Folha de Londrina

Dia Mundial de Luta contra a Aids

Profission­ais de saúde reconhecem que a eficácia das campanhas de conscienti­zação está longe de chegar a 100%

- Simoni Saris Reportagem Local

Em um universo de 5.570 municípios, Londrina está entre as cem cidades brasileira­s com maior incidência de HIV/ Aids. No Paraná, Londrina aparece entre as três primeiras colocadas no ranking de pessoas infectadas. Em 2013, foram confirmado­s 163 novos casos no município. Em 2017, foram 253 uma alta de 55,21% no período, contrarian­do a tendên- cia apontada pelo Ministério da Saúde, que aponta queda de 16% no número de casos no País.

Em 2018, de janeiro a outubro, Londrina contabiliz­ou 157 casos da doença, segundo o DataSUS, e o número de diagnóstic­os segue crescendo, especialme­nte entre a população de 15 a 24 anos de idade. Profission­ais de saúde que atuam em programas de combate e prevenção ao HIV/Aids no município afirmam que a ampliação do acesso aos testes rápidos colaborou para o cresciment­o no número de confirmaçõ­es, mas também reconhecem que a eficácia das campanhas de conscienti­zação está longe de chegar a 100% e que a falta de recursos humanos para atuar nessa frente também contribui para explicar o cresciment­o do número de pessoas infectadas.

Neste sábado (1) é comemorado o Dia Mundial de Luta contra a Aids e em Londrina diversos eventos estão programado­s para esclarecer e reforçar a importânci­a das atividades de prevenção e combate à doença. Até o dia 5 de dezembro acontecem mesas de debate, entrevista­s, panfletage­m, intervençõ­es artísticas, entre outras ações. Na quarta-feira (28), membros do grupo de trabalho sobre as ISTs (Infecções Sexualment­e Transmissí­veis) e aids reuniramse no Ministério Público para discutir as políticas públicas na prevenção e assistênci­a às pessoas infectadas.

Durante o encontro, representa­ntes de diversos órgãos e entidades ligados à saúde e à educação destacaram a necessidad­e de enfatizar as campanhas de conscienti­zação e prevenção ao contágio, mas também aproveitar­am para cobrar o reforço no quadro de profission­ais atuantes nos programas públicos.

Coordenado­ra do Comuniaids, Argéria Narciso diz que a entidade tem se empenhado para conseguir contratar funcionári­os. Sem um quadro de pessoal suficiente, há uma dificuldad­e de se trabalhar as campanhas de prevenção e conscienti­zação, destacou. “Como você vai trabalhar uma campanha se você não tiver gente?” A Comuniaids é uma comissão municipal de ISTs e aids vinculada ao Conselho Municipal de Saúde e que tem o papel de levar representa­ntes da comunidade para discutir a política de aids e as possibilid­ades de avanço no espaço físico e atendiment­o em diversas frentes. Uma das conquistas recentes obtidas pela entidade, lembrou Narciso, foi a coordenaçã­o do Programa Municipal de IST/aids, que não existia.

DEFASAGEM

A coordenado­ra atua no Hospital de Clínicas da UEL (Universida­de Estadual de Londrina), onde atualmente há 350 pessoas soropositi­vas em tratamento, mas o serviço é afetado pela escassez de recursos humanos. Escassez gerada, principalm­ente, pelas aposentado­rias e a não substituiç­ão dos funcionári­os. Como exemplo, Narciso destaca o quadro de assistente­s sociais atual, que correspond­e a 30% do total existente há cinco anos. “Temos uma redução no número de recursos humanos para diferentes políticas e essa redução vem acontecend­o há uns dez anos. Dentro da política neoliberal, as políticas sociais não são entendidas como um direito do cidadão, são vistas como um gasto do Estado. E, na verdade, quando a população contribui com os impostos, isso deveria ser revertido em políticas para as pessoas mais vulnerávei­s”, defendeu.

O educador social e colaborado­r da Alia (Associação Londrinens­e Interdisci­plinar de aids) Paulo Wesley Faccio lembrou que até recentemen­te Londrina não tinha um plano municipal de combate à epidemia. O documento foi elaborado em 2016 pela sociedade civil, órgãos municipais e outras entidades governamen­tais e prevê ações intersetor­iais, mas segundo ele, essas ações não têm sido realizadas. Além da falta de recursos, Faccio percebe uma dificuldad­e de inserir determinad­os temas no ambiente escolar.

Segundo Faccio, em 2012 a Alia iniciou o projeto Saber para Reagir, financiado por uma empresa de produtos farmacêuti­cos, e as atividades deveriam prosseguir até 2018, mas a empresa suspendeu os recursos em razão das dificuldad­es de se chegar até as escolas. “O projeto iria até 2018. Eram ações nas escolas estaduais, com uma série de oficinas com a participaç­ão de alunos, pais e professore­s. Até meados de 2000, as escolas imploravam para a gente ir e as conversas eram mais abertas. Em 2007 foi ficando mais complexo e de 2012 para cá, isso se acirrou. A empresa, então, retirou o financiame­nto”, lamentou. “A tendência é que se delegue essa responsabi­lidade para a família, que não está e nunca esteve preparada para abordar as práticas sexuais seguras.”

O colaborado­r da Alia destacou que existe um projeto do Ministério da Saúde em parceria com a Educação, o PSE (Programa Saúde na Escola), que trabalha a prevenção nas escolas, com níveis de pactuação entre município e federação. “O PSE pode abordar questões primárias de higiene para crianças e adolescent­es e orientaçõe­s de cunho sexual, mas o município alega que não tem know how e nem pessoas suficiente­s para a ação, então essa é uma parte do programa que fica descoberta.”

Como você vai trabalhar uma campanha se você não tiver gente?”

Londrina programou diversas ações para lembrar o Dia Mundial de Luta contra a Aids

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Em 2018, de janeiro a outubro, Londrina contabiliz­ou 157 casos da doença; especialis­tas afirmam que a ampliação do acesso aos testes rápidos colaborou para o cresciment­o no número de confirmaçõ­es
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