Folha de Londrina

ALÉM DA DIETA -

Mais do que dieta regrada, comer bem também é sinônimo de consciênci­a sobre o alimento e seus benefícios

- Pedro Marconi Reportagem Local O repórter viajou a convite da Rede Rotulagem

Comer bem é sinônimo de consciênci­a sobre o alimento e seus benefícios. A empresária Hellen Niedziejko adotou um novo estilo de vida, com cardápio rico em fibras, frutas, verduras, legumes e oleaginosa­s

São Paulo - Comer com consciênci­a e bem informado sobre o que está consumindo. Na busca por uma vida mais saudável e com alimentaçã­o regrada, estes dois fatores podem ser mais do que um diferencia­l: se tornam fundamenta­is. Ainda mais numa atualidade “bombardead­a” por boatos, dietas e produtos que prometem grandes transforma­ções em pouco tempo. Entender os rótulos dos produtos também é uma maneira de ficar mais esclarecid­o.

A nutricioni­sta Vanderli Marchiori defende que a informação “liberta”. Secretária-geral da Associação Brasileira de Nutrição Esportiva, a profission­al afirma que a restrição alimentar não educa. “Se não educo em médio período de tempo, a pessoa vai voltar ao consumo anterior ou simplesmen­te vai ter uma dieta completame­nte equivocada e desbalance­ada”, elenca. “Posso escolher um alimento que me dá prazer e que não tenho frequência alta, mas posso incluí-lo se souber escolher”, adverte ela, que junto com outros especialis­tas da área participou de encontro promovido pela Rede Rotulagem, em São Paulo, na semana passada.

Segundo Marchiori, o conceito do “você é o que você come” não se aplica mais de forma tão extrema em relação a quando surgiu. Hoje em dia, o equilíbrio soma-se a este ditado. “O ideal é que a pessoa tenha um consumo com frequência­s diferentes, porções adequadas, com ela entendendo o que pode ser consumido e não apenas achar, por exemplo, que castanhas são boas para diminuir problemas cardiovasc­ulares. É preciso entender o quanto disso preciso para gerar resultados, quantos dias têm que consumir e quais os reais benefícios. Uma rotulagem mais clara ajuda para que cada pessoa aprenda e saiba escolher.”

Para a bióloga Natalia Pasternak, muitos dos que optam por uma vida mais saudável fazem algumas confusões com a dicotomia correlação e causa e sobre perigo e risco quando o assunto é alimentaçã­o. No primeiro caso, destaca que o fato de deixar de consumir determinad­o produto e considerar que aquilo lhe trouxe benefícios não pode ser reconhecid­o como uma conclusão técnica. “Se constata isso a partir de pesquisas com animais, estudos controlado­s, divisão em dois grupos, estudo de população e prospectiv­o. É assim que vamos analisar causa e efeito”, indica.

DOIS CONCEITOS

Na situação de risco e perigo, a pós-doutora em microbiolo­gia de genética molecular de bactérias explica que existem diferenças entre os significad­os. “Perigo não é risco. Para correr risco tem que estar exposto e em grandes quantidade­s. Temos que

tomar muito cuidado nestes dois conceitos, principalm­ente quando falamos de alimentos”, diz, citando um estudo coordenado pelo Iarc (Agência Internacio­nal de Pesquisa em Câncer), que

faz parte da Organizaçã­o Mundial de Saúde das Nações Unidas.

A pesquisa mostrou que a substância acrilamida, presente no café e liberada após o grão ser torrado, pode

causar câncer. “Isso é uma análise de perigo. Já a análise de risco chegou à conclusão de que é preciso consumir 50 litros de café por dia durante um ano para apresentar risco mínimo de desenvolve­r tumor por este motivo. Ou seja, é impossível ingerir tudo isso. Em tempos de todos colhendo informação na internet, e com circulação de boatos, a atenção deve ser redobrada”, exemplific­a Pasternak.

EXERCÍCIOS FÍSICOS

Além da alimentaçã­o, a prática de exercícios físicos ajuda a estimular uma consciênci­a saudável, desde que também se empregue a consciênci­a. O educador físico Marcio Atalla considera que faltam políticas públicas para ajudar a população a criar o hábito. “Se fala muito no alimento, mas se esquece da atividade física. Tem que se pensar em política de saúde pública como um todo, que envolva informação, empoderand­o as pessoas com o melhor poder de decisão e possibilit­ando que coloquem isso em prática”, sugere.

Atalla lamenta que o caminho que vem sendo trilhado na saúde brasileira sobre a vida saudável não vem alcançando resultados satisfatór­ios em índices, como de obesidade. Em dez anos, a prevalênci­a da doença passou de 11,8%, em 2006, para 18,9%, em 2016. Entre os jovens, a obesidade aumentou 110% entre 2007 e 2017.

Os profission­ais alertam sobre a erroneidad­e de se classifica­r alimentos como “proibidos” no dia a dia. Eles sinalizam que procurar ajuda especializ­ada é uma das maneiras de não entrar em dietas que acabam não fazendo bem para a saúde. “Decisões informadas são decisões melhores. Comer de tudo, com moderação, fazer exercícios. Não existe receita pronta e o consumidor, nos rótulos, precisa ter acesso à informação adequada”, recomenda a bióloga Natalia Pasternak.

“Perigo não é risco. Para correr risco tem que estar exposto e em grandes quantidade­s”

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Gustavo Carneiro
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Gustavo Carneiro “Procuro alimentos com menos ingredient­es, porque é mais natural”, explica Hellen Letícia Barros Niedziejko

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