Filho esperou 8 anos para doar rim
Como poderia desenvolver a mesma doença do pai, Isaías Ramos só pôde se submeter ao procedimento quando completou 30 anos
Entre janeiro e setembro de 2018 foram realizados 4.342 transplantes de rim no Brasil, dos quais 717 de pessoas vivas e 3.625 de pessoas falecidas. Os números PMP (por milhão de população) no Brasil são de 27,9 e realizadas por 130 equipes em todo o País. Atualmente o Paraná possui 1.332 pacientes na fila de espera por um transplante de rim. No caso de Euclydes Ramos Júnior, 54, ex-funcionário de um shopping de Londrina, essa espera terminou em junho. E o doador foi seu filho, o técnico administrativo do Cismepar (Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paranapanema) Isaías da Silva Ramos, 31.
Euclydes desenvolveu rins policísticos, uma doença genética que forma bolhas de água no rim e em sua volta formam tecidos fibrosos. O rim acaba perdendo a função. “Descobri depois de um acidente. Sofri uma lesão no rim e, ao realizar os exames, descobri que tinha a doença. Como o problema era genético, houve a preocupação com meus filhos (Isaías e Mariana, 28). Imediatamente todos fizeram os exames e foi constatado que eles não tinham a doença, graças a Deus”, destacou Euclydes, casado com Maria Eunisia
Ele explicou que os exames dos filhos Isaías e de foram realizados independentemente da intenção de doação ou não. “Na época o Isaías tinha 23 anos e mesmo ele manifestando a intenção de ser doador, o médico falou que ele teria que esperar completar 30 anos. Isso porque ainda não se sabia se ele poderia desenvolver a mesma doença”, relatou. Euclydes precisou fazer hemodiálise por oito anos, três vezes por semana. “A gente sempre pensa que o coração é o órgão mais importante, mas hoje, depois do que eu passei, vejo como o rim também é importante”, observou.
Como ele foi ficando cada vez mais debilitado, a necessidade de transplante começou a se tornar mais próxima. Euclydes estava com muita restrição alimentar e a hemodiálise, mesmo com os benefícios de filtrar o sangue, traz problemas de filtrar as coisas boas também, afetando o coraçãoeoutrosórgãos.” Quando chegaram os exames para fa- zer o transplante, a minha filha não era compatível. Isaías fez exames de compatibilidade e constatou que era compatível”, relembrou.
“Vi pelos exames que não tinha o mesmo problema que meu pai. Me liberaram para fazer exames de compatibilidade e foram mais de dez até chegar o resultado final, que permitiria que a cirurgia do transplante fosse marcada”, relatou Isaías. Assim que recebeu a notícia de que havia uma data na agenda da Santa Casa para a cirurgia, ele comemorou. “A sensação é maravilhosa. Desde que ele foi diagnosticado, eu já pensava nessa possibilidade de doar. Como tinha essa restrição para eu completar os 30 anos de idade, fiquei preocupado, porque muitas pessoas não aguentam o tratamento por tantos anos como o meu pai aguentou”, destacou.
CONFIANÇA
“Para mim foi uma alegria muito grande ele poder ser doador, de ter se prontificado. Eu nunca toquei no assunto e sou muito grato pela disponibilidade dele. A gente sabe de várias pessoas da minha família que morreram por causa desse problema genético”, destacou Euclydes. “Hoje a gente até brinca que tem um pedaço dele dentro de mim. Ele fala brincando para eu cuidar bem do rim porque é dele”, contou.
Hoje o rim está funcionando perfeitamente. “Foi até uma surpresa para os médicos a minha evolução. Estou tendo uma vida quase normal”, afirmou Euclydes, embora ainda tome remédios e imunossupressores. “Tenho uma vida melhor do que tinha antes”, declarou.
A família quer comemorar a recuperação com uma viagem neste período de festas, já que ele não podia viajar enquanto fazia a hemodiálise. Segundo Isaías, a família vai para São Paulo. “Viajar era um processo muito complicado, que o próprio SUS faz, mas era preciso trocar com alguém que também estivesse fazendo hemodiálise no local de destino da viagem e que estivesse vindo para cá”, explicou o técnico do Cismepar. “Já me perguntaram se faria tudo de novo e eu disse que sim. Só não daria outro rim, porque agora só tenho um, mas doaria um fígado, por exemplo. Eu não tinha medo da cirurgia. Estava confiante que daria tudo certo”, declarou Isaías. “Parece que ele rejuvenesceu 20 anos, o estado de espírito é outro. Foi a coisa mais feliz que nos aconteceu até hoje”, declarou Isaías.
Para mim foi uma alegria muito grande ele poder ser doador, de ter se prontificado” Parece que meu pai rejuvenesceu 20 anos, o estado de espírito é outro”