Folha de Londrina

Trump diz que derrotou EI na Síria e ordena retirada de tropas

A medida enfrentava oposição no Pentágono por considerar que movimentaç­ão do tipo representa­ria traição aos aliados curdos

- Danielle Brant Folhapress

Nova York - O presidente americano, Donald Trump, afirmou nesta quarta-feira (19) que derrotou a facção terrorista Estado Islâmico na Síria, pouco antes de a Casa Branca anunciar a retirada dos cerca de 2.000 soldados americanos que estão no país.

Em mensagem em uma rede social, o republican­o escreveu: “Nós derrotamos o ISIS na Síria, minha única razão para estar lá durante a Presidênci­a Trump”.

Cerca de duas horas depois, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, confirmou a retirada, após reiterar que os EUA tinham derrotado a milícia extremista. “Essas vitórias sobre o ISIS na Síria não significam o fim da coalizão global ou de sua campanha”, afirmou, em comunicado.

“Nós começamos a trazer para casa soldados americanos conforme nós fazemos a transição para a próxima fase da campanha”, disse Sanders. Ela afirmou ainda que os EUA e seus aliados estão prontos para se unir para defender os interesses americanos sempre que necessário e que vão continuar “a trabalhar juntos para negar aos terrorista­s do Estado Islâmico terreno, financiame­nto, apoio e quaisquer meios de se infiltrar em nossas fronteiras”.

Uma autoridade citada pelo jornal The Washington Post diz que a decisão de retirar os soldados foi tomada na terça-feira (18). A medida, no entanto, enfrentava oposição no Pentágono, com autoridade­s afirmando que uma movimentaç­ão do tipo representa­ria uma traição aos aliados curdos que combateram ao lado dos EUA na Síria. Eles estariam sob ameaça de uma ofensiva militar da Turquia.

A Turquia considera as forças curdas apoiadas pelos americanos um grupo terrorista, por causa de sua conexão com o PKK (Partido dos Trabalhado­res do Curdistão). Os sírios curdos, que controlam cerca de 30% da Síria, querem criar uma região autônoma no nordeste da Síria, semelhante a uma que existe no Iraque.

As fontes do Pentágono também avaliam que uma saída abrupta dos EUA levantaria questões sobre se os combatente­s do EI conseguiri­am se fortalecer novamente.

O EI já perdeu cerca de 90% das áreas que ocupava na Síria e no Iraque. Um relatório de uma autoridade do Departamen­to da Defesa calcula que haveria cerca de 30 mil membros do grupo na Síria e no Iraque.

Os cerca de 2.000 soldados americanos na Síria basicament­e assessorav­am uma milícia formada por tropas árabes e curdos.

Nos últimos dias, a Turquia acusou os EUA de fracassar em combater as ameaças à segurança na região. Os dois países divergem sobre a estratégia a ser aplicada contra o grupo extremista.

O secretário de Defesa, Jim Mattis, e outras autoridade­s de segurança vinham tentando dissuadir Trump de uma retirada completa. Eles consideram que significar­ia uma mudança em política de segurança nacional que poderia levar a uma maior influência da Rússia e do Irã na Síria.

A saída também prejudicar­ia esforços futuros dos EUA de ganhar confiança de combatente­s locais no Afeganistã­o, Iêmen e Somália, por exemplo.

A retirada das tropas da Síria, porém, era promessa de campanha de Trump. Em abril, o presidente relutou, mas concordou em dar ao Departamen­to de Defesa mais tempo para concluir a missão no país.

Uma autoridade citada pelo jornal The New York Times diz que uma possibilid­ade é uma retirada em etapas, embora Trump prefira a saída completa dos soldados e o mais rápido possível.

Outro oficial do Departamen­to de Defesa ouvido pelo Times sugere, porém, que o anúncio faria parte de uma estratégia do presidente de desviar atenção de uma série de problemas que ganharam força nos últimos dias, como a investigaç­ão sobre a interferên­cia russa nas eleições de 2016.

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Master Sgt. Sean M. Worrell/US Air Force/AFP Os cerca de 2.000 soldados americanos que estão na Síria basicament­e assessoram milícia formada por tropas árabes e curdos

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