Aprendizado em pílulas, microlearning ganha espaço nas empresas
Com o microlearning, é possível aprender mesmo com pouco tempo disponível para os estudos; aprendizado se dá por pequenas porções de conteúdo que podem ser consumidas ao longo do dia
Tempo é um insumo cada vez mais em falta dentro das empresas. Mas considerando que deixar a capacitação dos profissionais de lado está fora de cogitação, as organizações estão buscando maneiras mais ágeis de inserir o conhecimento na rotina dos seus colaboradores.
“Cada vez mais o adulto tem demostrado que seu aprendizado é focado na necessidade de saber se aquilo realmente é relevante para seu desenvolvimento e tem utilidade para seu dia a dia. Então temos que buscar ser cada vez mais objetivos”, comenta Isabela de Souza Chaves, analista de Recursos Humanos Sênior de uma empresa do setor siderúrgico. “O mercado nos exige trabalhar equipes de alta performance, e isso nos faz pensar em como iremos encontrar o melhor caminho para o processo de aprendizagem, processo essencial para atingir bons resultados.”
Encontrar novas metodologias de ensino que atendam às necessidades de objetividade e agilidade é um dos desafios da educação corporativa, afirma o palestrante consultor empresarial Wellington Moreira. “Todo mundo tem a necessidade de aprender rápido e com pouco tempo disponível para se dedicar a isso.”
O microlearning é tema de palestra dele no 33º Congresso Brasileiro de Treinamento e Desenvolvimento, que ocorre de 28 a 30 de novembro na cidade de Santos (SP). Trata-se de uma metodologia em que os profissionais aprendem por meio de pequenas porções de conteúdo ao longo do dia, quer sejam vídeos curtos, textos ou podcasts. Verdadeiras “pílulas do conhecimento”, como diz Moreira. Ele e o seu sócio na Caput Consultoria, o palestrante e consultor empresarial Flávio Moura, serão os únicos paranaenses a palestrar no evento, considerado um dos mais importantes na área de T&D.
A metodologia do microlearning é viável hoje muito em função dos recursos tecnológicos disponíveis. Aprender ficou mais fácil depois que se tornou possível assistir a vídeos, ler pequenos textos ou ouvir a podcasts pelo smartphone no trajeto do ônibus, por exemplo.
Atualmente, a maioria dos treinamentos na empresa em que Isabela Chaves trabalha é presencial, em sala de aula, ou OJT (on the job). Mas a companhia está buscando diferentes metodologias para alavancar seus resultados em desenvolvimento de pessoas. Uma das possibilidades é o microlearning, conta a analista de RH. Para ela, a metodologia tem sido considerada efetiva por facilitar a memorização de longo prazo e, consequentemente, o processo de aprendizado. Por isso, o time interno de facilitadores da empresa já está passando por formação na área através de treinamentos e workshops. “Essa base será nosso ponta pé inicial para inovar no jeito de formar pessoas, só assim vamos sobreviver nesse cenário que exige alta produtividade.”
O microlearning, segundo Moreira, pode ter três objetivos. Levar o profissional a se interessar por aprender mais sobre um determinado assunto; reforçar um conhecimento aprendido em sala de aula; ou integrar um plano de estudos.
As empresas precisam buscar o formato que mais se adequa à necessidade de rapidez no aprendizado, como vídeos ou infográficos, afirma Moreira. “Antes de enviar um vídeo, as empresas precisam pensar no que as pessoas precisam aprender e como transmitir isso de maneira rápida, sem necessariamente estar dentro de uma sala de aula.”
Além disso, é preciso haver um “curador” por trás do microlearning. O conteúdo deve estar ligado a uma estratégia, e não ser simplesmente “jogado” para o colaborador.
O canal de transmissão desse tipo de conteúdo não precisa, necessariamente, ser a intranet. Um grupo do WhatsApp pode ser uma alternativa, mas o ideal é que se crie um canal exclusivo para o conteúdo, como uma plataforma de aprendizado. Hoje, já existem plataformas gratuitas com essa função, como o Moodle.
Moreira recomenda, ainda, fazer uma avaliação do aprendizado através de um rápido questionário sobre o conteúdo. O Google Forms é uma boa maneira de aplicar esse tipo de avaliação. O microlearning também precisa ser periódico. Mas é importante que também seja leve, e não imposto. O desafio das empresas é estimular os funcionários a buscar o conhecimento nos intervalos do horário de trabalho e até fora dele, caso se sintam à vontade para isso.
Por outro lado, o consultor empresarial frisa que nem todo tipo de conteúdo pode ser transmitido por “pílulas”. E para todos os efeitos, o microlearning funciona melhor se for parte de um plano de estudos, especialmente para assuntos mais complexos, como aqueles que envolvem questões comportamentais. “Ele tem que estar em uma trilha de aprendizado.”