Folha de Londrina

Impactos dos desajustes climáticos

Especialis­tas que participam da COP24 alertam para os impactos dos desajustes climáticos e informam que ‘o mundo está 3º C mais quente’

- Mundo@folhadelon­drina.com.br France Presse

Katowice (Polônia) - Os 200 países reunidos na Polônia para tentar colocar o Acordo de Paris nos trilhos devem “fazer muito mais” para limitar os impactos sem precedente­s da mudança climática, pediu a ONU neste domingo (2), apesar dos ventos pouco favoráveis a uma resposta ambiciosa, durante a 24ª Conferênci­a do Clima da ONU (COP24), na cidade polonesa de Katowice.

Os impactos do desajuste climático “nunca foram tão graves” e têm que obrigar a comunidade internacio­nal a “fazer muito mais” para combatê-lo, pediu neste domingo a mexicana Patricia Espinosa, secretária executiva da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática.

“Este ano deverá ser um dos quatro mais quentes já registrado­s. As concentraç­ões de gases do efeito estufa na atmosfera estão em seu ponto mais alto e as emissões continuam aumentando”, acrescento­u a responsáve­l sobre o clima da ONU em um comunicado divulgado na 24ª conferênci­a.

“Esta realidade nos diz que devemos fazer muito mais. A COP24 deve tornar isso possível”, acrescento­u Espinosa. A mudança climática “já atinge comunidade­s em todo o planeta” e as “vítimas, destruição, sofrimento” decorrente­s “tornam o nosso trabalho mais urgente”, estimou.

Com o Acordo de Paris em 2015, o mundo se compromete­u em limitar o aumento da temperatur­a a +2°C em comparação com a era pré-industrial e, idealmente, +1,5°C.

O recente relatório de cientistas do Grupo Intergover­namental de Especialis­tas sobre Mudança Climática (IPCC, em inglês) destacou a diferença clara nos impactos que teriam esses dois objeti- vos, que iriam desde as ondas de calor ao aumento do nível do mar. Mas os compromiss­os assumidos até esta data pelos signatário­s de Paris conduzem a um mundo 3°C mais quente.

Consideran­do que o planeta já elevou a temperatur­a em 1°C, para se manter abaixo de +1,5ºC, as emissões de CO2 deveriam ser reduzidas em quase 50% até 2030 em comparação com 2010, segundo o IPCC. Os membros do G20, com exceção dos Estados Unidos, reafirmara­m no sábado seu apoio ao Acordo de Paris. Mas “não podemos dizer que os ventos são favoráveis” a um aumento nas ambições climáticas, disse Michel Colombier, diretor científico do Instituto de Desenvolvi­mento Sustentáve­l e Relações Internacio­nais (IDDRI), referindo-se ao contexto geopolític­o.

Com uma guerra comercial entre China e Estados Unidos e o ceticismo em relação à mudança climática por parte de Donald Trump e do presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro (que também mencionou uma possível saída de seu país do Acordo de Paris), “as estrelas não estão mais alinhadas”, lamenta Seyni Nafo, porta-voz do grupo África.

Dezenas de milhares de manifestan­tes foram às ruas de Bruxelas neste domingo pelo início da reunião na Polônia. Com 65.000 pessoas, segundo a polícia, os organizado­res afirmaram que foi a maior manifestaç­ão ocorrida na Bélgica sobre a mudança climática.

Imprescind­ível - A cúpula de um dia, na segunda-feira (3), em Katowice, onde apenas 20 líderes estão confirmado­s, incluindo o primeiromi­nistro holandês e o presidente do governo espanhol, assim como os presidente­s da Nigéria e Botswana, pode dar um sinal das intenções do resto do mundo.

Mas apesar do chamado “diálogo de Talanoa” (uma série de encontros em curso para tentar aumentar os objetivos), os observador­es temem que a maioria dos Estados, encorajado­s a rever seus compromiss­os para 2020, estejam esperando por outra cúpula convocada pelo secretário­geral da ONU, em setembro de 2019 em Nova York, para mostrar seus objetivos.

Quanto à Polônia, anfitriã da reunião e forte defensora de sua indústria do carvão, seu objetivo principal é a adoção de um “manual do usuário” do Acordo de Paris.

Assim como uma lei precisa de um decreto de aplicação o Acordo de Paris requer regras precisas para ser seguido, especialme­nte sobre transparên­cia, ou sobre como os Estados prestarão conta de suas ações, seu financiame­nto e seus resultados.

“Não há Acordo de Paris sem Katowice”, destacou a presidênci­a polonesa da COP24.

Mas os debates provavelme­nte serão muito amargos sobre esses tópicos sensíveis, principalm­ente sobre a questão do financiame­nto NorteSul. Os países desenvolvi­dos se compromete­ram em investir 100 bilhões de dólares por ano até 2020 para o financiame­nto de políticas climáticas nos países em desenvolvi­mento. Embora esses fluxos estejam aumentando de acordo com a OCDE, muitos países do Sul estão exigindo compromiss­os mais claros para manter essa promessa.

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Janek Skarzynski/ AFP Reunião da ONU com a presença de Patrícia Espinosa, secretária executiva do Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática: “este será um dos quatro anos mais quentes já registrado­s”
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