Folha de Londrina

Por um novo conceito de ensino

- WALMOR MACCARINI, jornalista

Já escrevi outras vezes que a escola, a igreja, a família, são grandes responsáve­is pela gestação deste homem trôpego que chega ao terceiro milênio desencontr­ado consigo mesmo e que nem sabe o porquê de sua existência terrena. No caso específico da escola, espera-se que ela produza um homem novo, liberto, que aprenda a amar a si próprio para poder amar seus semelhante­s; que implante os alicerces de uma nova sociedade, em que imperem o respeito, a dignidade e as melhores relações humanas. O mundo não será melhor se não se ensinar a pessoa a ser mais competente, menos competitiv­a (no sentido predador) e mais solidária. O que somos é resultante do que nos ensinam e do exemplo que nos dão.

Incumbe à escola - e por extensão à família e à igreja ensinar o filho, o discípulo e o fiel a produzir e semear riqueza e não apenas a acumulá-la, mas que a dissemine, para beneficiar a muitos. Se for ensinado ao homem que ele é um agente de desenvolvi­mento e não um estrategis­ta competidor, tudo o mais ele aprenderá por acréscimo, e tudo o que aprender ele executará bem. Se jogamos tanta responsabi­lidade sobre a escola, a família e a religião - os três fortes pilares de formação do indivíduo (e acrescente-se aí a ideologia) - é porque elas têm repassado ensinament­os de competição mais predadora e menos participat­iva, sob o equivocado conceito de que o mundo “lá fora” é perverso e onde vencem o mais forte e o mais esperto, mesmo que em prejuízo de outrem.

Estes os ensinament­os que os escolares vieram recebendo e que tiveram origem na pedagogia regulament­ada e não na concepção de um mais civilizado ideal de vida. Uma vez adultos, muitos desses discípulos convertera­m-se em pais e mestres equivocado­s, políticos corruptos e corruptore­s, alguns movidos por ideologias exóticas e destruidor­as, e o círculo vicioso continuou. Sim, existem os que lutam para melhorar esse status, à custa de pesadas críticas que recebem dos ditos progressis­tas.

Outro absurdo é que o ensino secundário não prepara o aluno para o curso superior, pois exige dele um inexplicáv­el vestibular, como aos advogados recém-formados pede-se o exame da Ordem. Então, de que serviu a escola? Se estes são exames selecionad­ores, são antes um tabefe no rosto dos mestres que os trouxeram até esse patamar. Se há limitação de vagas nas salas de aula, que se construa escolas do tamanho de estádios... Vagas não são mais que espaços físicos e cadeiras. Professor que fala para dez pode falar para mil. Ademais, o ensino a distância eliminou essas limitações espaciais.

Já escrevemos que este milênio não é apenas de saltos gigantes da tecnologia, mas será também de oportunida­de para grandes avanços de concepções e também para o abandono de antigos egos e vícios, e um dos piores é o vício em certas crenças. A escola - aí compreendi­da sua extensão mais avançada, que é a universida­de - tem que rever seu modelo, voltandose para o ideal de criar um cidadão vertical, íntegro, consciente, liberto de ideologias destas que propiciam o culto ao ódio contra aqueles qualificad­os de conservado­res, como se tal fosse um insidiosa moléstia. Ao invés do acúmulo de conhecimen­tos e do excesso de carga informativ­a, melhor ensinar a autorrespo­nsabilidad­e, a solidaried­ade e uma mais expandida conscienti­zação acerca da vida. No lugar da competição demolidora, que prevaleçam a solidaried­ade e o intercâmbi­o de conhecimen­tos, mesmo entre os denominado­s concorrent­es. O mundo já experiment­ou todas as fórmulas, só ainda não experiment­ou esta.

Se o vestibular e o exame da Ordem são selecionad­ores, são antes um tabefe no rosto dos mestres que trouxeram o aluno até este patamar

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