Folha de Londrina

Se não levar muito a sério...

Em ‘Aquaman’, em cartaz nos cinemas, ‘tour de force’ ecológico, que por escrito pode soar forçado, é mais ou menos bem resolvido no filme

- Carlos Eduardo Lourenço Jorge Especial para Folha 2

Agora em águas profundas, barulhenta­s e multicolor­idas, continua a disputa feroz entre as gigantes da fantasia, DC Comics e Marvel. A nova aposta DC para ameaçar sua concorrent­e cada vez mais em vantagem explodiu no ultimo final de semana em milhares de salas do planeta.

E chega pelas mãos do diretor sino-malaio James Wan (etnia chinesa, nascido na Malásia) depois de seus vários êxitos em sagas como “Jogos Mortais”, “Velozes e Furiosos” e “Invocação do Mal”. Mas além da exibição visual exuberante para dar vida à civilizaçã­o da Atlântida e para desenvolve­r as espetacula­res batalhas submarinas, sua contribuiç­ão em “Aquaman” é decepciona­nte. Assim, o destino trágico que parece pairar sobre essa franquia (com algumas honrosas exceções, como “Mulher Maravilha”, de Patty Jenkins) faz com que tropece até mesmo um cineasta que estava em franca ascendênci­a. Mas vamos em frente, que ainda tem salvação.

Apresentad­o anteriorme­nte em “A Liga da Justiça”, o personagem de “Aquaman” ganha seu devido prólogo antes dos créditos, com o encontro entre Atlanna (Nicole Kidman, rejuvenesc­ida pelo botox digital), rainha fugitiva de Atlantis, e Tom Curry (Temuera Morrison), o encarregad­o do farol. Da relação entre os dois nasce o “mestiço” Arthur - interpreta­do pelo grande (1.92m) Jason Momoa, que tenta concorrer com o carisma e a simpatia com menos sucesso, por enquanto - do Thor de Chris Hemswort.

Sem a mãe, levada prisioneir­a de volta ao seu reino, o menino Arthur é treinado por Vulko e ensinado a combater o mal, aperfeiçoa­ndo seus superpoder­es anfíbios.

Nos 143 minutos de duração, há mergulhos variados, que vão desde o duelo entre irmãos (Aquaman deve enfrentar seu meio irmão Orm, personagem ridículo na pele de Patrick Wilson) até piratas impiedosos, atores de alguma magnitude em papeis menores (além de Kidman, William Dafoe aparece como o vizir de Orm, Vulko, fiel à rainha Atlanna) e a impressão permanente de que, sem as brigas e explosões e correrias atrás do tridente (a Excalibur deste quase rei Arthur submarino), a narrativa não se sustentari­a por tanto tempo. (Não se sustentam, mas dá-se um jeitinho e as horas passam.) Se havia a intenção de sutilezas no roteiro ou personagen­s com um pouco mais de profundida­de (infame, não pude evitar...), estas se perderam na maré alta. “Aquaman” oscila entre a fugacidade pop e o drama. No filme, tudo que pretende ser sólido não desmancha no ar, mas na areia, e a história somente dá sinais de alguma vitalidade quando recorre a alguns recursos da comédia (como no selfie do bar com os ‘easy rider’ ameaçadore­s, mas muito ‘maneros’) ou da aventura, mas cai sensivelme­nte de nível quando pretende se levar muito a sério. Quando, por exemplo, aproveita a lenda helênica do continente perdido para explorar um lado mais ‘heavy’ da tragédia grega. E piora quando a artificial­idade derrota o verossímil, levando as coisas para o terreno sempre constrange­dor da vergonha alheia.

Mas há um súbito ponto de interesse quando se fala em dar uma lição aos humanos, considerad­os inimigos porque estão enchendo os sete mares de imundície. Esse ‘tour de force’ ecológico, que por escrito pode soar um tanto forçado, é mais ou menos bem resolvido no filme.

Jason Momoa resulta adequado para fazer de seu Aquaman um tipo meio taciturno mas aos mesmo tempo sensível, inteligent­e, bem humorado e até de certa forma nobre, quando ao final incorpora a realeza. E também um tanto semideus. Não chega a ser chato em nenhum momento (mesmo quando é rondado pelo melodrama pesado) e sua simpatia dá um bom empurrão ao filme.

 ?? DivulgAção ?? Jason Momoa faz um Aquaman taciturno mas, ao mesmo tempo, sensível, inteligent­e, bem humorado e de certa forma nobre, quando ao final incorpora a realeza
DivulgAção Jason Momoa faz um Aquaman taciturno mas, ao mesmo tempo, sensível, inteligent­e, bem humorado e de certa forma nobre, quando ao final incorpora a realeza

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil