Folha de Londrina

ACUSADO DE TERRORISMO -

Governo de extrema direita aproveita embalo midiático da chegada do terrorista para reforçar imagem de linha-dura

- Lucas Ferraz Folhapress

Depois de 37 anos de fuga, Cesare Battisti desembarco­u em solo italiano na manhã dessa segunda-feira (14). Ele foi capturado no sábado em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, após fugir do Brasil, onde era procurado pela Polícia Federal

Roma, Itália -

Um dia histórico para a república italiana. Foi em tom triunfalis­ta, e com calorosos acenos ao novo governo brasileiro, que a Itália recebeu Cesare Battisti após 38 anos de fuga do terrorista condenado à prisão perpétua pelo homicídio de quatro pessoas no final dos anos 1970.

Para o italiano de 64 anos, a epopeia que se estendeu por países como França, México, Brasil e Bolívia, onde foi preso no final de semana, terminou na manhã desta segunda-feira (14) no aeroporto de Ciampino, em Roma.

No ato final de um dos mais longos e complexos casos da diplomacia italiana, o governo populista de direita, no poder há sete meses, aproveitou o embalo do midiático evento para reforçar a imagem de linha-dura também presente no Brasil de Jair Bolsonaro. Giuseppe Conte, o discreto premiê, foi efusivo nos agradecime­ntos a Bolsonaro no pronunciam­ento que fez horas depois da chegada de Battisti. “A mudança de governo no Brasil foi determinan­te para esse resultado. Eu falei com Bolsonaro e o agradeci muito”, disse.

Matteo Salvini, ministro do Interior e líder da Liga, partido de extrema direita, também conversou com o brasileiro por telefone e o exaltou em entrevista­s e nas redes sociais. Os dois se aproximara­m em setembro, durante a campanha eleitoral, quando começaram a trocar afagos no Twitter e o então candidato declarou apoio à extradição do terrorista - as agendas dos políticos são parecidas em temas como críticas à globalizaç­ão e à imigração e na defesa de mais armamento para a população.

Sobre o governo do autodeclar­ado socialista Evo Morales, que por fim autorizou a expulsão de Battisti e abreviou o seu retorno, também houve agradecime­nto, mas o nome do boliviano nem sequer foi mencionado pelos ministros do governo italiano. “Nosso objetivo foi fazer o voo mais rápido e seguro para a Itália”, acrescento­u Giuseppe Conte, sobre o fato de Battisti não ter passado pelo Brasil, como queria o governo Bolsonaro.

A expulsão também desobrigou a Itália a cumprir os ter- mos do processo de extradição determinad­os pelo Supremo Tribunal Federal. A corte autorizou a extradição do italiano, mas a condiciono­u ao cumpriment­o do ordenament­o jurídico brasileiro -que veta a prisão perpétua e estabelece 30 anos como a pena máxima.

“Ele ficará preso pelo resto dos seus dias”, declarou Salvini. O Ministério da Justiça italiano confirmou que Battisti cumprirá a pena de prisão perpétua. Como escapava da Justiça havia 38 anos, ele não terá direito aos benefícios de regressão da pena - que no seu caso começaria após cumprir dez anos- nem a possíveis acordos de colaboraçã­o premiada, instrument­o que possibilit­ou a sua condenação.

Battisti vai passar os primeiros seis meses em isolamento, também previsto para os condenados à prisão perpétua. Ele foi transferid­o na tarde desta segunda-feira para um presídio em Oristano, na Sardenha, ilha italiana a 45 minutos de voo de Roma.

SERENIDADE

Cesare Battisti desembarco­u na Itália aparentand­o tranquilid­ade e como se não estivesse sendo levado para a prisão. O jornal La Repubblica reproduziu as primeiras palavras de Battisti em solo italiano: “Agora sei que vou para a prisão”.

De acordo com o jornal italiano, Battisti também aparentou serenidade durante o voo, “sem sinais de desespero apesar de esperar pela prisão perpétua”.

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Alberto Pizzoli/AFP
 ?? Alberto Pizzoli/AFP ?? Fugitivo há quase 40 anos, o italiano demonstrou serenidade durante o voo que o levou de volta a Roma; premiê agradeceu a Bolsonaro
Alberto Pizzoli/AFP Fugitivo há quase 40 anos, o italiano demonstrou serenidade durante o voo que o levou de volta a Roma; premiê agradeceu a Bolsonaro
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