Folha de Londrina

Toffoli mantém prisão em segunda instância

Além do ex-presidente, medida poderia beneficiar até 169,5 mil presos condenados em segunda instância pelos mais variados crimes

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O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, derrubou no início da noite dessa quarta-feira (19) decisão monocrátic­a do ministro Marco Aurélio Mello que suspendeu as prisões de condenados em 2a instância. Um dos beneficiad­os com a medida seria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Brasília e Curitiba - Na véspera do início do recesso do Poder Judiciário, o ministro Marco Aurélio Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), concedeu uma liminar que parecia ter aberto caminho para a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a euforia dos petistas durou apenas algumas horas.

No início da noite desta quarta-feira (19), o presidente da corte, Dias Toffoli, suspendeu a decisão do colega e enterrou a possibilid­ade de o petista, preso em Curitiba desde 7 de abril, ganhar a liberdade, ao menos ainda neste ano.

Por volta das 14h, Marco Aurélio, de forma inesperada, suspendeu a prisão de condenados em segunda instância antes do trânsito em julgado - ou seja, quando esgotadas todas as possibilid­ades de recurso. É a situação em que se encontra Lula. O ministro também mandou soltar as pessoas que estão presas nessas circunstân­cias.

Pouco antes das 20h, contudo, Toffoli reverteu a decisão, argumentan­do que o plenário do Supremo já havia decidido anteriorme­nte pela possibilid­ade de prisão em segunda instância e que isso deveria ser respeitado. “A decisão já tomada pela maioria dos membros da corte deve ser prestigiad­a pela presidênci­a . E é por essas razões, ou seja, zeloso quanto à possibilid­ade desta nova medida liminar contrariar decisão soberana já tomada pela maioria do tribunal pleno, que a presidênci­a vem a exercer o poder geral de cautela”, declarou Toffoli.

No início da semana, o presidente da corte marcou para abril do ano que vem sessão do STF para novamente discutir a questão da prisão após segunda instância. Marco Aurélio lamentou o fato de sua liminar ter sido suspensa. “A autofagia é péssima para a instituiçã­o”, disse à reportagem.

A decisão beneficiar­ia Lula e outros presos por corrupção, como o ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo (PSDB) e o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares. No total, até 169,5 mil presos condenados em segunda instância, pelos mais variados crimes, também poderiam ser afetados.

AÇÃO

Marco Aurélio deu sua liminar atendendo a ação movida pelo PC do B. O partido pediu para o STF reconhecer a harmonia entre o artigo 283 do Código de Processo Penal, que só prevê prisão após o trânsito em julgado, e a Constituiç­ão.

O ministro afirmou, para fundamenta­r a decisão, que a constituci­onalidade do artigo 283 não comporta questionam­entos.

“Ao tomar posse neste tribunal, há 28 anos, jurei cumprir a Constituiç­ão Federal, observar as leis do país e não a me curvar a pronunciam­ento que, digase, não tem efeito vinculante. De qualquer forma, estáse no Supremo, última trincheira da cidadania, se é que continua sendo”, escreveu Marco Aurélio.

Apenas os condenados em segunda instância que também tivessem contra si prisões preventiva­s ficariam presos, o que não é o caso do ex-presidente Lula.

Menos de uma hora após a divulgação da decisão de Marco Aurélio, o advogado de Lula, Cristiano Zanin, pediu a soltura do petista à Justiça Federal no Paraná. “Essa decisão é importante porque restabelec­e o que consta do texto constituci­onal”, disse Zanin.

Dezenas de manifestan­tes do PT se concentrar­am junto à sede da PF em Curitiba, aguardando a saída de Lula.

Mas a decisão de efetivar a soltura cabia à juíza Carolina Lebbos, que indicou que não tomaria essa atitude de imediato. Ela pediu a manifestaç­ão do MPF (Ministério Público Federal).

“Embora haja menção ao deferiment­o de liminar, em decisão proferida monocratic­amente, não há indicação de efetiva publicação da decisão no Diário de Justiça Eletrônico. Tal quadro afasta a impressão de efeito vinculante imediato à decisão”, escreveu Lebbos.

CRÍTICAS

A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, recorreu da liminar, que também foi criticada pelos procurador­es da Lava Jato no Paraná.

“A decisão contraria o sentimento da sociedade que exige o fim da impunidade. Ela na verdade consagra a impunidade violando pretendent­es estabeleci­dos pelo próprio STF”, disse Deltan Dallagnol, coordenado­r da força-tarefa da Lava Jato.

Em Brasília, o ex-juiz Sergio Moro, responsáve­l pela condenação de Lula, não quis comentar. “Não vou falar sobre isso”, disse à reportagem o futuro ministro da Justiça de Jair Bolsonaro.

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Rosinei Coutinho/STF Toffoli: “A decisão já tomada pela maioria dos membros da corte deve ser prestigiad­a pela presidênci­a”
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Evaristo Sá/AFP Marco Aurélio Mello: “A autofagia é péssima para a instituiçã­o”

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