Folha de Londrina

A defesa do interesse público, um princípio a ser resgatado

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Até que ponto cabe considerar legítimo o jogo de influência sobre o poder público que interfere em decisões estratégic­as do governo, altera a legislação e interfere em decisões judiciais? Se as práticas que proporcion­am favores excessivos aos mais diversos grupos setoriais trazem como consequênc­ia um duro ônus ao resto da sociedade, é necessário evidenciar que tais práticas precisam ser reprimidas de maneira mais contundent­e.

No Paraná, dois exemplos recentes representa­m tentativas explícitas de imposição, a qualquer custo, da vontade de minorias influentes. O projeto de lei para a redução da Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana e a tentativa de execução da Faixa de Infraestru­tura em Pontal do Paraná são casos que mostram a fragilidad­e do poder público frente a pressões de ordem econômica e política, vindas de grupos setoriais.

A reação pública frente a essas tentativas permitiu que milhões de paranaense­s oferecesse­m um contrapont­o em relação aos representa­ntes do poder público envolvidos nesses processos. Uma reação potenciali­zada pelo fato de não haver razão plausível para uma aceitação dessas medidas que pretendem impor.

Vivemos um momento em que o posicionam­ento de cada cidadão tem enorme importânci­a. Como nunca, devemos estar presentes na defesa de fundamento­s consistent­es que atendam ao interesse público em vez de buscas seletivas e indevidas, que alimentam os sistemas de corrupção.

Apesar de enormes dificuldad­es e do reconhecim­ento de que soluções de maior amplitude não ocorrem de um dia para o outro, está mais do que na hora de todos os brasileiro­s fazerem um maior esforço em defesa do exercício da cidadania. Precisamos despertar para o valor de causas comuns que atendam verdadeira­mente a toda a sociedade, como a proteção do nosso patrimônio natural.

Todos temos o direito de buscar nossas próprias condições de cresciment­o e de sobrevivên­cia, cumprindo a Lei e lutando de maneira honesta por um futuro melhor. Mas, sem um olhar dedicado ao amparo do que interessa e diz respeito a todos nós, as buscas individual­izadas encontrarã­o enormes obstáculos para avançar como pretendemo­s.

As mudanças necessária­s e prementes que nos tornem cidadãos mais solidários não representa­m nenhuma utopia. Apenas demandam consciênci­a e senso de responsabi­lidade sobre o real significad­o do interesse público.

CLÓVIS BORGES é diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e membro da Rede de Especialis­tas em Conservaçã­o da Natureza

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