Quase uma centena de garapeiros
Mapa de ambulantes da CMTU aponta que a venda de caldo de cana é a atividade que mais obteve alvarás da companhia
Em tempos de altas temperaturas muitas pessoas se refrescam com o caldo de cana, a garapa. De coloração que varia de parda ao verde escuro, é uma bebida doce, saborosa e energética que faz sucesso em todas as faixas etárias e é também fonte de renda para muitos ambulantes que atuam em Londrina. Oficialmente, 96 pessoas trabalham como garapeiros no município. Trata-se da atividade que mais obteve alvarás, segundo o levantamento realizado pela CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização de Londrina). Mapa dos ambulantes em Londrina, atualizado em outubro, aponta a existência de 257 alvarás expedidos em diversas atividades.
“Fizemos esse levantamento para organizar ações de fiscalização e dar transparência para as ações públicas, ou seja levar essas informações públicas para a população”, destacou a coordenadora de fiscalização da CMTU, Josiane Correia. De acordo com ela, isso permitiu a organização do setor. “Não posso falar sobre as preferências para obtenção do alvará, porque esse não foi o nosso objetivo”, resumiu.
De qualquer forma, ficou evidente pelo levantamento que a preferência dos londrinenses recai pela atividade de garapeiro. Para se ter ideia do que isso epresenta, outra atividade bastante popular é o comércio de lanches de rua, com 58 alvarás, ou seja, é quase o dobro. É possível encontrar os garapeiros nos principais pontos turísticos de Londrina. Eles estão no Parque Arthur Thomas, no Jardim Botânico, no lago Igapó, no Zerão, no Centro de Londrina, demonstrando que a bebida tem muita aceitação entre os londrinenses.
Some-se a isso o fato de que o comércio de alimentos nas ruas exige pequeno investimento financeiro para iniciar o negócio e um dos atrativos é o não recolhimento de tributos decorrente da atuação no mercado informal e o horário de trabalho mais flexível que um emprego com registro em carteira. O que se exige é a taxa da CMTU para se obter o alva- rá e também a licença da vigilância sanitária, que totalizam cerca de R$ 1 mil anuais. Para quem se depara com o desemprego, trata-se de uma das alternativas mais viáveis e rápidas para ter uma renda.
Uma das pessoas que atua no ramo é Valdecir Santos Vieira Nascimento, que trabalha há oito anos na atividade em um ponto na avenida Saul Elkind (zona norte). Antes de se enveredar no comércio ambulante, ele trabalhava no controle de tráfego e fiscalização de uma empresa de transportes, mas um dia foi dispensado. “Aqui rende bem mais do que recebia no emprego anterior”, declarou. “Eu me sinto feliz. O dia passa e você nem vê a hora passar. Os amigos vêm aqui e ficam conversando com a gente.”
“Eu já sabia que a atividade de venda de caldo de cana era uma das mais procuradas”, destacou, dizendo que o veículo com a moenda pertencia a um parente, que infelizmente morreu. “Acabei assumindo a atividade dele. Eu começo aqui às sete horas da manhã e vou embora por volta das 17h30. Em um dia bom comercializo 120 copos e em um dia ruim vendo 40 copos”, relatou.
TECNOLOGIA
Na era da tecnologia, muitos vendedores fazem da conecti- vidade uma forma de atrair a clientela. Morador do jardim Vale do Cedro (zona leste), Francisco Batista tem um trailer com a máquina de moer acoplado em seu Ford F75, de 1973, que também acaba sendo um chamariz. O segredo para manter um bom fluxo de clientes, segundo ele, está na rede de wi-fi e nas tomadas para carregar telefones que disponibiliza, e na facilidade de aceitar pagamento pelo cartão de crédito.
Com ponto regularizado na rua Pernambuco, na região central, ele exerce a atividade há 30 anos. “Tem que estar atualizado. Na época de verão vende bastante, já no inverno cai. Agora, com a tendência de temperaturas altas, é expectativa é boa. Todo o ano pago certinho a taxa da CMTU e a renovação da licença sanitária. Infelizmente tem aqueles irregulares, que trabalham sem estar seguindo a lei do município. Isso acaba não sendo justo”, constata ele, que aos fins de semana leva seu trailer para à margem do Lago Igapó, na zona sul.
DIFICULDADE
Diariamente com seu veículo equipado próximo à barragem do Igapó, Albino Cardoso resolveu virar vendedor de calda de cana há cerca de um ano e meio. Na maior parte da vida atuando como empreendedor, entrou para este ramo despretensiosamente. “Sempre trabalhei para mim, porém teve uma época que virei empregado e queria voltar a ser dono do meu próprio negócio, mas em outra área em relação a que havia atuado. Acabei achando este ponto e não imaginei que seria tão bom”, relata ele, que já foi proprietário de uma fábrica de sorvetes. “Fico todos os dias e quem determina o horário é clima. Tem a parte ruim que perde os finais de semana e o meu próprio lazer.”
Segundo Cardoso, uma dificuldade que vem encontrando desde que começou a exercer esta profissão é poder transferir o ponto que trabalha para seu nome. “Este ponto existe há mais de 20 anos, porém eu adquiri com a pessoa que tem o nome cadastrado há menos tempo. Tentei a transferência, porém o município não permite, o que é uma pena. Porque se a pessoa entrega o ponto, por exemplo, eu tenho que dar o nome para requerer, entretanto se outro demonstrar interesse um minuto antes que eu, perco. Isto é ruim, deveriam repensar”, considera.