Folha de Londrina

Parlamento britânico rejeita acordo do Brexit

Resultado é derrota histórica para a primeira-ministra Theresa May; não está claro qual será a próxima etapa do “divórcio”

- Lucas Neves Folhapress

Paris, França - Na maior derrota da história para um governo do Reino Unido, o Parlamento do país rechaçou nesta terça-feira (15) o acordo sobre a saída britânica da UE (União Europeia). Votaram contra 432 legislador­es. Só 202 endossaram o texto. A primeirami­nistra Theresa May, portanto, perdeu por uma diferença de 230 votos. Até aqui, o revés mais expressivo sofrido por um premiê havia sido por uma margem de 166 votos - o trabalhist­a Ramsay MacDonald (18661937) detinha esse recorde incômodo, registrado em 1924.

O documento, que consumiu 17 meses de negociaçõe­s entre Londres e Bruxelas (sede da governança europeia), fixa a separação para 29 de março deste ano. O Reino Unido está na UE desde janeiro de 1973. Não está claro qual será a próxima etapa do “divórcio” e nem se May resistirá a mais esse baque - em dezembro, ela se viu forçada a adiar a votação do documento na véspera da data prevista diante do prognóstic­o de uma derrota.

A conservado­ra prometeu voltar rapidament­e ao Legislativ­o com um “plano B” se o texto original não fosse aprovado. Na semana passada, o plenário deu a ela três sessões parlamenta­res para submeter um roteiro alternativ­o.

Agora que o acordo foi rejeitado, as conjectura­s mais radicais imaginam May perdendo o cargo e a convocação de eleições gerais. Um novo plebiscito também é uma possibilid­ade.

Nas previsões mais brandas, a chefe de governo buscaria mais concessões dos líderes europeus antes de submeter novamente o documento ao Legislativ­o de seu país. No processo, o Brexit, hoje agendado para 29 de março, poderia ser adiado por alguns meses.

O principal ponto de desacordo é o mecanismo previsto para evitar o restabelec­imento de uma “fronteira dura” entre as Irlandas, conhecido como “backstop”. O dispositiv­o visa evitar controles de mercadoria­s e pessoas que poderiam reacender, na Irlanda do Norte, a tensão entre o movimento unionista (pró-permanênci­a no Reino Unido) e grupos nacionalis­tas, que desejam a integração das duas Irlandas. Um conflito de 30 anos entre eles foi apaziguado em 1998, com a assinatura de um acordo de paz que abriu a fronteira entre o Norte e a República. Mas a alteridade ainda é bastante presente no cotidiano da província britânica.

Os britânicos escolheram sair do bloco europeu em um plebiscito realizado em junho de 2016. O primeiromi­nistro à época, David Cameron, convocou a consulta certo de que o “remain” (permanecer) venceria. Foi pego de calça curta pelo 52% a 48% a favor do “divórcio”; o “leave” (sair) teve adesão expressiva nas áreas rurais e mais pobres do país. Renunciou e foi substituíd­o pela correligio­nária Theresa May, até ali sua ministra do Interior.

Britânicos escolheram sair do bloco europeu em um plebiscito realizado em junho de 2016

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PRU/AFP Agora que o acordo foi rejeitado, as conjectura­s mais radicais imaginam May perdendo o cargo e a convocação de eleições gerais

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