Perda da Central de Valorização de Resíduos Urbanos é preocupante
Em tempos recentes, a reciclagem representa uma alternativa para fazer frente ao crescente volume de resíduos urbanos, produzido de forma crescente pela sociedade em geral. A reciclagem contribui para a preservação ambiental, redução de custos públicos com aterros e se tornou uma fonte de renda para muitas famílias, que tiram o sustento dos materiais e embalagens que descartamos cotidianamente.
No Brasil, embora presente em grande número de municípios, a coleta seletiva ainda é um processo incipiente abrange um restrito número material. Um destaque positivo no país são as latas de alumínio (IBGE, 2011), recolhidas antes de chegar ao sistema de coleta, sobretudo, pelo valor atrativo conferido ao material.
Enquanto isso, outros materiais “menos nobres” como por exemplo, madeiras, vidros, tecidos e determinados plásticos, continuam a apresentar índices de reciclagens baixíssimos e muitos são dispensados como rejeitos nos aterros sanitários, após todos esforços das cooperativas em coletá-los (como por exemplo: transbordo, separação, triagem e transporte), incorrendo em perdas financeiras não recuperáveis.
Em Londrina, para minimizar o complexo problema dos resíduos e atender a legislação nacional vigente relacionada a responsabilidade compartilhada e logística reversa, foi realizado um acordo setorial que levou a criação da CVMR (Central de Valorização de Materiais Recicláveis), cuja finalidade principal era beneficiar e facilitar a comercialização em escala dos materiais previamente triados nos barracões das cooperativas, agregando valor comercial.
Após a transformação dos resíduos coletados em flakes (plásticos em pequenos flocos para utilização industrial na produção de itens diversos), a central se responsabilizaria por fazer a comercialização em larga escala do material processado para a indústria.
Para cumprir como a finalidade proposta, no segundo semestre do ano de 2016, a Prefeitura Municipal por meio da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização de Londrina), estabeleceu um termo de cooperação para a implementação do programa nacional “Dê a mão para o futuro: reciclagem, trabalho e renda”. Esse tratado de cooperação envolveria as empresas fabricantes, o Município, as cooperativas já constituídas e a participação da população de forma geral.
A central de resíduos começou a operar em julho de 2017, com o objetivo de concentrar em um só lugar todo o processamento de resíduos coletados e triados pelas sete cooperativas existentes na cidade. A comercialização em volume afastaria as cooperativas dos atravessados e asseguraria uma boa margem de ganho, sendo que o lucro gerado, deveria ser revertido as cooperativas que em síntese, seriam as “proprietárias” da central de resíduos.
A tarefa das cooperativas era entregar o material triado na central e em contrapartida receberiam um preço justo pelos resíduos coletados e triados.
A CVMR por sua vez, se encarregaria de fazer o beneficiamento e a venda, em massa, do material entregue e, no final do ano, repassaria as cooperativas o lucro advindo da comercialização.
Entretanto, por motivos ainda não muitos claros, no mês de agosto de 2018, depois de um período de tentativas marcadas pelas disputas de poder, mal entendimentos e sabotagens dos agentes que deveriam defender os interesses coletivos, a central de resíduos teve suas atividades encerradas. Tudo indica que o investimento de aproximadamente três milhões de reais e os equipamentos ali empregados por meio do acordo de cooperação, serão instalados em outro município do estado do Paraná, que possivelmente, será mais receptivo ao empreendimento.
Nesse caso, algumas perguntas se fazem inevitáveis: Porque perdemos a Central de Valorização de Resíduos? O que poderíamos ter feito? Existe um culpado? O que aprendemos com isso?
Esse artigo, não tem a intenção de encontrar respostas para questões tão inquietantes. Mas, tem o propósito de chamar a atenção da coletividade para um fato inédito na cidade londrinense, já marcada por tantos descasos e falta de cuidados, registrados na memória recente da cidade.
O fato indelével é que perdemos localmente um projeto importante e, assim, deixamos de consolidar Londrina como uma cidade arrojada em temos de gestão de resíduos urbanos, dada a vantagem competitiva alicerçada no sistema cooperativista.
O fato indelével é que perdemos localmente um projeto importante e, assim, deixamos de consolidar Londrina como uma cidade arrojada em temos de gestão de resíduos urbanos”
SAMARA DA SILVA HEADLEY, professora mestra colaboradora do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Londrina e pesquisadora no projeto de pesquisa “Gestão de Resíduos Sólidos Recicláveis na cidade de Londrina”