Livro reúne um século e meio de crônicas do PR
Antologia traz textos publicados na imprensa paranaense com nomes conhecidos do jornalismo e da literatura do Estado
Aantologia “O Tempo Visto Daqui: 85 Cronistas Paranaenses” organizada por Luís Bueno, professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná) será lançada nesta quinta-feira (13), a partir das 17h30, na Arena BPP (Biblioteca Pública do Paraná). Ao longo de 356 páginas, a obra reúne mais de um século e meio de produção e publicação de crônicas na imprensa paranaense, em que os leitores vão encontrar desde textos veiculados no jornal “O Dezenove de Dezembro”, primeira publicação do Estado, a nomes conhecidos do jornalismo e da literatura doParaná.
Dentre os nomes de Londrina, estão escritores como Ademir Assunção com a crônica “Roteiros roteiros roteiros”; Edilson Pereira com “A Outra Morte de Godofredo de Carvalho”; Edson Vicente com “No woman no cry”; Lélio César com “O Caçador de Aranhas”; Miguel Sanches Neto com “A Pé em Peabiru”; Nelson Capucho com “O Pássaro da Primavera”; Nilson Monteiro com “Casa”; Paulo Polzonoff Jr. com “Graças e Desgraças”; Wilson Bueno com “Vitória, a Única”. Além destes, estão presentes cronistas que, atualmente, publicam com periodicidade na Folha de Londrina, como Célia Musilli com o texto “Lição de Primavera”; Domingos Pellegrini com “Ensinando Deus”; Luiz Geraldo Mazza com “Os Meninos da Tude” e Paulo Briguet com “Saudade das Saudades”.
Também estão na lista outros escritores já consagrados do Estado como Cristovão Tezza, Dalton Trevisan, Caetano Galindo, Denise Stoklos, José Castelo, Marco Aurélio Cremasco, Sylvio Back, Valêncio Xavier e Paulo Leminski. Para o organizador do livro, a qualidade da antologia está, portanto, em trazer à lembrança intelectuais de diferentes áreas e épocas. “Tendo mantido colaboração em jornais e revistas, não se tornaram escritores de renome, fosse por qual motivo fosse”, explica Luís Bueno. O organizador da obra comenta que a crônica é um gênero cercado de gêneros por todos os lados, “comunicando-se com todos e incorporando tudo a partir do olhar dessa figura curiosa e atenta que é o cronista”.
O TIME DA FOLHA
Para Domingos Pellegrini, que assina a coluna semanal “Aos Domingos Pellegrini”, na Folha de Londrina, crônicas publicadas em jornais e reeditadas em livro podem ser vistas não só como fragmentos de um tempo que passou, “mas também como testemunhos de permanência de valores e visões de seus autores”. “Isso torna esse tipo de livro um painel de seu tempo ecoando para sempre. Esta obra é um Paraná em pedacinhos para sacar a qualquer tempo. A crônica “Ensinando Deus” foi escrita a quatro mãos, por mim e por minha mãe. Ela sonhava escrever, e até deixou seus escritos que guardo comigo, e tinha muito orgulho do filho escritor. Nessa crônica nos encontramos, ela ditando e eu escrevendo”, conta o jornalista e escritor.
O jornalista e escritor Paulo Briguet, que, atualmente assina a coluna diária de crônicas “Avenida Paraná” também destaca a relação entre o homem e o tempo como a principal característica do gênero. “Como sou cronista diário, travo um permanente duelo com esse meu aliado e inimigo. Aliado, pois o passado e futuro são as fontes em que busco o meu presente. Inimigo, pois todos os dias o prazo para entregar a coluna é inescapável. Fico contente que os organizadores da obra tenham escolhido a minha crônica “Saudade das saudades”, pois ela une duas irrupções da eternidade no tempo - o lamento de um rei galego que perdeu o filho em 1108 e o lamento de Camões no exílio quatro séculos depois.”
Quem acompanha o cenário da política estadual e nacional, acompanha diariamente a “Coluna do Mazza”, escrita por Luiz Geraldo Mazza na Folha de Londrina há 37 anos, trazendo os bastidores dessa área. No entanto, o jornalista - no auge de seus 87 anos de idade - começou como cronista no extinto “Diário do Paraná”, no início da década de 50. “Produzia um texto com pretensão mais literária em que a cultura estava presente nos temas. A linguagem era mais exagerada, com adjetivos. Essa crônica foi escrita nesta época. Depois, já na década de 70, ingressei no jornalismo diário, os textos tornaram-se factuais e pragmáticos e os temas mais ácidos, principalmente por tratarem de política”, lembra ele, sobre o período.
Outra jornalista e escritora que integra a lista da antologia é Célia Musilli, atualmente editora da Folha 2, caderno de cultura da Folha de Londrina, que também escreve semanalmente crônicas para a coluna da Folha de Londrina desde o começo dos anos 2000. “Este livro é significativo por reunir e reconhecer cronistas do Paraná. Escrever crônicas, para mim, é como uma fotografia: é uma cena do cotidiano que transforma-se em texto literário e poético. Tudo vira assunto, de um anônimo, um desconhecido; pessoas e acontecimentos com os quais ‘esbarro’ no dia a dia e se misturam às minhas memórias. “Lição de Primavera” fala das perdas, uma metáfora do ressurgimento e superação na vida das pessoas”, conta.