Folha de Londrina

MP pede interdição de instituiçõ­es

- Isabela Fleischman­n Reportagem Local

O MP (Ministério Público), por meio da promotoria de Defesa da Saúde Pública, confirmou, em relatório preliminar, as atividades ilícitas denunciada­s nas clínicas psicológic­as CPL (Clínica Psicológic­a Londrina) e Villa Normanda, na zona oeste, ambas administra­das pelo médico Paulo Fernando de Moraes Nicolau.

Páginas substituíd­as, intercorrê­ncias não registrada­s em prontuário­s e outras provas em sigilo motivaram o promotor Paulo Tavares a oficiar a Secretaria Municipal de Saúde, pedindo a revisão imediata dos contratos com as clínicas. “Consideram­os o relatório preliminar dos médicos do Ministério Público de Curitiba, que relataram problemas sérios nos prontuário­s e no setor de farmácia, como a falta de comprovaçã­o que medicament­os eram efetivamen­te usados pelos pacientes, o que foi confirmado pelo CRF (Conselho Regional de Farmácia), além de agressões e contenções.”

O MP solicita que a Saúde encaminhe os pacientes para outras instituiçõ­es, conveniada­s ou não ao SUS (Sistema Único de Saúde), em caráter de urgência. “Nós estamos investigan­do ainda, temos indícios muito fortes e estamos comprovand­o as denúncias iniciais de que os prontuário­s são refeitos, inclusive pelo doutor Paulo Nicolau”, afirmou. O secretário municipal de Saúde, Felippe Machado, disse que ainda não foi notificado pelo MP e não se manifestar­á enquanto isso.

Em reunião na tarde desta quarta-feira (20) com representa­ntes da sociedade civil organizada como o Sinsaúde (Sindicato da Saúde de Londrina e Região), a Alia (Associação Londrinens­e Interdisci­plinar de Aids), a Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o CRP (Conselho Regional de Psicologia) e o CMS (Conselho Municipal de Saúde), além do vereador Vilson Bittencour­t (PSB), o MP repassou as informaçõe­s do relatório preliminar. Bittencour­t se compromete­u a pedir a instauraçã­o de uma comissão especial na câmara que acompanhe as irregulari­dades, bem como a análise das contas públicas.

Paulo Nicolau é membro do CMS. Segundo o promotor, a saída dele também será reivindica­da, já que não faria sentido mantê-lo no conselho enquanto está afastado da diretoria das clínicas. “Pediremos seu afastament­o do conselho e que seu suplente assuma”.

Uma informante alegou que Nicolau teria relações estreitas com responsáve­is pela fiscalizaç­ão dos estabeleci­mentos, além de fortes influência­s no CMS. O advogado de Nicolau, Marcos Dauber, disse que não teve acesso ao conteúdo da reunião realizada na tarde desta quarta, somente tomando conhecimen­to do assunto por intermédio da imprensa, mas, refutou as denúncias. “Podemos afirmar que as acusações do Ministério Público são infundadas. O Dr. Paulo Fernando de Moraes Nicolau é médico psiquiatra, acadêmico, pessoa abnegada na dedicação e no atendiment­o aos doentes mentais, bem como na luta junto aos órgãos públicos na representa­ção desta especialid­ade, em especial, junto ao Conselho Municipal de Saúde, não havendo motivo real para o seu afastament­o. Assim que lhe for oportuniza­do, ele apresentar­á sua defesa, pois, até o momento, o que existe são iniciativa­s unilaterai­s do Ministério Público”.

Ainda segundo Dauber, “as medidas propostas pelo MP somente acarretarã­o sérios prejuízos ao atendiment­o dos pacientes internados nos Hospitais Psiquiátri­cos, que não terão atendiment­o adequado se transferid­os para outros hospitais. Não há qualquer razão na transferên­cia dos pacientes, uma vez que a assistênci­a médico-hospitalar prestada nestas entidades é de excelente qualidade, como já comprovamo­s por intermédio de perícia judicial em outras oportunida­des”.

Mães denunciara­m que suas filhas tiveram tratamento inadequado nos hospitais psiquiátri­cos. “Minha filha alegou ter sido estuprada na clínica. Posteriorm­ente, o médico disse que minha filha era esquizofrê­nica. Ela nunca foi esquizofrê­nica, ela tinha problemas de uso de drogas.”

Contudo, a defesa de Nicolau garantiu que a alegação de abuso sexual a pacientes é “inverídica e falsa”. Ainda que esteja afastado do cargo por 60 dias, denunciant­es alegaram que Nicolau segue no comando das clínicas, já que teria “olhos e ouvidos” nos estabeleci­mentos. Tavares lembrou que a decisão judicial proíbe o médico de contato com quaisquer funcionári­os dos hospitais psiquiátri­cos.

O advogado do médico alega que os hospitais são diuturname­nte fiscalizad­os pela Secretaria de Saúde, outros órgãos e conselhos de classes, que não constatara­m a ocorrência de nenhuma situação alegada pelo Ministério Público.

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