Aumenta número de casos no Creas
Centro de Assistência Social recebeu 300 casos de violação aos direitos dos idosos e pessoas com deficiência
“Quando o idoso chega aqui, ele já está vivenciando aquela violência há anos”
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unca imaginei na minha vida que a minha velhice seria dessa maneira”, desabafa a aposentada que preferiu não se identificar. Aos 69 anos, a moradora de Londrina enfrenta uma realidade cada vez mais comum entre os idosos. O filho, com mais de 40 anos, está desempregado, é usuário de drogas e mora com a mãe. Aos poucos, objetos da casa sumiram e surtos de agressividade a deixaram apavorada. “Tive que colocar uma chave na porta do meu quarto e fico horas trancada. Às vezes, nem consigo dormir. Não sei até quando vou aguentar”, lamenta.
A idosa sofreu em silêncio durante dez anos e só agora conseguiu buscar ajuda. Ela é atendida no Creas 4 (Centro de Referência Especializado de Assistência Social). O local oferece apoio a idosos e a pessoas com deficiência que enfrentam situações de violação de direitos. Em 2018, o centro de referência registrou aumento no número de casos. Entre janeiro e outubro foram 327 ocorrências. Em todo o ano passado foram registradas 283. Já a quantidade de casos em acompanhamento ultrapassa 3,4 mil.
Conforme a assistente social Carolina Arfelli, todos os casos são atendidos de imediato e não há fila de espera. “Quando necessárias, as primeiras intervenções começam em 15 dias”, ressalta. Quando a própria vítima não procura ajuda, parentes, amigos e profissionais da rede de saúde fazem a denúncia. “Esse aumento da procura, a gente não sabe se ocorre por causa do aumento da divulgação do Disque 100 e do telefone 181 (para denúncias) ou mesmo por causa da divulgação feita pelas próprias pessoas atendidas”, completa a assistente social.
As principais violações aos direitos dos idosos são negligência; abandono; violências física, psicológica, sexual e financeira e violências múltiplas. No Creas 4, os profissionais acolhem as vítimas, repassam orientações, realizam os encaminhamentos necessários e acompanham as famílias. “Os idosos se sentem acolhidos e em segurança aqui. Se acontecer algum problema em casa, ele já liga para o técnico novamente. Eles se sentem aliviados só de virem aqui fazer a denúncia, sabem que tem alguém que se preocupa com eles e que está fazendo alguma coisa para tentar mudar essa situação”, ressalta a coordenadora do Creas 4, Genilda Stábile.
A crise econômica, o desemprego e o uso de drogas por parte de familiares das vítimas estão entre os motivos para inúmeros casos de violência contra os idosos. Muitos aposentados se tornaram os únicos responsáveis pela renda mensal das famílias. Mesmo com as frequentes situações de violência, boa parte das vítimas teme formalizar a denúncia e romper o único vínculo familiar.
“Quando o idoso chega aqui , ele já está vivenciando aquela violência há anos. Só agora ele resolveu falar ou só agora o caso foi informado. Muitas vezes, ele não tem perspectiva de melhora. A gente até propõe para que ele participe de atendimentos com a família, mas o idoso já não vê uma solução, não quer participar, ir ao Centro de Convivência, por exemplo. Ele tem vergonha, não quer sair de casa ou até não pode sair porque o familiar pode pegar os objetos dele para vender”, afirma a psicóloga Ana Paula Carvalho, que também integra a equipe especializada.
Muitos agressores, segundo a psicóloga, negam que tenham cometido a violência. Eles também são atendidos e encaminhados pela equipe. Quando a ocorrência também envolve a necessidade de internação do familiar usuário de drogas, o atendimento é realizado em conjunto com o Caps (Centro de Atenção Psicossocial). No entanto, a resposta depende da demanda na rede de saúde.
CÁRITAS
Idosos acamados ou com dificuldades de locomoção também vítimas de violência são atendidos pela Cáritas Arquidiocesana de Londrina que oferece o serviço de proteção especial para pessoas com deficiência, idosas e suas famílias. De janeiro a outubro deste ano, a equipe realizou 2.254 atendimentos domiciliares e 4.015 atendimentos descentralizados (como pedidos de orientações e de doações).
A coordenadora do serviço, Luana Campos, explica que não há limite de renda para solicitar a ajuda da equipe. Assistentes sociais e psicólogos atendem em todas as regiões da cidade. “A legislação avançou bastante e isso é importante para a oferta de serviços e a garantia dos direitos da pessoa idosa. O município de Londrina também implantou novos serviços a partir de 2015. Isso é bastante positivo, mas o atendimento ao idoso precisa integrar todas as políticas. A gente ainda precisa, por exemplo, de uma educação que fale sobre o envelhecimento para que a gente possa tratar os idosos de forma mais respeitosa entendendo que ele também é um cidadão e que têm direitos. A sociedade precisa se preparar para isso”, aponta. O Creas 4 fica na avenida Rio de Janeiro, 1.560, centro. O telefone para contato é (43) 3378-0405. O atendimento da equipe da Cáritas pode ser solicitado pelo telefone (43) 3354-2853 ou pelo e-mail notificacao@caritaslondrina. com.br. É necessário informar o nome da vítima, a idade, o endereço e fazer o relato. Denúncias de violação aos direitos dos idosos também podem ser feitas por meio do Disque 100 e do telefone 181. Não é necessário se identificar ao registrar a denúncia.