Londrina tem redução de 60% em homicídios
Dados entre janeiro e setembro mostram queda em relação ao mesmo período do ano passado. Redução no Paraná foi de 13,4%
Onúmero de assassinatos na região de Londrina entre janeiro e setembro deste ano caiu 55,6% na comparação com o mesmo período de 2017, apontam dados da Sesp (Secretaria de Segurança Pública do Paraná).
Segundo o relatório da Coordenadoria de Análise e Planejamento Estratégico, foram 51 mortes intencionais até setembro, conta 115 nos três primeiros trimestres do ano passado. Somente no município de Londrina, a redução foi de 60% (de 86 para 34).
No estado, o número de homicídios dolosos caiu 13,4% no mesmo período analisado: foram 1.464 - 227 assassinatos a menos. Não estão contabilizados os latrocínios (78) e crimes de lesão corporal seguida de morte (30), que se somam aos homicídios dolosos para o cálculo dos Crimes Violentos Letais Intencionais.
Em Londrina, o delegadochefe da 10.ª Subdivisão da Polícia Civil, Osmir Ferreira Ne- ves, atribui a queda a uma política preventiva de integração entre as polícias e a Guarda Municipal e à reestruturação da delegacia de homicídios.
“Essa redução vem se mantendo permanente desde o segundo semestre do ano passado e coincide com a reestruturação da delegacia, onde passou a haver um maior esclarecimento de crimes e, principalmente, a identificação, nas quadrilhas de traficantes de drogas, dos indivíduos propensos à prática de homicídio”, disse, por telefone.
A Sesp também atribui os resultados à integração das forças de segurança do estado e a um conjunto de melhorias, do policiamento ostensivo à contratações na Polícia Científica, passando por capacitações na Escola de Polícia.
Segundo o relatório, a tendência é de queda também nas regiões de Cascavel (-36,2%), Apucarana (-29,4%), Francisco Beltrão (-28,5%), União da Vitória (-26,6%), Toledo (-25,5%) e Rolândia (-21,8%). Em Curitiba, a redução no período foi de 18,4%. Já no Litoral, houve um aumento de 5%, decorrente de quatro homicídios a mais do que no ano passado entre janeiro e setembro.
MOVIMENTO NACIONAL
A pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Roberta Astolfi lembra que variações em localidades com baixos volumes de homicídios podem ser apenas flutuações ocasionadas por episódios isolados e que a SespPR não contabiliza mortes em confrontos com a polícia. Ela avalia, contudo, que a queda registrada no período é consistente com o movimento que vem sendo observado no Paraná desde por volta de 2011, conforme mostra a série histórica do Anuário Brasileiro de Segurança Pública produzido pela entidade.
Segundo Astolfi, ainda que as quedas venham ocorrendo mais lentamente no estado, o movimento é similar ao que vem sendo observado em outras unidades da Federação, como São Paulo, onde houve refluxo depois de aumentos significativos. No Paraná, este ápice ocorreu por volta de 2010. A partir do ano seguinte, foram sendo observadas quedas sucessivas. “A gente vê esse um processo em vários estados brasileiros e em vários lugares do Ocidente”, conta a pesquisadora.
Para Astolfi, as estatísticas do estado - que está no grupo intermediário na classificação da qualidade dos dados disponibilizados, segundo o Fórum - provavelmente refletem, de fato, uma diminuição neste tipo de crime. “Já a explicação para a queda é muito mais difícil de compreender”, diz a pesquisadora.
“Há fatores muito variados e complexos que, juntos, vão causar essa queda. Pode ser uma atuação da polícia, mas podem ser também fatores demográficos”, explica.
A nível estadual, a presença ostensiva da polícia e ações preventivas têm impacto na redução do número de homicídios. No entanto, não deve ser descartada a hipótese de uma indústria de controle do crime, em que a hegemonia de determinadas organizações criminosas no território pode ter como reflexo uma diminuição no número de mortes, na avaliação do professor de Sociologia e do Mestrado em Direitos Humanos e Políticas Públicas da PUC-PR Cezar Bueno de Lima.
“Com essa perspectiva de organizações criminosas cada vez mais controlando o fluxo de produção de distribuição de drogas, isso tem resultado - de uma maneira até perversa - em uma ‘pacificação’ em relação ao número de mortes. Eliminase os concorrentes e se estabelece uma espécie de monopólio que tem como consequência a diminuição no número de crimes em centros urbanos”, diz Lima.
Ele lembra que a proximidade geográfica com São Paulo enseja a presença no Paraná do mesmo crime organizado que pode ter concorrido para “pacificar” o estado vizinho.
O sociólogo alerta, ainda, que uma redução do número de assassinatos não pressupõe maior segurança, já que pode haver “deslocamento” para outras modalidades de práticas criminosas, que continuam causando medo na população.
“A redução de homicídios é um fator importante para sociedade e aponta, em algum momento, para uma política mais efetiva do setor de segurança e repressão do Estado. Mas está longe de afirmar que essa perspectiva é perceptível por parte da maioria dos cidadãos, que continuam amedrontados por diversas outras modalidades de crimes”, diz.