Por um novo conceito de ensino
Já escrevi outras vezes que a escola, a igreja, a família, são grandes responsáveis pela gestação deste homem trôpego que chega ao terceiro milênio desencontrado consigo mesmo e que nem sabe o porquê de sua existência terrena. No caso específico da escola, espera-se que ela produza um homem novo, liberto, que aprenda a amar a si próprio para poder amar seus semelhantes; que implante os alicerces de uma nova sociedade, em que imperem o respeito, a dignidade e as melhores relações humanas. O mundo não será melhor se não se ensinar a pessoa a ser mais competente, menos competitiva (no sentido predador) e mais solidária. O que somos é resultante do que nos ensinam e do exemplo que nos dão.
Incumbe à escola - e por extensão à família e à igreja ensinar o filho, o discípulo e o fiel a produzir e semear riqueza e não apenas a acumulá-la, mas que a dissemine, para beneficiar a muitos. Se for ensinado ao homem que ele é um agente de desenvolvimento e não um estrategista competidor, tudo o mais ele aprenderá por acréscimo, e tudo o que aprender ele executará bem. Se jogamos tanta responsabilidade sobre a escola, a família e a religião - os três fortes pilares de formação do indivíduo (e acrescente-se aí a ideologia) - é porque elas têm repassado ensinamentos de competição mais predadora e menos participativa, sob o equivocado conceito de que o mundo “lá fora” é perverso e onde vencem o mais forte e o mais esperto, mesmo que em prejuízo de outrem.
Estes os ensinamentos que os escolares vieram recebendo e que tiveram origem na pedagogia regulamentada e não na concepção de um mais civilizado ideal de vida. Uma vez adultos, muitos desses discípulos converteram-se em pais e mestres equivocados, políticos corruptos e corruptores, alguns movidos por ideologias exóticas e destruidoras, e o círculo vicioso continuou. Sim, existem os que lutam para melhorar esse status, à custa de pesadas críticas que recebem dos ditos progressistas.
Outro absurdo é que o ensino secundário não prepara o aluno para o curso superior, pois exige dele um inexplicável vestibular, como aos advogados recém-formados pede-se o exame da Ordem. Então, de que serviu a escola? Se estes são exames selecionadores, são antes um tabefe no rosto dos mestres que os trouxeram até esse patamar. Se há limitação de vagas nas salas de aula, que se construa escolas do tamanho de estádios... Vagas não são mais que espaços físicos e cadeiras. Professor que fala para dez pode falar para mil. Ademais, o ensino a distância eliminou essas limitações espaciais.
Já escrevemos que este milênio não é apenas de saltos gigantes da tecnologia, mas será também de oportunidade para grandes avanços de concepções e também para o abandono de antigos egos e vícios, e um dos piores é o vício em certas crenças. A escola - aí compreendida sua extensão mais avançada, que é a universidade - tem que rever seu modelo, voltandose para o ideal de criar um cidadão vertical, íntegro, consciente, liberto de ideologias destas que propiciam o culto ao ódio contra aqueles qualificados de conservadores, como se tal fosse um insidiosa moléstia. Ao invés do acúmulo de conhecimentos e do excesso de carga informativa, melhor ensinar a autorresponsabilidade, a solidariedade e uma mais expandida conscientização acerca da vida. No lugar da competição demolidora, que prevaleçam a solidariedade e o intercâmbio de conhecimentos, mesmo entre os denominados concorrentes. O mundo já experimentou todas as fórmulas, só ainda não experimentou esta.
Se o vestibular e o exame da Ordem são selecionadores, são antes um tabefe no rosto dos mestres que trouxeram o aluno até este patamar