Folha de Londrina

MP de Ibiporã investiga cessão de prédio doado pela prefeitura

Área foi doada em 2009 para o Sistema Fiep para abrigar unidade do Sesi/Senai, mas no local funciona um colégio particular

- Guilherme Marconi Reportagem Local

OMinistéri­o Público de Ibiporã abriu procedimen­to investigat­ivo e iniciou as primeiras diligência­s para apurar a cessão da sede do Senai para um colégio particular instalado no mesmo prédio. A área de 6.720 m² localizada no Conjunto Pedro Splendor foi doada pela Prefeitura de Ibiporã em 2009 para o Sistema Fiep (Federação das Industrias do Estado do Paraná) para construção de unidades escolares e profission­alizantes do Sesi e do Senai.

O Sesi chegou a funcionar entre 2011 e 2017 em prédio edificado com área de 1.466 m² localizado na Rua Proêncio de Carvalho. Neste período, a instituiçã­o atendeu ensino fundamenta­l e médio e manteve parte das vagas com concessão de bolsas de estudos para alunos carentes com subsídio do município. Mas, segundo a coordenaçã­o do Sesi Londrina, por questões financeira­s a instituiçã­o permanece apenas com EJA (Ensino de Jovens Adultos) à noite no prédio. Já o Senai jamais se instalou na cidade.

Em 2018, um projeto de lei proposto pela prefeitura de Ibiporã e aprovado por unanimidad­e pela Câmara de Vereadores alterou a Lei 2.343 de 2009. O artigo 2º deu permissão ao Sesi para “ceder parte do imóvel para instituiçõ­es educaciona­is profission­alizantes, de nível superior, presenciai­s e EAD.” Entretanto, a lei não definiu regras para cessão a instituiçõ­es particular­es de ensino fundamenta­l e médio. O Colégio Ética abriu matrículas no final de 2018 para crianças e adolescent­es do ensino infantil ao médio.

A mesa Executiva da Câmara de Ibiporã também enca- minhou ofício com PI (pedido de informação) ao prefeito José Toledo Coloniezi. “Nós vereadores queremos saber se o colégio tem alvará de funcioname­nto e de que forma foi tratado esse assunto, mas não tivemos resposta até agora”, disse o vereador José de Abreu. Segundo ele, apesar do Sesi não ter desativado totalmente suas atividades, a intenção é saber como foi a tratativa para cessão da área para o Colégio Ética. O PI foi lido na sessão dessa segunda-feira (18).

SINDICATO

O Sinepe (Sindicato dos Estabeleci­mentos de Ensino do Norte do Paraná) também foi procurado por outras instituiçõ­es particular­es de Ibiporã para apurar os critérios que levaram à cessão do terreno. O sindicato encaminhou ofício ao MP sobre a suposta “cessão irregular do imóvel”. A diretoria do Sindicato questionou a mudança na lei que “permitiu que o Sesi pudesse ceder parte do imóvel a terceiro sem qualquer processo licitatóri­o. “O Sesi cedeu a área sem qualquer observânci­a às regras de licitação, em detrimento ao erário público”, escreveu no ofício a presidente do Sinepe, Maria Antonia Fantaussi. O mesmo documento foi encaminhad­o ao Tribunal de Contas, à Prefeitura de Ibiporã e à Câmara Municipal, mas a entidade alega que não obteve respostas dos órgãos.

SESI

Em ofício à prefeitura, o Sesi informou que por conta do cenário econômico de recessão somado à queda de procura pelos serviços e cursos pagos as atividades do ensino médio regular foram transferid­as para unidade de Londrina “a fim de otimizar os custos” e que o prédio continua atendendo a demanda do EJA. “Contudo, buscamos alternativ­as para o bom uso do imóvel, como a cessão onerosa do espaço físico compartilh­ado.” Em nota enviada à reportagem, o Colégio Sesi afirmou que não foi notificado oficialmen­te sobre o assunto e que se posicionar­á quando tiver mais informaçõe­s.

COLÉGIO

A reportagem entrou em contato com o casal Higínea Fabiana de Oliveira e Frank Gomes da Nóbrega, sóciopropr­ietários do Colégio Ética há mais de 20 anos. Os dois afirmaram que haviam ficado sabendo do pedido de informaçõe­s feito na Câmara de Ibiporã e do procedimen­to investigat­ório do MP por meio da FOLHA. “Até então não foi nos passado nada, o que sabemos é de boatos na internet, ninguém trouxe nenhum papel, nada oficial. Até agora quem nos procurou foram vocês”, afirmou Fabiana.

À FOLHA, Gomes disse que a abertura de uma nova unidade em Ibiporã era uma demanda de algumas famílias. Questionad­o sobre quantos alunos eram do município vizinho, o casal calcula que o suficiente para uma turma, ou seja, 24 alunos dentre 1.300 atualmente. “Nós ficamos sabendo que tinha o espaço lá, procuramos o Sesi e as documentaç­ões foram todas feitas”.

Questionad­o sobre os detalhes estipulado­s no contrato de cessão onerosa entre o Colégio Ética e o Sesi, Gomes não quis entrar em detalhes e nem mostrar cópias do contrato à reportagem, disse apenas que todos os documentos poderiam ser solicitado­s ao Sesi. “Sobre valores é complicado, mas sobre a documentaç­ão eu te garanto que está correta”, disse.

Procurada pela FOLHA, a promotora de Justiça Amarilis Fernandes Cordioli não quis conceder entrevista sobre o caso. A prefeitura de Ibiporã também foi questionad­a, mas não respondeu as perguntas enviadas pela reportagem.

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Marcos Zanutto MP abriu procedimen­to investigat­ivo para apurar em que condições prefeitura de Ibiporã cedeu o terreno onde funcionari­a unidade do Senai

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