Folha de Londrina

Lula é denunciado por lavagem de R$ 1 milhão

- Julia Affonso, Fausto Macedo e Ricardo Brandt

São Paulo - A força-tarefa da Operação Lava Jato em São Paulo denunciou o expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva por lavagem de dinheiro. A acusação formal levada à Justiça Federal aponta que, “usufruindo de seu prestígio internacio­nal, Lula influiu em decisões do presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, que resultaram na ampliação dos negócios do grupo brasileiro ARG no país africano”.

De acordo com a Procurador­ia da República, em troca, o ex-presidente recebeu R$ 1 milhão dissimulad­o na forma de uma doação da empresa ao Instituto Lula.

Para o Ministério Público Federal, não se trata de doação, mas de pagamento de vantagem a Lula em virtude do ex-presidente do Brasil ter influencia­do o presidente de outro país no exercício de sua função. Como a doação feita pela ARG seria um pagamento, o registro do valor como uma doação é ideologica­mente falso e trata-se apenas de uma dissimulaç­ão da origem do dinheiro ilícito - e, portanto, configurar­ia crime de lavagem de dinheiro

Esta é a primeira denúncia da Lava Jato São Paulo contra o ex-presidente. No Paraná, base e origem da operação, a força-tarefa da Procurador­ia já levou o petista três vezes para o banco dos réus - em um processo, Lula já foi condenado a 12 anos e um mês de prisão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso triplex.

Além de Lula, o Ministério Público Federal denunciou o controlado­r do grupo ARG, Rodolfo Giannetti Geo, pelos crimes de tráfico de influência em transação comercial internacio­nal e lavagem de dinheiro.

Os fatos teriam ocorrido entre setembro de 2011 e junho de 2012, quando o petista já não era presidente. Como Lula já tem mais de 70 anos, o crime de tráfico de influência prescreveu para ele, mas não para o empresário.

A Lava Jato afirma que a transação que teria levado ao pagamento de R$ 1 milhão destinado ao Instituto Lula começou entre setembro e outubro de 2011. A Procurador­ia relata que Rodolfo Giannetti Geo procurou Lula e solicitou ao ex-presidente que interviess­e junto ao mandatário da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, para que o governo daquele país continuass­e realizando operações comerciais com o Grupo ARG, especialme­nte na construção de rodovias.

“As provas do crime denunciado pelo Ministério Público Federal foram encontrada­s nos e-mails do Instituto Lula, apreendido­s em busca e apreensão realizada no Instituto Lula em março de 2016 na Operação Aletheia, 24ª fase da Operação Lava Jato de Curitiba”, informou a Lava Jato.

DEFESA

Em nota divulgada nesta segunda-feira, o advogado Cristiano Zanin Martins, que conduz a defesa do ex-presidente Lula, afirmou que a denúncia do Ministério Público Federal representa “mais um duro golpe no Estado de Direito”. “(A denúncia) subverte a lei e os fatos para fabricar uma acusação e dar continuida­de a uma perseguiçã­o política sem precedente­s pela via judicial. É mais um capítulo do ‘lawfare’ que vem sendo imposto a Lula desde 2016”, escreveu o advogado. Ainda de acordo com a nota distribuíd­a ontem, a acusação teria sido construída “com base na retórica” - sem apoio “em qualquer conduta específica praticada” por Lula.

Zanin acrescento­u que se pretendeu “de forma absurda e injurídica transforma­r uma doação recebida de uma empresa privada pelo Instituto Lula, devidament­e contabiliz­ada e declarada às autoridade­s, em tráfico internacio­nal de influência e lavagem de dinheiro”.

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