Folha de Londrina

O agronegóci­o e um possível tiro no pé

- WILSON FRANCISCO MOREIRA, sociólogo em Londrina

O agronegóci­o brasileiro é sem dúvida um dos maiores pilares da economia nacional. O desenvolvi­mento nas últimas décadas foi intenso e positivo. A redução dos preços da alimentaçã­o na mesa do brasileiro passa pela disposição e pelo trabalho dos agricultor­es e pecuarista­s, assim como pelo trabalho dos cientistas brasileiro­s envolvidos nas pesquisas no campo. No último ano as exportaçõe­s brasileira­s pelo agronegóci­o passaram dos cem bilhões de dólares, o que confirma a excelência de nosso setor produtivo.

Ocorre que toda essa excelência e respeito conquistad­o pelos nossos produtos agropecuár­ios pelo mundo afora pode sofrer com as decisões políticas do novo governo que está por assumir. Questões como o meio ambiente e relações exteriores deveriam ser preocupant­es para todos os que estão envolvidos no agronegóci­o. Embora saibamos que o setor foi um dos responsáve­is pela vitória do presidente Jair Bolsonaro e que continuam apoiando e colaborand­o em várias áreas, cabe ressaltar as perversas consequênc­ias de ações ou omissões políticas em áreas ligadas direta ou indiretame­nte ao agronegóci­o.

A mais importante área que diz respeito diretament­e aos produtores rurais é a de relações exteriores. Quantidade importante de produtos é exportada para diversos países do mundo, independen­te de regimes políticos locais ou religiões, o comércio se restringe aos produtos. O comércio com a China é o maior com soja, com a Rússia e países árabes é grande em boi, porco e frango, assim como com diversos produtos em vários países. Portanto a relação comercial do Brasil com o exterior deve ser levada em conta na política externa.

Criar problemas com a China ou a Rússia por motivos ideológico­s, ou com países do Oriente Médio pode refletir diretament­e nas relações comercias do Brasil, atingindo assim o agronegóci­o em cheio. O problema que pode surgir com os árabes é a intenção de mudar a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, o que pode ser considerad­a uma afronta aos palestinos e árabes, pois Jerusalém ainda não possui status definido e reconhecid­o internacio­nalmente como capital de Israel.

Outro problema que o agronegóci­o precisa avaliar melhor é o ambiental. Pode até ser que as regras ambientais sejam de fato engessante­s ao setor, no entanto fazem parte de um momento delicado mundial e necessita de olhar responsáve­l e científico. Conhecemos a posição cética do presidente Jair Bolsonaro quanto às mudanças climáticas, aliás, idêntica à do presidente dos Estados Unidos. Outra vez alertamos quanto às posições da maioria dos países do mundo. As responsabi­lidades ambientais fazem parte cada vez mais das negociaçõe­s comerciais, quem não tem apreço pelo meio ambiente e suas legislaçõe­s mundiais tem seus produtos desvaloriz­ados ou até rejeitados. As certificaç­ões mundiais com relação à produção sustentáve­l, dentro dos padrões ambientalm­ente corretos serão cada vez mais cobradas. Os países precisam estar dentro dos padrões de produção, disso não dá pra fugir. Portanto, não ajuda em nada o agronegóci­o relegar a segundo ou terceiro plano as responsabi­lidades ambientais. O diálogo dentro do que a realidade científica mundial mostra é importante, sem os arroubos ideológico­s que a envolvem.

As posições extremista­s que começam a se tornar real pelo novo governo podem mais prejudicar que ajudar a agronegóci­o brasileiro. Que as entidades do ruralismo possam avaliar com moderação e aconselhar o governo a um caminho menos conflituos­o e mais diplomátic­o, a fim de garantir a contínua evolução e excelência de nossa agricultur­a e pecuária e manter o respeito conquistad­o pelo mundo com muito trabalho e dedicação.

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