O agronegócio e um possível tiro no pé
O agronegócio brasileiro é sem dúvida um dos maiores pilares da economia nacional. O desenvolvimento nas últimas décadas foi intenso e positivo. A redução dos preços da alimentação na mesa do brasileiro passa pela disposição e pelo trabalho dos agricultores e pecuaristas, assim como pelo trabalho dos cientistas brasileiros envolvidos nas pesquisas no campo. No último ano as exportações brasileiras pelo agronegócio passaram dos cem bilhões de dólares, o que confirma a excelência de nosso setor produtivo.
Ocorre que toda essa excelência e respeito conquistado pelos nossos produtos agropecuários pelo mundo afora pode sofrer com as decisões políticas do novo governo que está por assumir. Questões como o meio ambiente e relações exteriores deveriam ser preocupantes para todos os que estão envolvidos no agronegócio. Embora saibamos que o setor foi um dos responsáveis pela vitória do presidente Jair Bolsonaro e que continuam apoiando e colaborando em várias áreas, cabe ressaltar as perversas consequências de ações ou omissões políticas em áreas ligadas direta ou indiretamente ao agronegócio.
A mais importante área que diz respeito diretamente aos produtores rurais é a de relações exteriores. Quantidade importante de produtos é exportada para diversos países do mundo, independente de regimes políticos locais ou religiões, o comércio se restringe aos produtos. O comércio com a China é o maior com soja, com a Rússia e países árabes é grande em boi, porco e frango, assim como com diversos produtos em vários países. Portanto a relação comercial do Brasil com o exterior deve ser levada em conta na política externa.
Criar problemas com a China ou a Rússia por motivos ideológicos, ou com países do Oriente Médio pode refletir diretamente nas relações comercias do Brasil, atingindo assim o agronegócio em cheio. O problema que pode surgir com os árabes é a intenção de mudar a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, o que pode ser considerada uma afronta aos palestinos e árabes, pois Jerusalém ainda não possui status definido e reconhecido internacionalmente como capital de Israel.
Outro problema que o agronegócio precisa avaliar melhor é o ambiental. Pode até ser que as regras ambientais sejam de fato engessantes ao setor, no entanto fazem parte de um momento delicado mundial e necessita de olhar responsável e científico. Conhecemos a posição cética do presidente Jair Bolsonaro quanto às mudanças climáticas, aliás, idêntica à do presidente dos Estados Unidos. Outra vez alertamos quanto às posições da maioria dos países do mundo. As responsabilidades ambientais fazem parte cada vez mais das negociações comerciais, quem não tem apreço pelo meio ambiente e suas legislações mundiais tem seus produtos desvalorizados ou até rejeitados. As certificações mundiais com relação à produção sustentável, dentro dos padrões ambientalmente corretos serão cada vez mais cobradas. Os países precisam estar dentro dos padrões de produção, disso não dá pra fugir. Portanto, não ajuda em nada o agronegócio relegar a segundo ou terceiro plano as responsabilidades ambientais. O diálogo dentro do que a realidade científica mundial mostra é importante, sem os arroubos ideológicos que a envolvem.
As posições extremistas que começam a se tornar real pelo novo governo podem mais prejudicar que ajudar a agronegócio brasileiro. Que as entidades do ruralismo possam avaliar com moderação e aconselhar o governo a um caminho menos conflituoso e mais diplomático, a fim de garantir a contínua evolução e excelência de nossa agricultura e pecuária e manter o respeito conquistado pelo mundo com muito trabalho e dedicação.