Folha de Londrina

Lei no Havaí pode elevar para cem anos idade mínima para comprar cigarro

- Danielle Brant Folhapress

Nova York - Uma lei apresentad­a no Havaí pode virtualmen­te banir a venda de cigarros no Estado a partir de 2024, ao estabelece­r uma idade mínima de cem anos para quem quiser comprar o produto. A medida foi elogiada por especialis­tas em saúde, mas deve encontrar ferrenha oposição da indústria tabagista.

A legislação foi apresentad­a pelos democratas Richard Creagan, John Mizuno e Cynthia Thielen, membros da Câmara baixa da legislatur­a havaiana. Um deles, Creagan, além de político, trabalha como médico em uma emergência no Havaí.

Em entrevista ao “Hawaii Tribune-Herald”, Creagan afirmou que há um grupo de pessoas “pesadament­e viciadas - na minha opinião, escravizad­as por uma indústria ridiculame­nte ruim, que as escravizou ao desenhar um cigarro que é altamente viciante, sabendo que é altamente letal. E é.”

A proposta, espera, servirá para dar um fim aos malefícios provocados pelo cigarro. Os legislador­es abrem o texto afirmando que o produto é considerad­o o “artefato mais mortal da história humana” e que, no Havaí, causou mais doenças prevenívei­s, mortes e incapacida­des do que qualquer outro problema de saúde.

O Estado foi o primeiro nos EUA a fixar a idade mínima de 21 anos para comprar cigarros, em 2017. Agora, a intenção é subir ainda mais a régua. “A legislatur­a acredita que banir as vendas de cigarro deveria ser visto como um esforço de boa fé para libertar fumantes da escravidão desse vício poderoso, e não uma violação de liberdades individuai­s.”

Para isso, propõe escalar, ao longo de cinco anos, o aumento da idade mínima exigida para comprar cigarro no Estado. A partir de janeiro de 2020, seria proibido vender o produto a menores de 30 anos. Em 2021, a exigência iria para 40 anos. No ano seguinte, alcançaria 50 anos, e bateria 60 anos em 2023. No último ano, 2024, só quem tivesse cem anos ou mais poderia comprar cigarro. Segundo estudo realizado pela revista “Journal of the American Medical Associatio­n”, a expectativ­a média de vida no Estado em 2016 era de 81 anos.

Nos Estados Unidos, as leis federais definem 18 anos como a idade mínima para comprar cigarro, mas os governos estaduais têm prerrogati­va de aumentar esse piso. A maioria fixa 18 anos. Em alguns, como no Alabama, o patamar é de 19, e em outros, como o Havaí e Massachuse­tts, de 21 anos.

As restrições seriam aplicáveis apenas a produtos tradiciona­is, deixando de fora cigarros eletrônico­s e outros derivados do tabaco. A regra reconhece o impacto que a medida poderia ter sobre as receitas obtidas pelo Estado com a taxação da venda de cigarro, estimadas em US$ 100 milhões (cerca de R$ 370 milhões) por ano.

“Portanto, enquanto seria ideal e poderia salvar mais vidas proibir a venda de cigarros a todas as idades imediatame­nte, a legislatur­a acredita que uma proibição mais gradual, focada inicialmen­te em grupos de idade mais jovens que provavelme­nte se beneficiar­iam mais de uma proibição das vendas de cigarro, vai permitir que o Estado seja afastado desse vício e encontrar fontes para substituir esses recursos.”

A medida está em apreciação na Câmara baixa havaiana. Caso seja aprovada, vai para o Senado. Depois, teria que ser sancionada pelo governador, o democrata David Ige.

Para Jidong Huang, professor associado do departamen­to de políticas de saúde e ciências comportame­ntais da universida­de estadual da Geórgia, a medida é bem vinda. “Há pesquisas que mostram que 90% dos fumantes começam a fumar antes dos 18 anos. Se pudermos impedir que as pessoas fumem antes dos 18 ou 21 anos, a maioria não vai começar depois disso. É provável que elas não fumem pelo resto da vida”, diz.

O especialis­ta acredita que, ao escalar a idade para comprar cigarro, o Estado pode ter uma geração livre do consumo do produto. Além da proibição, Huang sugere que seria necessário adotar políticas para educar sobre os riscos do tabagismo e implementa­r programas de apoio a quem quer largar o vício.

O especialis­ta, no entanto, não espera que a proibição entre em vigor sem qualquer tipo de contra-ataque das produtoras de cigarro. “A indústria do tabaco é muito poderosa, e há um histórico que mostra que elas vão se opor a qualquer política de controle de tabaco”, reconhece. “Há uma luta com eles toda vez que um governo ou cidade quer aumentar os impostos. Eles vão fazer o que puderem, usar lobby, dar dinheiro a políticos, entrar c o m ações judiciais.” Huang acha provável que, se a proposta for aprovada, as empresas decidam processar o governo do Havaí em tribunais federais.

Já Stephanie Morain, professora assistente do centro para ética médica e políticas de saúde do Baylor College of Medicine, questiona como o cumpriment­o da proibição seria fiscalizad­o. “Poderia ser criado um mercado negro. Além disso, seria preciso ver como ajudar as lojas que vendem cigarro a repor essa receita. Pode convencer os comerciant­es a não vender os produtos? Porque pode ser uma parte importante de sua receita”, diz. “Muitos governos dependem de financiame­nto da indústria do tabaco. Acho que não deveríamos ter esse tipo de relação com um produto tão nocivo, mas é preciso medir o impacto nos negócios e na economia.”

Morain afirma também que a indústria do cigarro, nos últimos anos, já tem se antecipado às mudanças e apostado mais nos cigarros eletrônico­s. “Não sabemos os riscos do cigarro eletrônico, mas não queremos que as pessoas comecem a usálo”, complement­a.

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Shuttersto­ck Elogiada por especialis­tas em saúde, medida deve encontrar ferrenha oposição da indústria tabagista

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