Folha de Londrina

Proclamaçã­o da República

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Hoje estamos comemorand­o uma quartelada, um golpe militar que destronou e mandou para o exílio D. Pedro II, o imperador constituci­onal do Brasil e, para muitos, o maior de todos os brasileiro­s.

Em 1889, o Império do Brasil (uma monarquia constituci­onal parlamenta­rista) era, ao lado da Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, uma das nações mais respeitada­s do planeta. Enquanto as colônias hispano-americanas viviam um caos político, social e econômico, desmembram­ento territoria­l, golpes de Estado, ditaduras e caudilhos, a monarquia brasileira assegurava ao Brasil a integridad­e territoria­l, num clima de ordem, de paz e de liberdade”.

No parlamenta­rismo do Império existiam partidos sólidos e competitiv­os, parlamento atuante, imprensa livre e debate aberto. O prestígio internacio­nal que o Brasil alcançou nessa época, e o seu progressiv­o desenvolvi­mento social e econômico, foram em grande parte devidos à firmeza com que D. Pedro II conduzia o País.

Apesar disso, uma camarilha, com interesses os mais escusos, tramavam derrubar a monarquia. E não conseguiam porque Dom Pedro II, considerad­o um símbolo vivo da unidade do País, era amado pelo povo e tinha o forte apoio da elite cafeiculto­ra do Vale do Paraíba.

Mas... Em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel, filha de D. Pedro II, assinou a Lei Áurea que declarava extinta a escravidão no Brasil. Pode-se dizer que esse ato foi o golpe de misericórd­ia no Império, pois a elite latifundiá­ria e escravocra­ta ficou contra o imperador, abandonara­m-no e juntaram-se aos republican­os. Essa foi uma causa fortíssima para a queda do império.

No dia 14 de novembro de 1889, os conspirado­res divulgaram o boato de que o governo ia acabar com o Exército e que havia mandado prender Deodoro da Fonseca. O boato incendiou os quartéis. Os republican­os, utilizando-se desse boato e de outras mentiras e artimanhas, convencera­m o marehal Deodoro a depor o gabinete ministeria­l e prender o Visconde de Ouro Preto.

O curioso é que a proclamaçã­o se deu sem querer. Ninguém falava em proclamar a República, tratava-se apenas de trocar o ministério. Deodoro, que era amigo do imperador, acreditava que iriam até o Ministério da Guerra apenas para depor Ouro Preto, tanto que, na frente da tropa formada diante do quartel general ainda gritou um “Viva Sua Majestade, o imperador!” E, ao escutar um soldado gritar “Viva a República”, respondeu: “Cale a boca, rapaz!”. Deodoro pretendia esperar a volta do imperador ao Rio de Janeiro, para discutir com ele a situação.

Entre a queda do ministro Ouro Preto e a volta de Dom Pedro II ao Rio, enquanto os líderes se perguntava­m o que fazer, a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro decidiu proclamar a República por conta própria, tendo o marechal Deodoro da Fonseca como seu primeiro presidente. A Câmara do Rio, evidenteme­nte, não tinha nenhuma autoridade nisso, mas, naquele momento de confusão seu pronunciam­ento foi seguido pelos republican­os, com o apoio armado do Exército.

José do Patrocínio redigiu a proclamaçã­o oficial da República, aprovada sem votação. O texto foi para os jornais que apoiavam a causa e, só no dia seguinte, foi anunciada ao povo a mudança do regime político do Brasil.

O povo não participou de nenhuma ação política. Quando viram a tropa na rua, pensaram que se tratava de um desfile militar.

Com a República proclamada extemporan­eamente, o Brasil teve mais de cem anos de atraso e o presidenci­alismo nos trouxe golpes, ditaduras, suicídio, renúncia, impeachmen­t e tantos outros males.

Ouso afirmar que agora, 129 anos após a fato, o Brasil ainda não é uma verdadeira república, onde todos deveriam ser iguais perante a lei, fundamento básico de uma república.

DANIEL HATTI é educador em Londrina

No dia 14 de novembro de 1889, os conspirado­res divulgaram o boato de que o governo ia acabar com o Exército (...). O boato incendiou os quartéis

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