Folha de Londrina

ARTESANAL –

A fabricação, a partir da palha seca do sorgo, é um meio de subsistênc­ia para pequenos produtores e seus familiares

- Vítor Ogawa Reportagem Local

A fabricação da vassoura caipira, feita a partir de palha seca do sorgo, é uma importante fonte de renda para pequenos produtores do Distrito de Guairacá, na zona sul de Londrina. O processo é todo manual. Começa no plantio e passa por mais de cinco etapas até se chegar ao produto pronto para a venda.

Avassoura é o mais popular utensílio doméstico de limpeza e para os produtores rurais do Distrito de Guairacá (zona sul) ela representa uma importante fonte de renda. A fabricação artesanal de vassouras caipiras, a partir da palha seca do sorgo-vassoura, é um meio de subsistênc­ia para pequenos produtores e seus familiares da região. Quem utiliza o utensílio em sua casa mal imagina que desde o plantio até chegar manufatura­da na residência das pessoas é preciso muito trabalho manual.

Para cultivar um hectare de sorgo-vassoura, um homem leva 30 dias. As operações vão desde a limpeza do terreno, aração (com tração animal ou motomecani­zada), gradagens, sulcagem, passado pelo plantio, cultivo, colheita, desgrana e enfardamen­to. O plantio é feito com trator e plantadeir­a, entre setembro e início de outubro, podendo ocorrer replantio com matraca. São feitas duas capinas manuais. A colheita é realizada quando a palha está amarelo- esverdeada, cerca de 100 dias após o plantio. A palha colhida é enfardada e armazenada em barracões.

O produtor Almir Pires Ribeiro, 44, possui uma fábrica de vassouras há oito anos e relata como foi a migração para esse tipo de cultura. “Primeiro a região produzia café, depois algodão e depois veio o rami. Conforme um tipo de cultura foi acabando, era substituíd­o por outra. Agora é a vez da vassoura. Isso começou há 15 anos, mas ficou mais forte há seis anos”, explicou. Segundo ele, opção pelo cultivo do sorgo-vassoura é porque ele permite um giro maior do serviço. “Ela é plantada e com 100 dias mais ou menos é feita a colheita. Aí ela brota de novo e com 80 ou 90 dias corta mais uma vez. Ou seja, plantando uma vez, conseguimo­s colher duas vezes. Se a terra for boa podemos colher até uma terceira vez. Pelo menos tem serviço para todo mundo”, destacou.

Ele explicou que a maior produção em um alqueire está relacionad­a à qualidade do terreno. “Dependendo dele podemos produzir de 250 a 300 dúzias de vassouras por alqueire.” Depois da colheita, a matéria-prima passa por um processo de secagem ao sol para poder guardar sob o teto do barracão. “Depois que secar e guardar fica mais sossegado, porque não tem problema de estragar. O importante é tirar da roça, secar e guardar no barracão”, apontou Ribeiro. Para a confecção de uma dúzia de vassouras são gastos 12 cabos, 12g de arame, 48 gramas de pregos, 36 gramas de barbantes, 12 etiquetas e 7,2kg de palha de sorgo-vassoura. No custo da produção da vassoura são computados R$ 65 a dúzia, e ela é comerciali­zada a R$ 75.

Depois dessa etapa é feita a limpeza das sementes, que podem ser utilizadas posteriorm­ente para um novo plantio. Nessa etapa também é realizada a classifica­ção do material colhido. Os ramos mais curtos são colocados no meio de uma espécie de bucha, para conferir mais resistênci­a à vassoura, e os mais longos na parte externa dele, no que eles chamam de capa. Para formar uma vassoura são unidos 25 deles. Na sequência um funcionári­o utiliza uma técnica rudimentar e eficaz para a produção da vassoura: ele pega uma corda que está amarrada no teto e com uma argola na extremidad­e. Ele envolve as várias buchas com a corda e pisa na argola, para quebrar os ramos e formar a “cabeça” da vassoura. Com um facão essa “cabeça” da vassoura é arredondad­a. A partir disso é feita a costura das cerdas e suas extremidad­es são igualadas.

Ribeiro relatou que a produção tem sido direcionad­a para todo o Brasil. “Para isso a gente precisa correr atrás dos pedidos. A maior parte vai para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A gente chega a enviar caminhão fechado para lá, carregado com até 1.200 dúzias de vassouras. No período de dois meses chegamos a enviar três carregamen­tos desses”, destacou.

Um dos funcionári­os que ajudou a produzir tamanho volume de vassouras é Gilvan Pereira da Silva, 26, que ganha por produtivid­ade. Em um dia normal ele produz 22 dúzias por dia. “Eu entro às 5 horas da manhã e vou até 16 horas. Às vezes o expediente vai até 17 horas.” Na fábrica em que trabalha são seis funcionári­os, mas quando há uma encomenda como essas é necessária a contrataçã­o temporária de mais funcionári­os.

SELO

O presidente da Associação de Moradores de Guairacá, Osvaldo Pires Ribeiro, também produz vassouras. Ele relatou que os moradores da região chegaram a criar um selo que identifica­sse as vassouras da região. “Aos poucos o pessoal foi deixando de utilizar esse selo, mas eu continuo. As minhas vassouras são conhecidas como vassouras Guairacá”, destacou.

Um dos pioneiros na produção de vassouras caipiras é José Reis de Araújo, 54, que faz isso há 20 anos. “Começamos com pouco, mas fui aumentando a produção ao longo do tempo. Antes produzia milho e café, mas o preço não ajudava e a gente foi para o lado da vassoura”, destacou. Ele enalteceu que a produção das vassouras é realizado somente com os membros da família para baratear a produção. “Só contrato gente na colheita do sorgo-vassoura. Mas o preço deveria melhorar mais um pouco”, apontou.

“Aos poucos o pessoal foi deixando de utilizar esse selo, mas eu continuo”

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Saulo Ohara
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Foto: Saulo Ohara O funcionári­o Gilvan Pereira da Silva ganha por produtivid­ade
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Utensílios vão vendidos para vários partes do Brasil

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