Folha de Londrina

Um anjo da guarda de quatro patas

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Dia desses fomos conversar com o amigo Bernardo Pires Küster numa choperia e a Rô levou o Cisco. (Como vocês sete já sabem, Cisco é o vira-lata aqui de casa, que a Rô resgatou da rua há dez anos.) Quando fui ao banheiro, situado no final de uma escada íngreme, percebi que não estava sozinho: o Cisco me acompanhav­a. Meu cãozinho não apenas subiu a escada como também ficou me esperando sentado na porta do WC. Depois Cisco voltou comigo à mesa, com ar de missão cumprida. Ele se considera o meu anjo da guarda!

Depois daquele episódio na choperia, li a história de outro cão resgatado. No ano de 1953, alguém abandonou um filhote de pastor alemão na frente da Academia do Barro Branco, em São Paulo, onde se formavam os integrante­s da Polícia Militar (na época, chamada Força Pública). Acolhido e treinado pelos adestrador­es da polícia, o cãozinho recebeu o nome de Dick e se tornou companheir­o inseparáve­l do soldado José Muniz de Souza.

Quando Dick já era um campeão de buscas realizadas pela PM, o folclórico Jânio Quadros ganhou a eleição para governador de São Paulo. No poder, Jânio começou a expedir os seus famosos “bilhetinho­s”, que às vezes continham ordens, digamos assim, pouco ortodoxas. Em um dia de mau humor, o governador mandou um bilhetinho para o comandante da PM, no qual dizia: “Faça os cães trabalhare­m, ou dissolva a matilha”. Seria o fim do canil da polícia?

Naquela mesma semana, um menino chamado Eduardo Jaime Benevides foi sequestrad­o na porta de casa. O sequestro causou enorme comoção entre os paulistano­s e ganhou as manchetes de todos os jornais. A Força Pública mobilizou centenas de homens à procura de “Eduardinho”. Jânio determinou que não fossem poupados esforços para o resgate do menino. Após três dias de buscas infrutífer­as, Jânio enviou outro bilhete ao comandante da polícia: “Desejo saber detalhes sobre o desapareci­mento do menino. Vou recomendar a promoção dos que desvendare­m o mistério”.

O soldado José Muniz de Souza levou um travesseir­o de Eduardinho para que Dick o cheirasse. Quando passavam pela frente de uma mata, na região onde hoje fica o Jardim Zoológico de São Paulo, Dick parou e começou a latir. O pastor alemão entrou na mata, seguido pelo policial. Depois de alguns minutos, José Muniz escutou o choro fraco de um menino: Eduardinho foi encontrado por Dick dentro de um buraco de um metro e meio de profundida­de, tampado com folhas de zinco. “Eu pedi pra Deus mandar um anjo me salvar”, contaria o menino depois, aos repórteres.

Jânio Quadros cumpriu sua promessa: o soldado José Muniz de Souza e o herói Dick foram promovidos a cabo. Hoje, diante do Canil da PM, há um busto do cão herói, com os seguintes dizeres: “Ao Cabo Dick, campeão das buscas policiais. A todos os cães, exemplo de fidelidade, coragem e afeição”.

Não sei se vocês sete sabem, mas a patente do Arcanjo Gabriel, que venceu a rebelião de Lúcifer, era equivalent­e a cabo. Quem sabe um dia você também seja promovido, Cisco.

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