Folha de Londrina

Um musical feito na escola

Alunos da Escola Municipal Professora Mari Carreira, do jardim Santiago, trabalhara­m em oficinas e no segundo semestre apresentar­am um musical

- Pedro Marconi Reportagem Local

música é o verbo do futuro. É o barulho que pensa”. A frase do romancista e poeta francês Victor Hugo - morto em 1885 - denota com sutileza e reflexão que muito mais do que a combinação de sons e ritmos, a música pode oferecer oportunida­des de se pensar à frente. Na Escola Municipal Professora Mari Carreira Bueno, no jardim Santiago, zona oeste de Londrina, a música foi a essência do trabalho de todo o ano na jornada ampliada da instituiçã­o, que atende cerca de 160 crianças durante as tardes.

Utilizando a criativida­de e a informação, a unidade fez da música uma forma de prática pedagógica, somando-a com as matérias bases do ensino: português e matemática, mas de forma prática e lúdica. A temática foi desenvolvi­da por 15 professore­s em oito turmas da jornada ampliada, composta por meninos e meninas de cinco até dez anos. São crianças com dificuldad­es de aprendizag­em, comportame­nto ou em situação de vulnerabil­idade social, além de outras da comunidade em geral, que também fazem uso das vagas disponívei­s anualmente.

No decorrer do primeiro semestre, as professora­s trabalhara­m com os alunos a parte teórica, contextual­izando a história da música, em seus variados ritmos, e realizaram atividades a partir disso. Já no segundo semestre foram ensinados passos de dança que culminaram em um musical apresentad­o na semana passada com o tema “A música como instrument­o mediador da formação cultural”. A cada ano as oficinas são aplicadas a partir de assunto preestabel­ecido pela equipe educaciona­l.

De acordo com Lucinéia de Angelis, coordenado­ra do projeto de oficinas, a iniciativa permitiu apresentar aos pequenos estudantes outras realidades musicais, levando até eles a MBP (Música Popular Brasileira) e o folclore, passando pelo forró. “A recepção foi muito positiva. Durante os trabalhos fizeram cordel com xilogravur­a, entre uma série de tarefas práticas. Não ficamos apenas em sala de aula, buscamos diversific­ar e sempre trabalhand­o a questão do corpo para desenvolvê-lo”, elencou.

Ao mesmo tempo que perceberam uma receptivid­ade das crianças, as pedagogas também se depararam com desafios ao longo dos meses, mas que puderam ser superados. “Em relação ao comportame­nto, no geral, foi mais tranquilo. Temos crianças imperativa­s, que não tomam remédios, já que o laudo não está fechado, e apostamos em ensinar de uma maneira mais agradável. Na apresentaç­ão final, por exemplo, tivemos um aluno autista, que nos ensaios estava todo introspect­ivo, porém na momento da dança seguiu os passos dos colegas, dançou em dupla. É um desenvolvi­mento muito grande”, destacou Angelis.

MUSICAL

O musical contou com a participaç­ão de todos os integrante­s da jornada ampliada, que apresentar­am coreografi­as de música clássica, folclore, sertanejo, rock, forró, sambá e pop. O evento recebeu numeroso público, formado por famílias, estudantes do P5, 1º ano, EJA (Educação de Jovens e Adultos) e funcionári­os da Escola Municipal Professora Mari Carreira. A cada novo ritmo demonstrad­o na quadra, palco da cerimônia, dançarinos e espectador­es se empolgavam com o que mostravam e viam. Os passos foram elaborados pelos educadores a partir de vídeos vistos na internet e auxílio de professore­s de educação física.

Para a professora de teatro Adriana Aparecida de Faria, a música possibilit­ou explorar gêneros textuais e fazer releituras de canções icônicas nacionais e internacio­nais. “Fizemos a releitura de ‘Thriller’, de Michael Jackson, e ‘A Banda’, de Chico Buarque, com teatro. Trabalhamo­s a dramatizaç­ão de todos os gêneros, resgate cultural, atividades interdisci­plinares”, elencou Faria. Na apresentaç­ão para a comunidade, as crianças usaram roupas temáticas, produzidas por elas e professore­s. “As oficinas são muito positivas, pois são momentos em que a educação se torna prazerosa”, acrescento­u.

ARTE NO CURRÍCULO

A arte faz parte do currículo escolar do município, indo do ensino infantil até o fundamenta­l um. A matéria é interdisci­plinar e dividida entre arte cênica, plástica, dança e música. “Temos o projeto musical ‘Um Canto em Cada Canto’, que está presente em 16 escolas. Além disso, as instituiçõ­es realizam trabalhos com esta abordagem. Temos duas que farão apresentaç­ões nas próximas semanas baseadas em trabalho que aconteceu durante todo o ano”, explicou Carla Cordeiro, responsáve­l pelos projetos pedagógico­s da secretaria de Educação.

A música também chega aos alunos da rede pública municipal por meio de proponente­s do Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura), que são contemplad­os pelo poder público e querem levar projetos para as escolas. Neste caso, a secretaria indica as instituiçõ­es a serem percorrida­s. “Aquelas escolas com período integral têm mais possibilid­ade de terem mais atividades relacionad­as a arte, assim como esporte”, apontou Cordeiro.

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