA, apontou que o Brasil gasta, em média, R$ 1.271,65 por habitante ao ano na saúde pública. Se o valor fosse corrigido pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o valor subiria para R$ 1,8 mil. Para o presidente da AMP, Nerlan Carvalho, a federação não cumpre o que determina a Constituiç­ão para a área.

“A concepção do SUS (Sistema Único de Saúde), dentro dos seus princípios, é maravilhos­a, porém na prática deixa a desejar. Isso porque demanda verba e investimen­to permanente­s e quando se fala nisso, a própria Constituiç­ão não é cumprida, pois ela prevê a aplicação de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) pela nação, 12% pelos governos estaduais e 15% pelos municipais na saúde”, destacou.

Dados da ONU (Organizaçã­o das Nações Unidas), publicados no início de 2018, mostraram que o Brasil tem destinado para a saúde 7,7% de seu orçamento geral. O porcentual é inferior à média mundial e se aproxima ao de países africanos. “Deste modo temos um desinvesti­mento federal, que nos últimos dez anos obrigou o fechamento de 41 mil leitos hospitalar­es no País. Se for olhar o motivo de fechar é a falta de verbas”, relatou. “Quem está na linha de frente, prestando atendiment­o, são os municípios. Quem supre essa falta de investimen­to federal são Estado e município e isso compromete as receitas dos dois”, acrescento­u.

De acordo com Carvalho, existe uma falta de reconhecim­ento financeiro nos valores repassados pela União pelos serviços prestados no SUS pela classe médica. Ele afirmou que o clínico geral, por exemplo, recebe por consulta R$ 2,70, e o especialis­ta, R$ 7. Para um procedimen­to cirúrgico, como cesariana, toda a equipe, que inclui anestesist­a, cirurgião, auxiliar, o repasse é de R$ 150. “A classe médica é abnegada e está sendo desprezada financeira­mente ano após ano.”

No caso dos hospitais, em especial os filantrópi­cos, o repasse por dia para internação de um paciente, segundo o presidente da AMP, é de cerca de R$ 30. “Isso é irrisório e o hospital não aguenta. Então se vê obrigado a remanejar verbas de outros setores para suprir. Este desinvesti­mento penaliza a população, que está na fila, aguardando procedimen­to ou consulta há anos”, advertiu. O orçamento anual da União para 2019 prevê investimen­to de R$ 129,8 bilhões na saúde. Em 2018 foi R$ 119,2 bilhões e em 2017 R$ 110,2 bilhões.

O Conselho Federal de Medicina também mostrou que o Paraná é o décimo Estado no ranking de gasto público com saúde. Nerlan Carvalho, que é angiologis­ta e cirurgião vascular, frisou que a informação preocupa a associação, porém a situação do Estado é melhor do que a de outras localidade­s. “Ainda temos uma rede de saúde para atendiment­o ajustada dentro do que se consegue fazer. Com certeza outros Estados, principalm­ente os do Nordeste, sofrem muito mais com essa necessidad­e”, citou.

O médico indicou que é preciso repensar como o dinheiro é investido em saúde no Brasil, com os governante­s melhorando a gestão e o planejamen­to. “A necessida- de que temos é permanente e é que o governo busque resgatar a qualidade da saúde para a população. Quando se fala em saúde não são apenas médicos em geral, são enfermeiro­s, fisioterap­eutas, psicólogos, fonoaudiól­ogas”, elencou. “Investir em saúde não é construir unidade de saúde, é manter o sistema funcionand­o.”

SINAM

Em meio aos problemas enfrentado­s no SUS, a AML (Associação Médica de Londrina) irá apresentar oficialmen­te na cidade no dia 27 de novembro o Sinam (Sistema Nacional de Atendiment­o Médico). O sistema tem a finalidade de atender a população que saiu dos planos de saúde por falta de condições de pagamento, mas que ao mesmo tempo não quer ficar dependente de forma exclusiva do atendiment­o público.

Iniciado no Paraná, o projeto existe há 22 anos, funcionand­o também em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O Sinam reúne médicos associados à AML, além de acesso a hospitais conveniado­s e parceiros, como laboratóri­os e farmácias. Neste sistema, o paciente paga R$ 140 de taxa administra­tiva por ano, com renovação a cada 12 meses. As consultas e demais serviços oferecidos são aproximada­mente 50% mais baratos se comparados com o serviço particular, custando R$ 150, preço que é fixo para consultas.

Em Londrina estão disponívei­s neste primeiro momento 44 especialid­ades. Todos os 900 médicos associados à instituiçã­o no município foram convidados a participar, com adesão quase total. “São médicos especialis­tas com toda a formação acadêmica e títulos, que foram avaliados. É uma relação direta do usuário com o médico. Pode-se incluir em uma mesma matrícula os dependente­s que desejar. A escolhe é livre pelos profission­ais referencia­dos”, explicou a médica Beatriz Tamura, presidente da AML. O cadastro é feito por meio do site www.sinam.com.br.

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Anderson Coelho Os presidente­s da AMP, Nerlan Carvalho, e da AML, Beatriz Tamura, durante visita à FOLHA

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