Luta negra
Conselho local prepara-se para levar reivindicações para congresso nacional
Corredores vazios, salas apagadas e computadores desligados. Nos andares da Prefeitura Municipal de Londrina, o expediente já está encerrado às 19h, de segunda-feira (19). O movimento se volta apenas ao auditório do segundo andar do prédio onde um pequeno grupo se reúne através do chamado do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Londrina. No entorno de uma grande mesa se instala um encontro para debater a situação da mulher negra, na véspera do Dia Nacional da Consciência Negra. Os integrantes do grupo já cumpriram seus expedientes e, ao fim do trabalho, estão prontos para enfrentar uma jornada em prol da igualdade de direitos. Em meio ao silêncio instalado no local, nove vozes tratam de temas urgentes da sociedade, caros à população negra: o feminicídio e o genocídio da juventude negra. “Precisamos manter a discussão sobre esses temas e buscar a elaboração de um coletivo para trabalhar sistematicamente, pensar nas propostas e ampliar os trabalhos”, defende a gestora municipal da Igualdade Racial, Maria de Fátima Beraldo. Mesmo sendo parte da agenda oficial da Prefeitura, a reunião é um símbolo de que a questão racial ainda é tratada à margem da sociedade. O avançado horário do encontro e o reduzido número de participantes - em sua maioria formado por negros - demonstram que a igualdade racial ainda ocupa essencialmente um lugar no ideário da sociedade brasileira.
Os encontros promovidos pelo Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Londrina normalmente atingem um quórum maior, cerca de 25 pessoas. Mas, devido aos eventos promovidos em comemoração ao Dia Nacional da Consciência Negra, o número de participantes acabou reduzido. “É engraçado que apenas nesta época do ano todo mundo concorda que não há racismo. Somos convidados para festas e parece estar tudo bem”, critica a psicóloga Roseane Teodoro, membro do Conselho Municipal da Promoção da Igualdade Racial de Cambé. Os integrantes do grupo da cidade vizinha a Londrina são bem-vindos, assim como grupos importantes da região, como pesquisadoras do Núcleo de Estudos AfroBrasileiros da Universidade Estadual de Londrina, membros do coletivo Black Divas e da Comissão de Igualdade Racial da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) subseção Londrina e o grupo de Trabalho de Combate ao Racismo do Ministério Público do Paraná.
Com o debate aberto, os participantes do debate expõem suas experiências pessoais sobre o racismo e a valorização da cultura negra. A cabeleireira Ana Paula da Silva, dona do salão Wana Black Hair, em Cambé, lembrou a boa sensação que teve ao perceber a mudança de comportamento de uma de suas clientes. Antes, a mulher que chegava malhumorada e grosseira foi sendo conquistada aos poucos, ao começar a adotar a estética afro. “Dava para perceber o quanto ela ganhou autoestima. Passou a se aceitar. Hoje ela é uma pessoa completamente diferente com a gente”, lembra. O relato fez com que se iniciasse uma série de ideias para novas atividades pelas quais os cuidados com a beleza seriam o pontapé inicial para a valorização das mulheres negras da região. A principal preocupação do grupo, no entanto, era a organização da comitiva que irá representar a região no Encontro Nacional de Mulheres Negras 30 Anos: contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver - Mulheres Negras Movem o Brasil, que acontecerá em Goiânia (GO), entre os dias 6 a 9 de dezembro, na qual pretendem levar os relatos e os problemas vividos pela população na região de Londrina. “A luta da mulher negra é diferente da branca. Nós, antes de mais nada, estamos preocupadas em nos mantermos vivas, manter nossos filhos livres da violência. Longe do racismo”, alertou a administradora Isabeli Ramos, que passou a integrar o grupo após ver o anúncio das reuniões nas redes socais.
A morte do jovem Matheus Ferreira Evangelista, 18, baleado durante uma abordagem da Guarda Municipal, em março, foi o ponto de partida para as reuniões do grupo. Preocupadas com os filhos, as mulheres alertam a agressividade sofrida pelos jovens negros. O clamor do grupo é para aumentar a visibilidade das dificuldades dos negros na região. “Somos uma minoria em relação aos prejuízos históricos e os negros lutam contra isso em todo o País. Aqui a situação é ainda mais complicada porque no Paraná somos uma minoria em número de pessoas”, lembrou Roseane Teodoro. A observação é comprovada com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo Censo 2010, em Londrina, a população preta e parda representa 25,78% do total dos habitantes da cidade (3,99% se declararam negros). Enquanto em Cambé, o número é de 32,63% (4,22% de negros). Outro dado alarmante é o que diz respeito à violência. Segundo dados do Atlas Violência 2018, divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) a taxa de homicídios de mulheres negras foi 71% superior à de mulheres não negras, entre 2006 e 2016, no Brasil. “Nossa luta avançou desde que a Constituição de 1988 foi promulgada. Ainda há muito o que ser feito para aumentar os direitos e a vida dos negros ser digna. Precisamos lutar para que não percamos direitos. Precisamos seguir nosso trabalho”, concluiu Maria de Fátima Beraldo, consciente de sua responsabilidade. Delegado descarta latrocínio em caso de PM
O delegado chefe da 10ª Subdivisão (SDP), Osmir Ferreira Neves, assegurou nesta terça-feira (20) que a Polícia Civil já realiza diligências para tentar encontrar o autor ou autores do assassinato do policial militar Wagner da Silva Prado, 35. Ele foi atingido, na noite do último sábado (17), com pelo menos dez tiros na cabeça, tórax e pernas quando estava em frente a uma padaria na rua Roberto Conceição, no conjunto São Lourenço (zona sul). O corpo de Prado foi sepultado no Cemitério Parque das Allamandas.
Neves explicou que o caso está sob responsabilidade da Delegacia de Homicídios, mas que investigadores da 10ª SDP estão ajudando nas apurações. “Descartamos a hipótese de latrocínio (roubo seguido de morte) nas primeiras buscas, mas é cedo para descartar qualquer linha de apuração”, afirmou. Questionado sobre o aparecimento de alguma prova, o delegado evitou dar mais informações. “Tudo está sendo verificado pelas equipes. Não posso dar mais detalhes, mas garanto que daremos uma resposta à altura deste crime grave”, comentou.
Wagner Prado estava havia seis anos na PM. Ele trabalhava na 4ª Companhia Independente, responsável pelo patrulhamento da zona norte.