Theresa May tenta jogada final para aprovar Brexit
UE já se prepara para adiar o desligamento do sócio britânico ao menos até julho
Paris, França - A primeira-ministra britânica, Theresa May, apresentou nesta segunda (14) sua aposta final para tentar convencer os parlamentares do Reino Unido a aprovar o acordo de saída do país da UE (União Europeia), em votação prevista para terça (15). Mas uma carta com garantias dadas pelos dois líderes da governança europeia não deverá bastar para convencer os legisladores a endossar o documento concluído por Londres e Bruxelas em novembro passado, depois de quase 20 meses de negociações.
Tanto é que, segundo o jornal “The Guardian”, a UE já se prepara para adiar o desligamento do sócio britânico ao menos até julho deste ano - mais de três meses depois da data originalmente prevista, 29 de março. Isso porque, se e quando o acordo tiver o sinal verde do Parlamento o que não deve ocorrer nesta terça-, ainda será preciso aprovar em plenário leis específicas referentes a comércio, pesca, assistência médica, imigração e serviços financeiros para reger o pós-Brexit.
Na segunda, May acenou para essa possibilidade ao não rechaçar peremptoriamente, como vinha fazendo até aqui, um cenário em que Londres pediria à UE mais tempo para preparar o “divórcio”. Durante dis2021), curso em um reduto próBrexit do centro da Inglaterra, ela reconheceu que não tinha obtido dos europeus a garantia de que o mecanismo conhecido como “backstop” (união aduaneira temporária entre Reino Unido e Europa para evitar o restabelecimento de controles alfandegários na fronteira entre as Irlandas) teria
data certa para caducar.
Pelo acordo atual, a zona tarifária comum entrará em vigor caso, até a conclusão
do período de transição pósBrexit (dezembro de 2020), as partes não tiverem fechado questão sobre um novo acordo de livre-comércio que evite a “fronteira dura”. A medida preocupa os partidários da saída britânica, que a consideram um estratagema da UE para manter sua ascendência sobre Londres após a saída do Reino Unido do consórcio europeu.
May teria buscado restringir a validade do “backstop” a um ano (até o fim de mas Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, e Donald Tusk, chefe do Conselho Europeu (que reúne chefes de Estado e governo), não concordaram. O que a carta assinada pelos dois contém é o compromisso de abrir as conversas sobre o futuro acordo de livre-comércio assim que o Parlamento britânico ratificar o documento que trata da separação, e não apenas a partir de 29 de março.
Também está ali a promessa de implantar pontos desse hipotético tratado comercial antes mesmo de sua aprovação por todos os 27 Estados-membros da UE - o que, para May, diminuiria a probabilidade de o “backstop” ser acionado. Mas nada na comunicação muda substancialmente o que está previsto no acordo que vai a voto nesta terça e é criticado tanto pela oposição quanto por dezenas de correligionários de May no Partido Conservador.
A primeira-ministra precisa de 318 votos de apoio, de um total de 635, para emplacar o documento. Mesmo que não existissem “traições” nas fileiras conservadoras, como é certo que haverá aos montes, ela ainda necessitaria da sustentação do Partido Democrático Unionista, da Irlanda do Norte, que tem ojeriza ao “backstop”, por medo da região ser “abandonada” por Londres nas mãos da UE.
May teria buscado restringir a validade do “backstop” a um ano