Folha de Londrina

Palavras reais de um policial militar

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Minha crônica “O testamento do Soldado Wagner” (22.nov.2018) suscitou diversos tipos de reações. Texto mais lido do site da Folha de Londrina naquele dia, chegou a ser divulgado como um documento escrito pelo próprio policial. Essa confusão me levou a refletir sobre uma questão da empatia, que eu prefiro chamar de compaixão. A compaixão é o movimento do espírito de leva um ser humano a se colocar no lugar do outro, sentindo o que ele sente e sofrendo o que ele sofre. “O testamento do Soldado Wagner” foi apenas isso: uma homenagem a um policial querido em sua comunidade, inspirada pelos relatos de quem o conheceu de perto.

Recebi neste final de semana a mensagem do sargento Marcelo Assis, da Cia. de Choque, que parece ter compreendi­do perfeitame­nte as minhas intenções com o texto. Com a devida autorizaçã­o, reproduzo aqui as palavras reais do policial militar: “Caro Sr. Paulo Briguet,

Venho ouvindo seu nome, vez ou outra, de alguns anos para cá. Mas lhe digo que só depois de ler ‘O testamento do soldado Wagner’, fui procurar mais textos seus. E fiz isso para sanar minha curiosidad­e, imaginando o que mais escreveria um colunista com uma percepção tão aguçada a respeito da vida de um ‘simples’ policial militar? Alguém que parece conhecer nossas perspectiv­as, ansiedades e até mesmo nossos medos, sem um pensamento simplista, de que tenhamos medo de tombar em combate, mas sim o medo do que acontecerá se tombarmos em combate, o que será de nossas famílias, amigos, de nossas mães com problemas de saúde, de nossos filhos, de todos que dependem desse policial militar, financeira­mente, também, mas principalm­ente, dependem do ser humano. O senhor já seria digno de elogios, apenas por ter percebido que somos humanos, também.

Percebo que pensa diferente de muitos que atuam na mídia, que tantas vezes noticiam toda situação envolvendo ‘polícia e bandido’ como se fosse um duelo, como se fosse o time azul contra o time vermelho, ignorando o Estado contra o crime, enfim, ignorando o BEM contra o MAL. Pude imaginar os problemas que enfrenta por questionar aqueles que juram lutar pela liberdade de pensamento­s, mas execram quem é conservado­r, quem é ordeiro, quem pensa diferente deles. Em meio a essa cultura, de décadas, onde toda a preocupaçã­o é promover boas condições a quem comete crimes, ao invés de evitar que pessoas cometam crimes, textos como os seus são difíceis de se encontrar.

A dor é terrível, da família, dos amigos, da corporação, de todos que puderam conhecer o ótimo profission­al e o ser humano bom, caridoso, o ser humano que fazia muito mais que sua parte no contrato social e por isso quero lhe agradecer, apenas e simplesmen­te por estar do lado do bem e, após ler alguns de seus textos, quero também te parabeniza­r, por sua visão, por sua coesão, pelo seu senso crítico de bem social e principalm­ente por ter escolhido o outro lado, ao invés de fazer parte dessa imensa ‘VOZ’ que promove a inversão do bem e do mal.

- Marcelo Assis, 3º Sargento da Cia. de Choque da Polícia Militar.”

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Marcos Zanutto/19-11-2018

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