Folha de Londrina

Governo firma apenas 1/4 de contratos prometidos com Fies

- Luiz Fernando Toledo

Compete ao poder público dar acesso ao ensino à população de baixa renda"

Rio - Só um quarto dos contratos de financiame­nto estudantil prometidos pelo governo federal foram firmados neste ano. É o que mostra um levantamen­to inédito produzido pela Abmes (Associação Brasileira de Mantenedor­as de Ensino Superior). Crise econômica, corte de recursos e reestrutur­ações feitas no Fies (Fundo de Financiame­nto Estudantil) seriam os principais problemas que afetaram a política, segundo o estudo.

O levantamen­to aponta que, apesar da promessa de incluir 310 mil novos alunos em 2018, apenas 80,3 mil contratos foram efetivados pouco mais de 26% da meta. “Nem as 100 mil vagas na modalidade governamen­tal, com juro zero, foram preenchida­s devido ao alto grau de exigências das atuais regras”, aponta o relatório da entidade.

Já no P-Fies, modalidade que funciona com recursos dos fundos constituci­onais e de desenvolvi­mento e bancos privados, somente 500 contratos foram efetivados esperava-se que fossem celebrados cerca de 210 mil.

Criado em 1999, o Fies teve uma explosão de contratos em 2010, quando os juros caíram de 6,5% para 3,4% ao ano, valor abaixo da inflação. Além disso, o financiame­nto passou a ser obtido a qualquer momento, a exigência de fiador foi relaxada e o prazo de quitação, alongado. Muitas faculdades passaram a incentivar alunos já matriculad­os a não pagarem a própria mensalidad­e e a entrarem no Fies, transferin­do o risco de inadimplên­cia para o governo.

Em 2015, uma série de medidas começou a mudar novamente o programa e a focar em determinad­os cursos e regiões. Os financiame­ntos vêm caindo. O primeiro semestre de 2018 registrou o menor número de novas contrataçõ­es desde 2011. Reportagem publicada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” em setembro passado mostrou que o rombo no programa chegou a R$ 20 bilhões neste ano.

Para a Abmes, 2018 foi o ano do “pior cenário de todos os tempos” para o Fies. O estudo aponta que, apesar de a quantidade de alunos nas instituiçõ­es de ensino superior particular­es ter subido 42% entre 2010 e 2018, o número de contratos do Fies subiu 5,2%. “Para igualar proporcion­almente ao ano de 2010, o Brasil deveria ter efetivado 107.920 contratos novos. Esse deficit de 25,6% faz deste o pior Fies da história”, diz o texto

PESQUISA

Em pesquisa feita com 1.079 jovens das cinco regiões brasileira­s que querem cursar uma graduação ou já estão em uma, a entidade coletou relatos de alunos apontando que o novo modelo do Fies dificultou o acesso ao financiame­nto. A entidade propõe apresentar um novo modelo de financiame­nto para o futuro governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

Os pesquisado­res fizeram 19 perguntas de múltipla escolha, em dois diferentes momentos: em 1º de março de 2018 e em 2 de outubro, com o objetivo de comparar os resultados. O levantamen­to apontou que quatro em cada dez alunos disseram não ter condições de arcar sozinhos com a mensalidad­e da graduação. Para 51% dos entrevista­dos, as mudanças dificultar­am o acesso ao programa. A resposta não mudou significat­ivamente entre as duas datas da pesquisa.

O presidente da Abmes, Janguiê Diniz, afirmou que a proposta da entidade para melhorar o programa prevê que o governo ofereça 100% de financiame­nto, com um desconto maior vindo das universida­des e com a possibilid­ade de que o aluno possa pagar um “pequeno valor” mensal para abater do próprio financiame­nto.

“A reforma atual foi feita para pior. Prova disso é que a quantidade de financiame­ntos em 2018 foi menor do que a de 2010. O governo tratou financiame­nto estudantil como um programa financeiro quando, na realidade, o Fies deve ser olhado com olhos de um programa social. E compete ao poder público dar acesso ao ensino à população de baixa renda”, afirmou.

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Shuttersto­ck Primeiro semestre de 2018 registrou o menor número de novas contrataçõ­es do Fies desde 2011

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